Estamos vivendo o Terceiro Segredo!




Visto que ainda não se revelou oficialmente o Terceiro Segredo de Fátima, parece evidente que não se possa conhecer o seu conteúdo. Entretanto, essa é tão-somente uma primeira impressão. Porque se é verdade que esse importantíssimo segredo permanecia absolutamente imperscrutável em 1917, quando foi revelado pela Santíssima Virgem aos três pastorinhos de Aljustrel, ou em 1944, quando foi redigido por Irmã Lúcia, ou ainda em 1960, quando deveria ter sido publicamente revelado ao mundo por João XXIII, já não é assim hoje. Com efeito, ao longo de mais de quarenta anos, muitos fatos a respeito do Terceiro Segredo tornaram-se conhecidos. Eles formam um imenso volume de informações seguras com que o historiador pode traçar toda a sua história e revelar a essência do seu conteúdo. Tal foi meu intento ao escrever o terceiro volume da obra Tout la vérité sur Fatima (Toda a verdade sobre Fátima), que se concentra no mistério do Terceiro Segredo.  

Apresentarei a vocês uma demonstração minuciosa nesta tarde, embora o faça de forma simplificada e resumida, pois a conferência não pode ser longa. Espero, contudo, que aquilo que direi será suficiente para lhes mostrar quão importante é este último segredo de Nossa Senhora, como está colocado no coração da mensagem de Fátima e, por fim, qual o motivo da urgência de ser revelado ao mundo o quanto antes, para o bem da Igreja, como Nossa Senhora ordenou.


I. O drama do Terceiro Segredo
Foi em julho/agosto de 1941, em sua terceira memória, que Irmã Lúcia mencionou pela primeira vez a divisão do Segredo de Fátima em três partes. “(...) o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais vou revelar,” escreve ela. A primeira parte revela a visão do inferno e a designação do Imaculado Coração de Maria como derradeiro recurso oferecido por Deus à humanidade para a salvação das almas: “(...) para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção a Meu Imaculado Coração.” A segunda parte revela a profecia de uma milagrosa paz que Deus deseja dar ao mundo através da consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, e a prática da comunhão reparadora nos primeiros sábados do mês. “Se atenderem a meus pedidos, a Rússia se converterá e terão paz (...)”. Há também o anúncio de terríveis punições se as pessoas persistirem em não obedecer aos pedidos. Quanto à terceira parte do Segredo, em 1941, Irmã Lúcia declarou que ainda não tinha permissão de revelá-la.
  
O registro e a transmissão do Segredo
O relato dramático do registro e da transmissão dessa importante mensagem começa em 1943. Nessa época, Irmã Lúcia vivia no Convento das Irmãs Dorotéias, em Tuy, Espanha. Em junho de 1943 ela de súbito cai gravemente doente. Este fato alarmou muito o Bispo de Leiria, Dom José Correia da Silva. Ele temia que Irmã Lúcia morresse antes de revelar o Terceiro Segredo e acreditava que a morte dela privaria a Igreja de uma grande graça. O Cônego Galamba, amigo e conselheiro do bispo, sugeriu-lhe então uma ideia audaz: que pedisse à Irmã Lúcia para escrever sem demora o texto do Terceiro Segredo e em seguida colocasse-o num envelope selado, para que fosse aberto posteriormente.
Atendendo ao pedido, no dia 15 de setembro de 1943, D. José Correia da Silva foi a Tuy pedir a Irmã Lúcia para escrever o segredo, “se ela quisesse”. A vidente, porém, sem dúvida inspirada pelo Espírito Santo, não se contentou com essa vaga determinação. Exigiu do bispo uma ordem formal escrita — este fato é muito importante. A mensagem final de Nossa Senhora está, bem como seus primeiros pedidos, relacionada a promessas extraordinárias. É uma graça inaudita que Deus oferece ao século XX, com o intuito de curar seus problemas urgentes. Mas é preciso que os pastores da Igreja tenham a fé e a docilidade necessárias para com os desígnios de Deus, para que sejam instrumentos dessa efusão de graça que Deus deseja deitar sobre o mundo através da terna mediação de Sua Mãe Imaculada. Em 1943, fez-se a vontade de Deus: o Bispo de Leiria ordena à vidente a redação do Terceiro Segredo.

Em outubro daquele ano, D. José Correia da Silva atendeu ao pedido do Cônego Galamba. Escreveu à Irmã Lúcia, ordenando-lhe formalmente que registrasse o segredo. Porém novas dificuldades surgiriam. Na época, Lúcia foi acometida, ao longo de quase três meses, por uma misteriosa e terrível angústia. Ela relatou que toda vez que se punha a escrever o segredo, não conseguia fazê-lo. Vê-se aqui, sem dúvidas, a última investida de satanás contra a mensageira de Maria Imaculada. O demônio previa o prejuízo que o registro do Terceiro Segredo causaria ao seu domínio sobre as almas e ao seu plano de penetrar o coração da Igreja, e essa provação enfrentada pela vidente nos revela a magnitude do ato de registrar o segredo. Na noite de Natal, Irmã Lúcia confidenciou a seu diretor espiritual que ainda não havia conseguido cumprir a ordem do bispo.

Finalmente, em 2 de janeiro de 1944 a Santíssima Virgem apareceu uma vez mais à Irmã Lúcia. Ela confirmou à vidente que era da vontade de Deus que o segredo fosse redigido e deu-lhe a luz e a força necessárias para conseguir cumprir o que lhe fora determinado.

O imenso cuidado que Irmã Lúcia então tomou para transmitir com total segurança o texto a seu depositário, D. José Correia da Silva, é mais uma prova de como considerava importante esse documento. Ela não desejava transmiti-lo a ninguém senão  ao bispo. Foi D. Manuel Ferreira, Arcebispo de Gurza, que recebeu das mãos de Irmã Lúcia o envelope selado contendo a preciosa carta. Ele a entregou na mesma noite a D. José Correia da Silva.
Envelope com o Terceiro Segredo (note as margens do envelope)

Conteúdo Verídico (carta de 25 linhas com margens)

A respeito da transmissão do Segredo à hierarquia eclesiástica, é preciso sublinhar quatro fatos importantes:
1. O primeiro a receber o Segredo foi D. José Correia da Silva e ele o poderia ter lido de imediato. Contudo, atemorizado com a responsabilidade que assumiria, não ousou abri-lo, preferiu não o conhecer. Concordou-se então que se D. José morresse, o envelope seria confiado ao Cardeal Cerejeira, Patriarca de Lisboa. É portanto falsa a tese — muito repetida desde 1960 — de que o Terceiro Segredo estivesse destinado explicita e exclusivamente ao Santo Padre.
2. Entretanto é verdade — e forneço inúmeras provas em meu livro — que Irmã Lúcia desejava que Pio XII conhecesse o segredo sem demora. Infelizmente, isso não aconteceu.
3. Sabendo que D. José Correia da Silva se recusara a abrir a carta, Irmã Lúcia “fê-lo prometer, nas palavras do Cônego Galamba, que esta seria definitivamente aberta e lida ao mundo ou por altura da sua morte, ou em 1960, conforme o que sucedesse primeiro.” A grande quantidade de testemunhas que relataram essa afirmação nos permite julgar tal fato como absolutamente verídico.
4. Por fim, a promessa de revelar o Segredo logo após a morte de Irmã Lúcia ou “em 1960”, sem dúvida corresponde ao pedido da Própria Santíssima Virgem. Quando em 1946 o Cônego Barthas perguntou à vidente por que seria necessário esperar até 1960, Irmã Lúcia respondeu-lhe na presença de D. José Correia da Silva: “Porque a Santíssima Virgem assim o quer.”
Em resumo, como demonstrei de forma consistente em meu livro, podemos provar com segurança que Deus desejava que os pastores da Igreja acreditassem no último Segredo de Nossa Senhora e que este fosse tornado público aos fiéis. Isto devia ter sido feito ao menos em 1944 ou no máximo em 1960, pois, como Irmã Lúcia mais tarde explicaria, “seria então muito mais claro”.


666 na assinatura de Paulo VI

O Terceiro Segredo é transferido a Roma
Não poderei demorar-me aqui num episódio ainda misterioso na história do Terceiro Segredo: em 1957, o Santo Ofício pediu o texto e manteve-o no palácio do Bispo de Leiria. Quem tomou esta iniciativa? Com que intenção? Uma análise detalhada dos fatos permitiu-me formular uma hipótese plausível, mas que não posso ainda afirmar com certeza.
Em março de 1957, D. José Correia da Silva confiou a D. João Venâncio, Bispo auxiliar de Lisboa, a responsabilidade de entregar o precioso documento a Mons. Cento, então Núncio Apostólico de Lisboa. D. João Venâncio implorou uma vez mais a D. José Correia da Silva para que lesse o Segredo e fizesse uma cópia dele antes de enviá-lo a Roma, mas o velho bispo manteve sua recusa. D. João Venâncio, que me relatou este fato em Fátima, em 13 fevereiro de 1983, teve de se contentar em olhar o envelope, levantando-o contra a luz. Ele pôde ver no seu interior uma pequena folha de papel e mediu-a. Daí sabermos que o Terceiro Segredo não é muito longo, tem provavelmente de 20 a 25 linhas, quase o mesmo tamanho do Segundo Segredo. Isto nos permite julgar como falsos vários textos mais longos, empurrados ao público por alguns falsários como sendo o verdadeiro Terceiro Segredo de Fátima.
Em 16 de abril de 1957 o envelope selado chegou a Roma. Qual foi o seu destino? O Segredo foi colocado pelo Papa Pio XII na sua secretária pessoal, numa caixinha de madeira com a inscrição, “Segredo do Santo Ofício”. Foi Madre Pascalina quem confiou isso ao jornalista Robert Serrou.
Teria Pio XII lido o Segredo? A resposta pode parecer surpreendente: é quase certo que não. Assim como Pe. Alonso, forneço vários argumentos em defesa desta conclusão; notavelmente os testemunhos do Cardeal Ottaviani e de Mons. Capovilla, secretário do Papa João XXIII, que nos afirmou que o envelope ainda estava selado quando este papa o abriu em 1959, um ano após a morte de Pio XII.
Compreende-se assim as graves palavras que em dezembro de 1957 Irmã Lúcia dirigiu ao Pe. Fuentes, então postulador das causas de beatificação de Jacinta e Francisco:
"Senhor Padre, a Santíssima Virgem está muito triste, por ninguém fazer caso da Sua Mensagem, nem os bons nem os maus: os bons, porque continuam no seu caminho de bondade, mas sem fazer caso desta Mensagem (...)”
“(...) Não posso detalhar mais, uma vez que é ainda segredo. Segundo a vontade da Santíssima Virgem, só o Santo Padre e o Bispo de Fátima têm permissão para conhecer o Segredo, mas resolveram não o conhecer para não serem influenciados.”
Portanto não há dúvidas de que Pio XII preferiu esperar até 1960, mas morreu antes. Que grande perda para a Igreja!
  
A fervorosa expectativa do mundo católico
Os mais velhos devem lembrar-se que à entrada de 1960, todo o mundo católico esperava confiantemente a revelação do Segredo. E vocês, italianos aqui presentes, com certeza sabem que em 1959 havia em toda a Itália um grande movimento de devoção ao Imaculado Coração de Maria. Ao longo de vários meses, a imagem de Nossa Senhora de Fátima cruzou a Península Itálica, atraindo multidões entusiastas e irradiando por todos parte graças, fervor religioso, conversões e milagres. Em 13 de setembro de 1959, os bispos italianos consagraram solenemente seu país ao Imaculado Coração de Maria. Infelizmente, o movimento foi tão pouco encorajado por João XXIII, que o silêncio e a reserva deste papa contribuíram para esfriar aquela ardente devoção.

João XXIII lê o Terceiro Segredo e se recusa a revelá-lo
Sabemos que este papa teve em mãos o envelope do Terceiro Segredo, que lhe fora entregue em Castel Gandolfo, a 17 de agosto de 1959 por Mons. Philippe, então superior do Santo Ofício. Deve-se notar que a transmissão do Segredo ao Soberano Pontífice teve, portanto, um caráter oficial e reuniu ao seu redor certa solenidade, o que demonstra o prestígio de que a mensagem de Fátima desfrutava naquela época. João XXIII não abriu o envelope de imediato. Contentou-se em declarar: “vou esperar para lê-lo com meu confessor.” Mons. Capovilla afirma que poucos dias depois o papa leu o segredo.
Mas devido a dificuldade de compreender certas expressões peculiares à língua portuguesa, pediu-se ajuda ao tradutor de português da Secretaria de Estado, Mons. Paulo José Tavarez, que mais tarde se tornou Bispo de Macau. Tempos depois, João XXIII leu o segredo para o Cardeal Ottaviani, Prefeito do Santo Ofício.
Abramos um parêntese aqui. Sabemos que cabe a Hierarquia julgar “revelações privadas.” Em 1960, estava claro que a Igreja já havia reconhecido oficialmente a autenticidade divina das aparições de Fátima. Seguindo a ordem da Santíssima Virgem transmitida por Irmã Lúcia, os dois prelados responsáveis, o Bispo de Leiria e o Patriarca de Lisboa haviam se encarregado publicamente de revelar todo o conteúdo do Segredo no máximo em 1960. Por mais de 15 anos, as autoridades eclesiásticas não emitiram nenhuma declaração que refutasse essas reiteradas promessas, ecoadas em todo o mundo por cardeais, bispos e estudiosos da mensagem de Fátima, como Cônego Galamba, Cônego Barthas ou Pe. Messias Dias Coelho. A revelação dos dois primeiros segredos em 1942 — com o consentimento de Pio XII — é mais uma prova da aceitação da mensagem. Compreende-se, portanto, que os fiéis esperassem fervorosamente a prometida revelação pelas autoridades eclesiásticas. No mínimo, o Santo Padre deveria se pronunciar de maneira direta e clara a respeito do assunto.
Em 8 de fevereiro de 1960, divulgou-se através de uma agência de notícias um comunicado anunciando que o Terceiro Segredo de Fátima não seria revelado. Foi uma decisão anônima e irresponsável. Quais razões a motivaram? O comunicado do Vaticano apresentava desculpas inconsistentes e até contraditórias: “Embora a Igreja reconheça as aparições de Fátima, Ela não deseja tomar a responsabilidade de garantir a veracidade das palavras que os três pastorinhos disseram ter ouvido da Virgem Maria.” Portanto, ao que parece, o Vaticano não apenas adotou a posição insustentável do Padre Dhanis (a exposição e análise detalhada desta tese incoerente está no primeiro volume de minha obra), mas esse comunicado foi ainda mais longe, porque lançou publicamente e sem razões aceitáveis as suspeitas mais ignominiosas sobre Irmã Lúcia e toda a mensagem de Fátima!
Segundo Mons. Capovilla, consultaram-se vários prelados romanos. Mas se sabe que os peritos portugueses foram negligenciados de forma criminosa. D. João Venâncio e o Cardeal Cerejeira não foram consultados ou sequer notificados por Roma.
Ao se reler e analisar esse lamentável comunicado de 8 de fevereiro de 1960, ou, indo mais longe, ao se estudar o infeliz artigo publicado em junho pelo Pe. Caprile em Civiltà Cattolica, fica-se chocado com os inúmeros exemplos de incoerência, equívocos e mentiras pronunciados pelas autoridades romanas que estavam encarregadas da questão de Fátima. Isto nos mostra o quão injustificável e irresponsável foi a decisão de não atender à vontade da Virgem Imaculada, Rainha dos Apóstolos, que pediu a revelação do seu segredo em 1960. É certo também que prejudicou muito a causa de Fátima. Pode-se dizer que foi a partir de então, após o desdém público do “Segredo de Maria” que a devoção a Santíssima Virgem começou a declinar de forma alarmante no próprio seio da Igreja Católica. Mais que nunca, as palavras de Irmã Lúcia fizeram sentido: “A Santíssima Virgem está triste, pois ninguém faz caso de sua mensagem.” E esse desprezo, deve-se dizê-lo, causou danos incalculáveis. Porque ao se desprezarem as profecias e os pedidos de Fátima, ridicularizou-se ante o mundo inteiro a Própria Santíssima Virgem e o Próprio Deus. Como conseqüência, tornou-se inevitável a realização do trágico castigo que fora advertido condicionalmente pela Virgem Imaculada. 

II – O conteúdo do Terceiro Segredo
O Cardeal Ottaviani relatou que o Papa João XXIII colocou o Segredo “num desses arquivos que são como um poço muito profundo e escuro, ao fundo do qual caem papéis e ninguém os consegue ver mais.” Sabemos muito bem o que aconteceu ao manuscrito de Irmã Lúcia. Pode-se até descobrir o seu conteúdo essencial. Que diz Nossa Senhora neste aviso que nos deu em 13 de julho de 1917? Podemos afirmar quatro fatos a respeito do Segredo, que nos permitirão progredir na descoberta do seu mistério.

►Primeiro fato essencial: Sabemos o contexto do Terceiro Segredo. Para falar com precisão, na verdade só há um segredo, revelado por inteiro em 13 de julho de 1917. Até o momento conhecemos três das quatro partes. Sabemos o começo, as primeiras duas partes do Segredo, e o final, que consiste na conclusão: “Por fim, o Meu Imaculado Coração triunfará, o Santo Padre consagrará a Rússia a Mim, esta será convertida e será concedido ao mundo algum tempo de paz.” É neste contexto já conhecido, seguindo o “etc.” no texto que a própria Irmã Lúcia escreveu sobre a segunda parte do Segredo, que se insere a terceira parte. Este é o primeiro fato, que nos serve de bússola na investigação do seu conteúdo. O que vem em seguida deve corresponder ao contexto e concordar harmoniosamente com o todo da Mensagem de Fátima, cuja coerência é absolutamente extraordinária.
► Segundo fato importante: Se as circunstâncias em que foi revelado nos provam a sua unidade fundamental, as circunstâncias dramáticas em que foi registrado nos revelam a sua trágica gravidade.
► Terceiro fato esclarecedor: É apenas por causa do seu conteúdo que desde 1960 os últimos papas tem se recusado a revelá-lo.
João XXIII recusou-se a revelá-lo, como já vimos, não obstante a grande expectativa de todo o mundo católico. Paulo VI adotou a mesma atitude. Eleito Papa em 21 de junho de 1963, pouco tempo depois pediu para ler o texto. Isto prova sua preocupação para com a mensagem. Como não se sabia que destino João XXIII havia dado ao texto, questionou-se o seu secretário, Mons. Capovilla, o qual indicou o local em que o manuscrito fora guardado. Paulo VI certamente leu o texto na ocasião, mas preferiu não o comentar. No entanto, em 11 de fevereiro de 1967, ano de comemoração de 50 anos das aparições, o Cardeal Ottaviani, em nome do papa, fez uma longa declaração sobre o assunto do Terceiro Segredo de Fátima, para explicar por que ainda não seria revelado. Em meu livro, cito e analiso esse texto. Seguindo os peritos portugueses, sou forçado a afirmar que, para justificar a qualquer preço a ocultação do Segredo, o Prefeito do Santo Ofício, fiador supremo da verdade na Igreja, foi compelido a multiplicar uma massa de incoerências e inverdades. E, lamentavelmente, veremos que as desculpas dadas em 1984 pelo seu sucessor, o Cardeal Ratzinger, não são menos inconsistentes.

O Papa João Paulo I era muito devoto de Nossa Senhora de Fátima; fez uma peregrinação à Cova da Iria em 1977, e um fato muito interessante é que Irmã Lúcia pediu para se encontrar com ele. O então Cardeal Luciani dirigiu-se ao Carmelo de Coimbra e conversou demoradamente com a vidente. Estou persuadido de que Irmã Lúcia falou-lhe sobre o Terceiro Segredo e lhe revelou o seu conteúdo. O segredo muito o impressionou. Ao retornar a Itália informou seu séquito sobre o impacto que o segredo lhe causara e sobre a gravidade da mensagem. Depois falou e escreveu sobre Fátima em termos vigorosos e expressou sua admiração e total confiança em Irmã Lúcia, a quem certamente considerava santa. (No quarto volume de minha obra darei todas as provas desses fatos não publicados.) Quando se tornou Papa, desejava preparar a opinião pública antes de agir. Desgraçadamente, morreu antes de poder dizer qualquer coisa.
João Paulo II, antes de fazer uma peregrinação a Fátima em 13 de maio de 1982, pediu a um tradutor português da Cúria que o ajudasse a entender certas expressões peculiares ao idioma lusitano contidas no Segredo. Portanto ele também leu o Terceiro Segredo e preferiu não o tornar público.
Por fim, sabemos que o Cardeal Ratzinger também o leu, pois confiou que o havia feito ao jornalista italiano Vittorio Messori. Ratzinger falou sobre o segredo em duas ocasiões: em novembro de 1984 e em junho de 1985, aludindo ao seu conteúdo em termos bastante diversos, o que para nós é significante. Em meu livro publiquei e comentei as sinopses das duas versões publicadas.
► Quarto fato principal: Desde 1960, a profecia do Terceiro Segredo tem se desdobrado no tempo presente, diante de nossos olhos. Há de fato um itinerário, uma crônica da realização das profecias de Fátima. Por outro lado, é certo que ainda não chegamos ao tempo de conclusão do Segredo. Por quê? Porque a Rússia ainda não foi consagrada ao Imaculado Coração de Maria, como devia ter sido feito, e um dia o será. Irmã Lúcia deixou isso claro mesmo depois do Ato de Consagração feito por João Paulo II em 25 de março de 1984. A Rússia ainda não foi convertida e o mundo não está em paz, longe disso! Portanto ainda não chegamos ao fim da profecia.
Os eventos anunciados no Terceiro Segredo não tratam só do nosso futuro, pois temos outra marca para nos guiar: 1960. A Santíssima Virgem pediu que o Segredo fosse tornado público em 1960 porque Irmã Lúcia disse ao Cardeal Ottaviani: “Em 1960, será mais claro.” Ora, a única razão que torna uma profecia mais compreensível a partir de certa data é, sem dúvida, o começo de sua realização. Além disso, em outra ocasião Irmã Lúcia afirmou que “os castigos preditos por Nossa Senhora no Terceiro Segredo já começaram.”
Tendo sido determinado o terminus a quo (ponto de partida) e o terminus ad quem (ponto de término) da profecia, podemos garantir que estamos presentemente no período do qual fala Nossa Senhora.

Estamos vivenciando o Terceiro Segredo. Estamos testemunhando os eventos que ele anuncia.

Falsos segredos e falsas hipóteses
Baseando-nos nesse material confiável, podemos descartar toda a série de falsos segredos que foram sucessivamente publicados ao longo de 25 anos. Cito-os em meu livro e demonstro, por exemplo, que o mais famoso deles, o “Segredo” divulgado em 1963 pela revista alemã Neues Europa e reimpresso em várias revistas, é uma farsa. Há nele erros monstruosos que provam suficientemente a sua falsidade. Além do mais, embora seja discutível, falam-nos sobre pequenos “extratos” do verdadeiro segredo. Esses “extratos” possuem tamanho pelo menos quatro vezes maior do que o que seria suficiente para caber na folha de papel em que Irmã Lúcia escreveu todo o Terceiro Segredo.
Podemos desconsiderar também muitas falsas hipóteses. Certamente, não se trata apenas de “um convite à oração e penitência”, como o Pe. Caprile ousa afirmar! A Santíssima Virgem não teria pedido que Irmã Lúcia esperasse até 1944 ou 1960 para divulgar uma mensagem que repetisse palavra por palavra Sua mensagem pública de 13 de outubro de 1917! Não faz sentido!
Também não se trata de um assunto feliz: é certo que o Terceiro Segredo de Fátima não está de acordo com a visão otimista de João XXIII, proclamando que o Concílio Vaticano II seria um “novo pentecostes, uma nova primavera na Igreja!” Se se tratasse disso, ele mesmo ou seus sucessores já nos teriam revelado o segredo. “Se o segredo fosse agradável”, disse o Cardeal Cerejeira, “teria sido revelado. Como não nos disseram nada, podemos ter certeza de que ele é triste.” Sim, é evidente que o seu conteúdo é grave e trágico.
Não se trata também do anúncio do fim do mundo, já que a profecia de Fátima termina com uma promessa maravilhosa e incondicional, que deveria ser constantemente lembrada, por ser uma fonte de grande esperança: “Por fim, Meu Imaculado Coração triunfará, o Santo Padre consagrará a Rússia ao meu Imaculado Coração, ela será convertida, e um período de paz será dado ao mundo.”

Seria o anúncio de uma Terceira Guerra Mundial? Ou de uma guerra nuclear? Seria razoável pensar que sim, já que a profecia não faria senão confirmar as análises políticas mais lúcidas. Teria a Santíssima Virgem predito essa horribilíssima guerra, que nos ameaça de forma tão dramática? Assim como o Pe. Alonso, tenho certeza de que este não é o ponto central do Terceiro Segredo. Afirmo-o por uma razão segura: o prenúncio de castigos materiais, de novas guerras e perseguições contra a Igreja constitui o conteúdo do Segundo Segredo. Meditemos na gravidade destas palavras: “Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá muito que sofrer, várias nações serão aniquiladas (...)”, “a Santíssima Virgem repetidas vezes nos disse, confidenciou Irmã Lúcia ao Pe. Fuentes, que várias nações desaparecerão da face da terra. Disse que a Rússia seria o instrumento do castigo do Céu para todo o mundo, se antes não alcançássemos a conversão dessa pobre nação." É por isso que se deve temer que a palavra “aniquilar” tenha sido empregada em seu sentido literal: reduzir a nada, destruir totalmente. Improvável em 1917, essa catastrófica ameaça não mais está distante de nós hoje, na Era Nuclear.
Está claro: todos os castigos materiais que ainda nos ameaçam, mesmo os mais aterrorizantes, como uma guerra nuclear ou a expansão do comunismo por todo o globo, foram preditos por Nossa Senhora no Segundo Segredo, e nós sabemos os meios sobrenaturais para preveni-los antes que seja tarde. Estamos seguros de que nada disso se repete na terceira parte do Segredo, como também crê o Pe. Alonso. Se nele houver alusão a castigos materiais, este não é o seu ponto central. Com efeito, já que o Segredo é composto de três partes interligadas, mas distintas, e tendo o Céu estabelecido datas diferentes para revelá-las, podemos estar certo de que a terceira parte não irá repetir — numa folha de poucas linhas — exatamente a mesma coisa que a segunda parte.

Castigo espiritual
É certo que o Terceiro Segredo se refere essencialmente a um castigo espiritual. Muito pior, ainda mais temível que a fome, a guerra, a perseguição, pois se refere às almas, a sua salvação ou danação eterna. O Pe. Alonso, em 1966 nomeado arquivista de Fátima por D. João Venâncio, provou ser esse o conteúdo do Terceiro Segredo. Ele tratou do assunto num dos volumes de sua grande obra crítica, formada por 24 tomos, cuja publicação, infelizmente, foi proibida. Porém, antes de morrer em 12 de dezembro de 1981, conseguiu divulgar suas conclusões em vários panfletos e artigos em jornais teológicos.
A minha pesquisa permitiu-me tão-somente clarificar, completar, especificar a tese dele, provada pela publicação de novos documentos.
Eis o mais importante destes: em 10 de setembro de 1984, D. Alberto Cosme do Amaral, o atual Bispo de Leiria, em Fátima, na Aula Magna (auditório) da Universidade Técnica de Viena, declarou no momento das perguntas:
“O conteúdo do Terceiro Segredo diz respeito unicamente à nossa Fé. Identificar o Segredo com proclamações catastróficas ou com um holocausto nuclear é deformar o significado da Mensagem. A perda de fé de um continente é pior do que a aniquilação de uma nação; e a verdade é que a Fé está continuamente a diminuir na Europa.”
Por 10 anos, o Bispo de Leiria manteve-se em silêncio a respeito do conteúdo do Terceiro Segredo. E no momento em que ele abre a boca e faz uma declaração pública tão resoluta, podemos ter a certeza de que não a fez sem ter antes consultado Irmã Lúcia. Podemos estar seguros disso, pois, em 1981, ele já havia refutado alguns falsos segredos, e afirmou ter consultado a vidente sobre a questão. Estou querendo dizer que a tese do Pe. Alonso foi agora publicamente confirmada pelo Bispo de Fátima: Trata-se da terrível crise da Igreja. A Virgem Imaculada estava a nos predizer sobre a perda da Fé em nossa era, caso Seus pedidos não fossem atendidos: eis o drama que temos testemunhado desde 1960.
Tendo dito o essencial, contentar-me-ei agora em mencionar os estágios principais de minha prova quanto ao verdadeiro conteúdo do Terceiro Segredo.


A perda da Fé
No primeiro capítulo do livro, dou as razões que provam que o Terceiro Segredo trata especificamente da perda da Fé. Na verdade, sabemos apenas o seu contexto. Irmã Lúcia desejava nos indicar a primeira sentença dele, “em Portugal o dogma da Fé será sempre preservado, etc.” Esta frase curta, que por certo foi acrescentada de propósito pela vidente quando registrou o segredo pela segunda vez em suas Memórias, é muito significativa. Indica-nos, discretamente, a chave do Terceiro Segredo.
Eis o comentário sensato do Pe. Alonso: “Em Portugal o dogma da fé será sempre preservado. Essa frase implica claramente o estado crítico em que se encontrará a fé em outras nações. Significa que haverá uma crise de fé, enquanto Portugal salvará sua fé. Por conseguinte, no período que precede o grande Triunfo do Imaculado Coração de Maria, ocorrerão as coisas terríveis que são objeto da terceira parte do Segredo. Quais delas? Se, ‘em Portugal se conservará sempre o dogma da Fé,’ pode-se claramente deduzir destas palavras que em outros lugares da Igreja estes dogmas vão tornar-se obscuros ou chegarão mesmo a perder-se.”
A maioria dos peritos advoga essa interpretação: Pe. Martin dos Reis, Cônego Galamba, D. João Venâncio, Pe. Luiz Kondor, Pe. Messias Dias Coelho. No dia 18 do último mês de outubro, no decurso de uma conferência que proferiu em Paris, Pe. Laurentin também declarou ser a favor desta solução. Lembremos que até mesmo o Cardeal Ratzinger se posicionou de tal maneira a Vittorio Messori, ao dizer que o Terceiro Segredo tratava “dos perigos que ameaçam a fé e a vida dos cristãos.” Finalmente, como há pouco dissemos, o atual Bispo de Fátima é ainda mais explícito em sua adesão a essa teoria. Ele deixa subentendido que é uma crise de fé, que atingirá várias nações e continentes inteiros... a Sagrada Escritura dá um nome para tamanha deserção: Apostasia. É possível que esta palavra seja mencionada no texto do Segredo.


Os erros e o castigo dos pastores
No segundo capítulo do livro, demonstro que há mais: o Terceiro Segredo certamente insiste na grave responsabilidade das almas consagradas, dos padres, e até dos próprios bispos nessa inaudita crise de fé que atinge a Igreja há 25 anos. Forneço diversas provas disso, indicações claras. Alegro-me aqui em lhes citar o Pe. Alonso:  “É portanto muito provável que o texto do Terceiro Segredo faça alusões concretas a crise de Fé dentro da Igreja e à negligência dos próprios pastores.” Ele também fala a respeito de “lutas dentro do seio da Igreja e de grave negligência pastoral pela alta hierarquia,” e de “deficiências da alta hierarquia da Igreja.”
Estas seríssimas palavras do Pe. Alonso certamente não foram postas em papel sem que se considerasse com cuidado o seu impacto. Como arquivista oficial de Fátima, após 10 anos de pesquisas e várias entrevistas e conversas com Irmã Lúcia, teria ele adotado uma postura tão firme num assunto tão grave sem ter recebido o consentimento da vidente? A resposta não deixa margens a dúvidas.
Essa declaração sobre as deficiências da Hierarquia explica a constante preocupação dos três videntes em rezar, rezar muito e sacrificar-se sem cessar pelo Santo Padre; explica também os três meses de insuportável agonia que Irmã Lúcia teve de enfrentar antes de conseguir registrar o segredo. Por fim, explica por que os papas, desde o otimista João XXIII, hesitaram, atrasaram e deixaram de lado a publicação do Terceiro Segredo, buscando ocultá-lo a todo custo.



Uma onda de desorientação diabólica
No terceiro capítulo, mostro que Irmã Lúcia ecoou o tema do Terceiro Segredo em algumas de suas palavras e cartas, nas quais enfatiza a ação do demônio em nossa era. Já em 1957, ela confiava ao Pe. Fuentes, “(...) o demônio está travando uma batalha decisiva contra a Santíssima Virgem. E como o demônio sabe o que é que mais ofende a Deus e o que, em menos tempo, lhe fará ganhar um maior número de almas, trata de ganhar para si as almas consagradas a Deus, pois que desta maneira o demônio deixa também as almas dos fiéis desamparadas pelos seus chefes, e mais facilmente se apodera delas.”
Mas é especialmente numa série de cartas escritas entre 1969-1970, pouco conhecidas mas de grande importância, que Irmã Lúcia usa expressões impressionantes para descrever a atual crise da Igreja. E, não deixemos de notar que por meio da mão de uma alma tão humilde e submissa à autoridade, tais expressões graves certamente ecoam as palavras escutadas dos lábios da própria Santíssima Virgem, em sua mensagem final a respeito da proteção da fé e do bem-estar da Igreja.
“Vejo pela sua carta,” escreve ela a um padre, “que estás preocupado com a desorientação de nosso tempo. É triste, de fato, que tantas pessoas se deixem dominar pela onda diabólica que está varrendo o mundo e que estão tão cegos a ponto de serem incapazes de ver o erro! A principal falta é que abandonaram a oração, e deste modo distanciaram-se de Deus, e sem Deus, falta tudo. O demônio é muito astuto e busca nossos pontos fracos querendo nos derrubar. Se não formos diligentes e cuidadosos para obter forças de Deus, certamente iremos cair, pois nosso tempo é muito perverso e nós somos fracos. Apenas a força de Deus pode nos sustentar.”
Numa carta a uma amiga que está zelosamente envolvida na defesa da devoção mariana, Irmã Lúcia escreve:
Nossa Senhora pediu e recomendou que se reze o Terço todos os dias, repetindo o mesmo em todas as aparições, como que prevenindo-nos para que, nestes tempos de desorientação diabólica, não nos deixemos enganar por falsas doutrinas... Infelizmente, em questões religiosas, a maioria das pessoas é ignorante e se permitem ser levadas por qualquer coisa. Daqui, a grande responsabilidade daquele que tem o dever de conduzi-las... É uma desorientação diabólica que está invadindo o mundo, perdendo as almas! É preciso fazer frente ao demônio.” 

Em 16 de setembro de 1970 ela escreve a uma religiosa amiga:
“Pobre Senhor, que nos salvou com tanto amor, e tão pouco compreendido é! Tão pouco amado! Tão mal servido! É doloroso ver tanta desorientação, e em tantas pessoas que ocupam lugares de responsabilidade!... Temos nós, tanto quanto nos seja possível, que procurar reparar, por uma união cada vez mais íntima com o Senhor, identificar-nos com Ele, para que Ele seja, em nós, a luz de um mundo mergulhado nas trevas do erro, da imoralidade e do orgulho. Faz-me pena ver o que me diz, do que também já por aí se passa!... É que o demônio tem conseguido infiltrar o mal, com capa de bem, e andam cegos a guiar outros cegos, como nos diz o Senhor no seu Evangelho; e as almas vão-se deixando iludir...  De boa vontade me sacrifico, e ofereço a Deus a vida; pela paz da Sua Igreja, pelos sacerdotes e por todas as almas consagradas, sobretudo por aquelas que andam tão iludidas e tão transviadas!” 
Para a confidente de Nossa Senhora, o demônio não está apenas neste mundo “decadente”, “mergulhado nas trevas da imoralidade e do orgulho.” O demônio está presente também na própria Igreja, onde tem seus “seguidores” e “partidários”, que estão sempre “avançando com intrépida audácia.” Diante deles, há muitas “pessoas tíbias” que não têm coragem de lhes fazer frente. Demais, não se trata apenas de tibieza ou de negligência pastoral. Irmã Lúcia afirma implicitamente que é a própria Fé que está sob ataque. Ela fala de “falsas doutrinas” e de “confusão diabólica”, de “cegueira” entre os que “possuem grandes responsabilidades” na Igreja. Ela lamenta o fato de tantos pastores “se deixarem dominar pela onda diabólica que está invadindo o mundo.” Acaso há forma mais exata de descrever a atual crise da Igreja? É a crise de uma Igreja que decidiu pactuar com um mundo em que reina Satanás.
Irmã Lúcia insiste, “A Santíssima Virgem sabia que esses tempos de desorientação diabólica chegariam.” Estas palavras da vidente, além de muitas outras que poderíamos citar, serão explicadas com clareza, e colocadas em proeminência, se em 13 de julho de 1917, no seu Terceiro Segredo, a Virgem tiver predito especificamente essa “desorientação diabólica” que de súbito invadiria a Igreja caso Seus pedidos não fossem atendidos.

A grande apostasia
Certa vez, em que a questionaram sobre o conteúdo do Terceiro Segredo, Irmã Lúcia disse: “Está no Evangelho, no Apocalipse, leia-o.” Ela confiou ao Pe. Fuentes que a Santíssima Virgem fê-la ver com clareza que “estamos no final dos tempos”. Isto não significa, é preciso dizê-lo, que estamos no tempo do fim do mundo e do Juízo Final, pois que antes há de vir o Triunfo do Imaculado Coração de Maria. O próprio Cardeal Ratzinger, aludindo discretamente ao conteúdo do Segredo de Fátima, mencionou três elementos importantes: “Os perigos que ameaçam a Fé”, “a importância do fim dos tempos” e o fato de que “a profecia contida no Terceiro Segredo corresponde ao que foi anunciado na Escritura.” Sabe-se que Irmã Lúcia indicou os capítulos 8 e 13 do Apocalipse.
É por isso que, nos dois últimos capítulos de meu livro trato dos ensinamentos de Nosso Senhor, de São Paulo e São João — tão ignorados hoje — anunciando as conturbações, a heresia e por fim a grande apostasia que se desencadeará na Igreja nos “tempos derradeiros”. E a comparação objetiva entre as profecias da Escritura — particularmente as do Apocalipse — e a grande profecia da Virgem de Fátima na aurora deste século contêm, de fato, paralelos numerosos e aterradores.

III – É preciso dar ouvidos a Nossa Senhora!
Já dissemos o suficiente para se compreender que não há nada tão importante, tão necessário e tão urgente do que tornar conhecido sem demora, a todos os fiéis da Igreja, o texto completo do Segredo de Maria, em sua límpida veracidade e em sua riqueza profética e transcendente. Seria apropriado aqui citar as numerosas razões que salientam a urgência de sua divulgação. 

Por que revelar o Terceiro Segredo?
► “Porque a Santíssima Virgem o quer.” Sabemos, com efeito, que Sua vontade não mudou de maneira alguma desde o momento da graça em 13 de julho de 1917, quando revelou o Segredo aos três pastorinhos, tampouco mudou depois de 2 de janeiro de 1944, quando apareceu a Irmã Lúcia no convento de Tuy e pediu-lhe para redigi-lo. Nossa Senhora deseja que esse oráculo profético seja revelado, que seja conhecido. E sabe-se que Irmã Lúcia, Sua Mensageira, continua a pedir a sua revelação pública, e até onde lhe foi permitido, ela o fez de forma enfática aos superiores eclesiásticos.

► Pelo bem das almas. Ao contrário do que diz a tão repetida mentira, o Segredo não está destinado exclusivamente ao Santo Padre. Tal como os dois primeiros segredos, ele está destinado a todos os fiéis. Como filhos da Igreja, somos filhos de Maria. Todos nós temos o direito de conhecer a advertência salutar que Nossa Mãe Celestial nos dirige neste momento perigoso, a fim de nos ajudar — a nós, nossas crianças, nossos próximos — a manter intacta e viva em nossos corações a verdadeira Fé católica recebida de nossos antepassados.

► Enquanto este Segredo não for revelado, continuará a trágica ameaça contra a paz no mundo. Explicarei melhor. Estamos convictos de que enquanto a Rússia não for consagrada ao Imaculado Coração de Maria, como Deus quer, a Rússia não se converterá. E enquanto não tiver sido convertida, libertada do seu ateísmo e bolchevismo opressor, e do domínio das forças satânicas que a escravizam, permanecerá a ameaça de um apocalipse nuclear. Deus desejou que a paz do mundo dependa, em nosso século, de uma obediência filial e fervorosa do papa e dos bispos aos pedidos de sua Mãe Santíssima, que apareceu em Fátima. Ora, este ato de fé, de docilidade confiante para com a Medianeira Imaculada, através do qual nossos pastores devem realizar a consagração da Rússia, pressupõe também, e devo dizer até mesmo antes de tudo, a aceitação e a revelação pública do Segredo. É uma lição de História: desde 1960, o encobrimento deliberado e desdenhoso do Segredo de Nossa Senhora tem andando de mãos dadas com a recusa inflexível de realizar devidamente Seus outros pedidos. Por outro lado, a publicação do Terceiro Segredo será o sinal claro de que a Igreja oficialmente reconheceu a autenticidade divina e a importância da Mensagem de Fátima no seu todo. Um dos maiores obstáculos da consagração da Rússia será então derrubado!
  
► Para o bem da Igreja. No momento em que a Igreja enfrenta a pior crise de sua história, em que heresias de todos os matizes são ensinadas e propagadas em toda parte e envenenam o povo de Deus, em que a sua “autodestruição” prossegue incessantemente desde 1960, e em que a “fumaça de satanás” — para usar expressões de Paulo VI — empesteou todos os lugares, seria uma grande pena e decerto um crime continuar a negligenciar, desconsiderar, desprezar as palavras salutares da Santíssima Virgem referindo-se precisamente a esta “crise de Fé” que estamos enfrentando. Visto que em 1917 a Rainha dos Céus previu o perigo e visto que propôs os remédios, não é uma vergonha que esses remédios, que deveriam ter sido divulgados ao público até 1960, ainda nos não tenham sido revelados? Não é um escândalo que por mais de 25 anos, milhões de almas sofram dessa “desorientação diabólica” e corram o risco de se perder por toda a eternidade, sem que os pastores da Igreja tenham concedido em aceitar o extraordinário auxílio que o céu oferece a elas?


São muitas as razões que tornam para nós uma obrigação suplicar pela revelação do Terceiro Segredo: É para a honra de Nossa Mãe, pela salvação de nossos irmãos, pela paz no mundo, pela restauração da Igreja. Que não nos digam, como um falso relato tenta nos fazer crer, que o Segredo de Fátima não pode ser revelado porque “será mal interpretado!” A Rainha do Céu, que previu e anunciou em 1917 tantos eventos até então imprevisíveis, e que vimos se realizarem ao longo deste século, teria Ela falhado em prever este risco, a ponto de tornar Seu Segredo dispensável pela Igreja? Não faz sentido. Não, o Seu Segredo é claro, não tem ambigüidades nem dificuldades de interpretação, disto estamos seguros. Ousamos dizê-lo! Não seria a sua excessiva clareza a causa da preocupação de nossos pastores? 

Por último, e com isso concluo, se o Santo Padre ainda não decidiu tornar público o segredo final de Nossa Senhora exercendo sua autoridade pessoal, não deveria ele ao menos dar plena liberdade ao Prefeito do Santo Ofício, ao Bispo de Leiria ou a própria vidente, para que obedeçam à ordem explícita de Nossa Senhora e divulguem o Segredo?

Pois é um fato assombroso que por mais de 25 anos o Terceiro Segredo de Fátima tenha sido o único texto a permanecer no Index Prohibitorum... Irmã Lúcia está confinada ao silêncio. 

Em 15 de novembro de 1966, o Papa Paulo VI ab-rogou os artigos 1399 e 2318 do Código de Direito Canônico, os quais proibiam a publicação de livros e panfletos que propagassem sem autorização novas revelações, aparições ou profecias ainda não aprovadas pela Igreja. Essa ab-rogação está agora no novo código, de forma que desde 1966, qualquer um pode publicar e difundir entre os fiéis as revelações mais fantásticas. Qualquer embuste, diabrura não mais é proibido. Tudo está autorizado a ser publicado, e o “pai da mentira” se aproveita habilmente desta licença para multiplicar por todo o mundo aparições falsas e mensagens fraudulentas, que se difundem por toda parte e iludem inúmeros fiéis. A Mensagem de Fátima, que não se duvida que venha de Deus, é a única mensagem que, de forma escandalosa, foi proibida de ser publicada.
A conclusão se impõe por si só: É tempo de deixar a vidente de Fátima falar. E através dela a Santíssima Virgem, Mãe de Deus e nossa Mãe, nossa amável e toda amorosa Medianeira e Co-Redentora. É urgente ouvi-la, já que “Só ela pode nos ajudar”, como Ela mesma disse em 13 de julho de 1917.

Nossa Senhora de Fátima – nossa última esperança
Seus três segredos nos revelam de fato Seu triplo poder e a tripla missão que Deus Lhe confiou. Deus deseja manifestar de maneira extraordinária essa missão de Nossa Senhora. É através d’Ela, através da visão do inferno e da revelação de Seu Imaculado Coração no primeiro segredo, que Ele deseja converter as almas, todas elas, e salvá-las, pois Ela é a “Mãe de Misericórdia” e o “Portão do Céu”. É através d’Ela: das ordens, das promessas, das ameaças do Segundo Segredo, que Ele tem tentado salvar o cristianismo, a fim de nos poupar das horríveis guerras e da escravidão comunista. Pois Deus estabeleceu-A como “Rainha da Paz”. É através d’Ela, através da profecia do Terceiro Segredo, que Deus deseja vencer essa “onda diabólica” que rebentou sobre a Igreja, essa impiedade que invadiu até mesmo o Santuário e todas as forças satânicas que propagaram e encorajaram a apostasia moderna, pois Ela é a “defensora da verdadeira Fé” e só Ela recebeu de Nosso Senhor o poder de derrubar as heresias em toda a Igreja: Cunctas haereses tu sola interemisti in universo mundo!


Essa tripla missão da Medianeira Imaculada, que o Seu grande Segredo nos revelou, é também a base inabalável de nossa esperança. Sim, podemos ter certeza disso quando o Seu Segredo for finalmente desvendado por completo e reconhecido como autêntico, quando a Rússia por fim for consagrada a Ela, a devoção reparadora dos primeiros sábados do mês for oficialmente aprovada, a fiel e poderosa Virgem, Virgo Fidelis, Virgo Potens, terá sua profecia realizada. Plenos de alegria, testemunharemos o triunfo do Seu Imaculado Coração, que preparará o reino universal do Sagrado Coração de Jesus. A Rússia, libertada de seus demônios mediante uma conversão milagrosa, retornará ao rebanho da unidade romana. Será dado ao mundo algum tempo de paz. A Fé católica será pregada em todas as nações. E inúmeras almas deverão acorrer alegres às Fontes da Salvação na Igreja de Cristo, Una, Santa, Católica e Apostólica, sob a liderança de um só Pastor!
Sim, este tempo há de chegar, e cabe a nós apressar-lhe a chegada, realizando com amor os pedidos de Nossa Senhora a partir de agora. Pois Ela precisa de nós. “Os tempos modernos, dizia São Maximiliano Kolbe, estão dominados por Satanás, e estarão ainda mais no futuro... Só a Virgem Imaculada recebeu de Deus a promessa de vitória sobre Satanás, mas estando na glória do céu, Ela precisa de nossa ajuda hoje. Ela busca almas consagradas inteiramente a Ela e que se transformem em suas mãos numa força para derrotar Satanás, e que, sob a direção d’Ela, sejam instrumentos efetivos para o estabelecimento do Reino de Deus.”

Conferência proferida em Fátima, no dia 24 de novembro de 1985.

Irmão Michel de la Sainte-Trinité autor do livro Tout la vérité sur Fatima (Toda a verdade sobre Fátima)







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