12 Apelos da Mensagem de Fátima
12 Apelos da Mensagem de Fátima
O primeiro apelo, que Deus nos dirige (através do Anjo de Portugal), é um apelo à Fé: “Meu Deus, eu creio”
Primeiro apelo da Mensagem: “Meu Deus, eu creio.”
O primeiro apelo, que Deus nos dirige por meio de seu enviado (o Anjo de Portugal), é um apelo à Fé: “Meu Deus, eu creio”. É pela Fé que acreditamos na existência de Deus, no Seu poder, na Sua sabedoria, na Sua misericórdia, na Sua obra redentora, no Seu perdão e no Seu amor de Pai. É pela Fé que acreditamos na Igreja de Deus, fundada por Jesus Cristo, e na Doutrina que ela nos transmite e por meio da qual seremos salvos.
Segundo apelo da Mensagem: “Adoro”
A Mensagem aqui chama-nos atenção para o primeiro mandamento da lei de Deus: “Eu sou o Senhor teu Deus (…), Não terás outro deus diante de Mim”. (Ex 20,2-5). E diz, noutra passagem: “Prestareis culto unicamente ao Senhor, vosso Deus, e Ele abençoará o vosso pão e a vossa água; afastará a enfermidade do meio de vós”. (Ex 23,25).
Adorar a Deus é, pois, um dever e um preceito que o Senhor nos impôs por amor, para nos dar ocasião de sermos por Ele beneficiados.
O modo como devemos adorar a Deus aparece-nos descrito por S. João, no diálogo com a Samaritana: “Acredita-me, mulher, vai chegar a hora, e já chegou, que os verdadeiros adoradores hão-de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito, e os seus adoradores em espírito e verdade é que O devem adorar”. (Jo 4,19-24)
Terceiro apelo da Mensagem: “Espero”
Toda a nossa esperança deve estar posta no Senhor, porque Ele é o único Deus verdadeiro, que padeceu e morreu pela nossa salvação.
É preciso, pois, que o nosso espírito esteja livre do demasiado apego às coisas da terra, às vaidades que arrastam ao caminho da leviandade, do exagero das modas que dão mau exemplo e escandalizam o próximo, incentivando-o ao pecado.
Quarto apelo da Mensagem: “Amo-Vos”
Por certo que, dentre todas as criaturas, nenhuma como Nossa Senhora foi tão amada por Deus, mas todos nós estivemos igualmente, desde toda a eternidade, presentes na mente de Deus, no seu desígnio criador; e Ele criou tudo o mais por amor de cada um de nós, porque, desde todo o sempre, nos teve presente e nos amou.
Mas este amor tem de ser respondido no respeito pela pureza, pela castidade, segundo o próprio estado, pela fidelidade a Deus e ao próximo, cumprindo as promessas, os juramentos e os votos que nos obrigamos. Atentar contra qualquer um desses pontos leva consigo a infidelidade e a quebra no amor que devemos a Deus e ao próximo.
“Como o Pai me amou, também Eu vos amei; permanecei no Meu amor…” “O Meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei”. (Jo 15,9-12).
Quinto apelo da Mensagem: “Peço-Vos perdão”
Imediatamente a seguir ao apelo da caridade, a Mensagem pede-nos o perdão: leva-nos a pedir a Deus o perdão para os nossos irmãos e para nós também,
Pedimos perdão para os que não creem, para os que não adoram, para os que não esperam e para os que não amam; e tantas vezes nós fazemos parte deste número!
O nosso perdão tem de ser generoso, completo e sacrificado – isto, no sentido de nos vencermos a nós próprios. Será preciso fazer calar em nós mesmos o grito de revolta, acalmar nervos exaltados, manter firmes na mão as rédeas do próprio gênio e abater a fervura do amor próprio ofendido – que, com razão ou talvez sem ela, se sente magoado e irritado.
Esta é a doutrina do nosso Divino Mestre: “Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também a o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas”. (Mt 6,14-15).
Ao ver Cristo, Madalena acreditou n’Ele e amou-O. Foi esta fé e este amor que a fizeram detestar o pecado, chorar e desprezar as vaidades do mundo, e mudar de vida. E o Senhor, de tudo isso, Se agradou, concluindo: “Muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou. Salvou-te a tua fé: vai em paz”.
Um dia, S. Pedro perguntou a Jesus quantas vezes tinha que perdoar ao seu irmão: “Até sete vezes?” O Senhor respondeu: “Não te digo sete vezes, mas setenta vezes sete”. (Mt 18,21-22). Isto significa que devemos perdoar sempre.
Sexto Apelo à oração: “Orai, orai muito!”
Este apelo teve lugar na segunda aparição do Anjo.
Encontravam-se as pobres crianças entretidas, sentadas nas lajes do poço situado no quintal dos meus pais. O Mensageiro celeste apresenta-se e dirige-lhes a seguinte pergunta: “Que fazeis?” e, sem esperar resposta, continua:
“Orai, orai muito! Os Corações de Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios. (…) De tudo que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores. Atraí assim sobre a vossa Pátria a paz. Eu sou o Anjo da sua guarda, o Anjo de Portugal. Sobretudo aceitai e suportai o sofrimento que o Senhor vos enviar”.
Na ocasião, nem ao de leve puderam as crianças suspeitar que essa chamada à oração era não só para elas, mas também para toda a humanidade.
A Mensagem nos renova a recomendação do Senhor: “Orai, orai muito!”. Este apelo é a repetição da chamada à oração que tantas vezes nos foi dirigia por Deus e que Jesus Cristo deixou aos Seus Apóstolos e a nós também, nos últimos momentos da Sua vida terrena: “Vigiai e orai!”.
A Sagrada Escritura diz-nos como devemos empregar o tempo que Deus nos quiser dar de vida: uma parte há de ser dedicada à oração, outra ao desempenho dos deveres do nosso estado e uma terceira destinada ao bem do próximo por amor de Deus. O dia tem vinte e quatro horas; não fazemos nada de mais, se reservarmos alguns momentos para nos encontrarmos com Deus.
As igrejas são a casa do nosso Pai do Céu. Tal como os filhos se juntam à volta do pai para escutar as suas palavras, ouvir os seus ensinamentos e seguir as suas diretrizes, assim se reúne o Povo de Deus na casa do Pai, à volta de Cristo, para escutar a Sua palavra, expor-Lhe as suas necessidades, receber os Seus favores e cantar-Lhe os seus louvores. Estou a falar-vos da oração coletiva, na qual todos devemos tomar parte.
Há depois a oração particular de cada um, que não devemos descuidar. Todos os filhos têm os momentos em que procuram encontrar-se a sós com seu pai, para em particular lhe exporem os seus problemas, pedirem-lhe os seus conselhos e auxílio. Ora Deus é o nosso verdadeiro Pai; devemos, por isso, procurar encontrar-nos com Ele a sós, para Lhe dirigirmos as nossas súplicas, os nossos agradecimentos, os nossos protestos de fidelidade e amor; para Lhe expormos as nossas dificuldades, recebermos o Seu auxílio, os Seus conselhos, a Sua luz, graça e conforto.
Mas, além destes templos construídos pelas mãos dos homens, temos outros templos, não menos reais, onde devemos orar e oferecer a Deus os nossos sacrifícios: é a nossa alma, o nosso coração, a nossa consciência. Aí está Deus! Aí habita a Santíssima Trindade! Se nos encontramos em estado de graça, somos templos de Deus: “Se alguém Me ama, guardará a Minha palavra: Meu Pai amá-lo-á e viremos a ele e faremos nele morada” (Jo 14,23).
“Não sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá. porque o templo de Deus, que sois vós, é santo” (1Cor 3,16-17).
Sétimo Apelo ao sacrifício: “Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios”
O sacrifício de Cristo, que veio pôr termo às figuras [as prefigurações do Antigo Testamento], devia perpetuar-se em substituição dos sacrifícios da Antiga Aliança. E temo-lo hoje renovado diariamente no altar da Celebração Eucarística, repetição incruenta do sacrifício da Cruz.
Mas não basta, porque, como diz S. Paulo (Cor 1,24), é preciso completar em nós o que falta à Paixão de Cristo, porque somos membros do Seu Corpo Místico. Ora, quando um membro do corpo sofre, todos os outros membros sofrem com ele, e, quando um membro se sacrifica, todos os outros membros participam desse sacrifício; se um membro estiver enfermo e o mal for grave, ainda que o mal esteja localizado só nele, todo o corpo sofre e morre. O mesmo se passa na vida espiritual: todos somos enfermos, todos temos muitas deficiências e pecados; por isso, todos temos o dever de, em união com a vítima inocente que é Cristo, nos sacrificamos em reparação pelos nossos pecados e pelos dos nossos irmãos, porque todos somos membros do mesmo e único Corpo Místico do Senhor.
A Mensagem pede que ofereçamos a Deus, de tudo o que pudermos, um sacrifício: “De tudo o que puderdes, oferecei um sacrifício em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores” (Palavras do Anjo). Podem ser sacrifícios de bens espirituais, intelectuais, morais, físicos e materiais; segundo os momentos, teremos ocasião de oferecer ora uns, ora outros. O que importa é que estejamos dispostos a aproveitar as ocasiões que se nos deparam; sobretudo que saibamos sacrificar-nos quando isso mesmo é exigido pelo cumprimento do próprio dever para com Deus, para com o próximo e para com nós mesmos.
“Quem não tomar a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim” (Mt 10,38).
Oitavo Apelo, Participação na Eucaristia: “Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus”.
Este apelo que a Mensagem nos dirige, está bem explícito no Evangelho, mas é por muitos mal compreendido, esquecido, posto de parte, abandonado e, o que é mais triste, ultrajado…
Quando Jesus Cristo manifestou o Seu intento de ficar conosco na Eucaristia, para ser o nosso alimento espiritual, a nossa força e a nossa vida, os fariseus escandalizaram-se e não acreditaram. Mas o Senhor insistiu: “Eu sou o Pão da Vida, (…) Se alguém comer deste pão viverá eternamente; e o pão que Eu hei-de dar é a Minha carne pela vida do mundo (…) Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue, não tereis vida em vós” (Jo 6,48-53). Destas palavras, é claro que, se não nos alimentarmos da Sagrada Comunhão, não teremos em nós a vida da graça, a vida sobrenatural, que depende da nossa união com Cristo, pela comunhão do Seu Corpo e do Seu Sangue. Para isto, ficou Ele na Eucaristia: para ser o nosso alimento espiritual, o nosso pão de cada dia, que sustenta em nós a vida sobrenatural.
Mas, para podermos alimentar deste Pão, precisamos de estar na graça de Deus, como nos adverte S. Paulo: “Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: Isto é o meu corpo, que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim. Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de mim. Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um se examine a si mesmo, e assim coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação”. (ICor 11,23-29).
Jesus Cristo nos assegura da Sua presença real, em corpo e alma, vivo como está no Céu, em todas as partes onde se encontra o pão e o vinho consagrados. Ele diz: “Isto é” não disse: Isto foi, ou então: Isto pode ser, nem: Isto será. Mas sim: “Isto é”. Em todo o momento, em toda a parte, o pão e o vinho consagrado é o Corpo e Sangue de Jesus Cristo, e é-o por todo o tempo que esse pão e esse vinho se conservar. Isto está claro nas palavras de Jesus Cristo, Homem e Deus verdadeiro: e a palavra de Deus opera o que significa.
“Eu sou o pão da vida; o que vem a Mim jamais terá fome, e o que acredita em Mim jamais terá sede, (…) e a vontade de Meu Pai é esta: que todo aquele que vê o Filho e acredita n’Ele tenha a vida eterna; e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia”. (Jo 6,35.40).
Verdadeiramente Cristo derramou o Seu Sangue pela humanidade inteira, por todos, sem excluir ninguém. Mas é verdade também que nem todos se interessam e esforçam por acolher na sua vida Jesus Cristo, o preço do seu resgate, excluindo-se a si mesmos da Redenção. Como não pensar que tantos que não sabem ou não querem alimentar-se do Seu Corpo e do Seu Sangue? Que será deles? “Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a Carne do Filho do Homem e não beberdes o seu Sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6,53). Esta é a resposta que nos dá Jesus Cristo, a propósito dos que não querem aproveitar-se dignamente do dom que Ele nos oferece, isto é, do Seu Corpo e do Seu Sangue, vivo e presente no sacramento da Eucaristia.
“Os que abandonam a oração do Terço e não tomam diariamente parte no Santo Sacrifício da Missa, nada têm que os sustente, acabando por se perderem no materialismo da vida terrena”
Nono Apelo à intimidade com a Santíssima Trindade: “Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, adoro-Vos profundamente”
Aqui a Mensagem propõe à nossa fé e à nossa adoração o mistério de Deus uno e trino em pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; propõe-nos o mistério da Santíssima Trindade: um só Deus e três Pessoas distintas.
Trata-se de um mistério que nos foi revelado e que só no Céu nos será dado compreender perfeitamente. Acreditamos nele, porque Deus o revelou, e sabemos que a nossa limitada compreensão está a muita distância do poder e da sabedoria de Deus.
Mas é sobretudo a Sagrada Escritura que nos fala e revela, em diversos lugares, este mistério da Santíssima Trindade, como, por exemplo, quando S. Lucas nos descreve o mistério da encarnação do Verbo, o “Filho do Altíssimo”. Ao responder a uma dificuldade de Maria, o Anjo disse-lhe: “O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo estenderá sobre ti a Sua sombra. Por isso mesmo é que o Santo que vai nascer há-de chamar-Se Filho de Deus” (Lc 1,35). Aparecem aqui mencionadas as três Pessoas divinas: o Espírito Santo que desce sobre a Virgem; o Altíssimo (a Quem Jesus Cristo, o “Filho do Altíssimo”, chamou Pai) que gera o Verbo; e o Filho que vai nascer e que, como disse o Anjo, “há-de chamar-Se Filho de Deus”.
Gerado pelo Pai desde a eternidade, Jesus Cristo é concebido e nasce, no tempo, da Virgem Maria. Enquanto homem começou a existir no momento da Sua encarnação no seio da Virgem Mãe; enquanto Deus existiu sempre com o Pai e o Espírito Santo. Diz-nos S. João: “No princípio já existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio, com Deus. (..) E o Verbo fez-se homem e habitou entre nós” (Jo 1,1-2.14).
Várias vezes, no Evangelho, encontramos Jesus Cristo a falar d’Eles, os Três – do Pai, do Filho e do Espírito Santo -, e a Si mesmo dá o nome de Filho: “Tudo quanto pedirdes em Meu nome, Eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. (…) Mas o Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em Meu nome, Esse ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito” (Jo 14,13.26). Noutro lugar diz: “O Pai ama o Filho e pôs todas as coisas nas Suas mãos” (Jo 3,35) e, mais adiante, “Assim como o Pai ressuscita mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida àquele que quer” (Jo 5,21).
Vemos que Jesus pede ao Pai a nossa união com a Santíssima Trindade: “Como Tu, ó Pai, estás em Mim e eu em Ti, que também eles estejam em Nós”. Isto mesmo é a nossa vida sobrenatural, porque estar em Deus é viver a vida de Deus: Deus presentes em nós, e nós mergulhados em Deus.
No Apocalipse, S. João diz que não viu templo algum na cidade de Deus, “porque o Senhor, Deus todo-poderoso, é o seu templo, assim como o Cordeiro. A cidade não necessita de sol nem de lua para a iluminar, porque é iluminada pela glória de Deus e a sua luz é o Cordeiro” (Ap 21,22-23). O Cordeiro é Cristo; a luz de Cristo é a nossa vida, e nós vivemos mergulhados nessa luz e somos assim um louvor para glória de Deus, caminhamos à luz da Sua glória e por ela somos transformados em templo de Deus: “N’Ele qualquer construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo no Senhor, em união com o Qual também vós sois integrados na construção, para vos tornardes, no Espírito, habitação de Deus” (Ef 2,21-22).
A nossa grandeza é imensa: fomos escolhidos por Deus, somos guardados por Deus, somos santificados pela presença de Deus para louvor da Sua glória, somos sacrários vivos onde habita a Santíssima Trindade, somos casa de Deus e porta do Céu!
Ó Trindade Santa, a Quem eu adoro, a Quem eu amo, a Quem eu hei-de cantar eterno louvor! Em mim, Tu és luz, és graça, és amor! Mergulho em Ti e me abismo no amor do Teu Ser.
Décimo Apelo à reza diária do Terço
Este apelo foi feito, pela primeira vez, no dia 13 de Maio de 1917, quando as três pobres crianças de Aljustrel se encontravam a pastorear os seus rebanhos no campo chamado Cova da Iria.
Como de costume, depois do meio-dia, as três crianças comeram as suas merendas e rezaram. Em seguida, começaram, por entretimento, a fazer um pequeno muro de pedras soltas à volta de um arbusto chamado «moita», que a gente costumava utilizar para fazer vassouras, e, por isso, queriam resguardá-lo para que os animais não o roessem. Isto porque, quando encontravam tais arbustos em boas condições, gostavam de os deixar crescer para deles fazerem depois vassouras, que entregavam à mãe, quando à noite regressavam aos seus lares.
Então, para as crianças era uma festa ver os pais contentes com os seus presentes e as suas carícias, pelo que cada uma primava em buscar tudo aquilo com que, mais e melhor, lhe podia dar gosto e alegria. Pobres sim, mas felizes! Porque aquilo que dá a felicidade não é a riqueza nem os entretimentos, tantas vezes perigosos, mas o amor. Na verdade, amar e sacrificar-se por amor é o que dá aos lares a felicidade, a alegria, a paz e o bem-estar.
Como estava a contar, as humildes crianças entretinham-se, despreocupadas, a brincar, quando de repente foram surpreendidas pelo reflexo de uma luz, que elas supuseram fosse um relâmpago. O dia estava sereno, o sol brilhava claro como no tempo melhor da Primavera, mas as crianças eram tão pequenas que nem sabiam examinar o aspecto da atmosfera. Habituadas a verem relâmpagos, apenas quando havia trovoada, não pensam em mais nada senão tocar apressadamente o rebanho para regressarem a casa, antes que se desencadeasse alguma tempestade.
Poucos passos andados pela descida da encosta, fere-lhes a vista o reflexo da mesma luz, que julgam ser um segundo relâmpago, o que as faz apressar o passo ainda mais e tocar as ovelhas com maior diligência. Uns passos mais e, aproximadamente a meia encosta, param surpreendidas ao verem sobre uma pequena carrasqueira a linda Senhora de luz. Não têm medo, porque o sobrenatural não incute medo; causa apenas uma agradável surpresa de fascinante atrativo.
A meiga Senhora descerra os lábios e, como que para iniciar o diálogo, dirige às crianças as seguintes palavras: «Não tenhais medo, eu não vos faço mal».
Penso que estas palavras de Nossa Senhora — não tenhais medo — não se referiam ao medo que pudéssemos ter d’Ela, porque bem sabia Ela que não nos incutia medo. Deviam por isso referir-se ao medo com que vínhamos a fugir apressadamente da suposta trovoada, que julgávamos iminente a desencadear-se.
Quebrado o silêncio e animada pela confiança que a doce Senhora inspirava, perguntei:«Donde é Vossemecê?» «Sou do Céu — respondeu Ela. «E que é que Vossemecê me quer?» — perguntei. Respondeu: «Vim para vos pedir que venhais aqui seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora, depois vos direi quem sou e o que quero. Depois, voltarei ainda aqui uma sétima vez».
Enquanto ouvia esta resposta, o pensamento de que estava a falar com uma pessoa vinda do Céu animou-me e perguntei se também a mim me seria concedida a dita de ir para o Céu, ao que a Senhora respondeu: «Sim, vais».
«E a Jacinta?» perguntei. «Também» — respondeu. «E o Francisco?» — insisti. «mas tem de rezar muitos Yerços» —respondeu.
Penso que esta recomendação feita ao Francisco é para todos nós.
Sabemos bem o quanto somos fracos, resvalamos e caímos. Sem o auxílio da graça, não conseguiremos levantar-nos nem vencer as tentações. Ora esta força de que necessitamos e que nos vem com a graça, só a conseguiremos no encontro da nossa alma com Deus, por meio da oração. Foi o que Jesus Cristo disse e recomendou aos Seus Apóstolos, pouco antes de Se entregar à morte por nós: «Vigiai e orai para não cairdes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca» (M26,41). E deu-nos o exemplo, preparando-Se com a oração do Getsêmani para o sacrifício e para a morte. Além disso, entre outras coisas do Pai-Nosso, ensinou-nos a pedir: «E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal» (Mt6,13).
Voltando à aparição de Nossa Senhora… Lembrei-me em seguida de Lhe perguntar por uma rapariga minha conhecida, que tinha falecido havia pouco tempo; a resposta dada por Nossa Senhora certifica-nos da verdade da existência do Purgatório, e é, ao mesmo tempo, mais uma prova da necessidade que temos de orar.
Conta o texto sagrado que S. Pedro, aproximando-se de Jesus, perguntou-Lhe: «“Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes lhe deverei perdoar? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo sete vezes, mas setenta vezes sete”». E continuou: «Por isso, o reino dos Céus é comparável a um rei que quis ajustar contas com os seus servos. Logo ao princípio, trouxeram-Ihe um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo ele com que pagar, o senhor ordenou que fosse vendido com a mulher, os filhos e todos os seus bens, para assim pagar a dívida. O servo lançou-se então aos seus pés, dizendo: “Concede-me um prazo e pagar-te-ei tudo”. Levado pela compaixão, o senhor daquele servo deu-lhe liberdade e perdoou-lhe a dívida.
«Ao sair, o servo encontrou um dos seus companheiros, que lhe devia cem denários. Segurando-o, apertou-lhe o pescoço e sufocava-o, dizendo: “Paga o que me deves!” O outro caiu a seus pés, suplicando: “Concede-me um prazo e pagar-te-ei”. Mas ele não concordou e mandou-o prender até que lhe pagasse tudo quanto lhe devia.
«Testemunhas desta cena, os seus companheiros, contristados, foram contar ao seu senhor o que havia acontecido. O senhor mandou-o, então, chamar e disse-lhe “Servo mau, perdoei-te tudo o que me devias, porque assim mo suplicaste; não devias igualmente ter piedade do teu companheiro como eu tive de ti?” E o senhor, indignado, entregou-o aos verdugos, até que pagasse tudo o que devia. Assim procederá convosco Meu Pai celestial, se cada um de vós não perdoar do fundo do coração a seu irmão» (Mt18,21-35).
Este servo, que pelo débito acumulado corria o risco de ser condenado, lançou-se aos pés do seu senhor, suplicando piedade e um tempo de espera para poder saldar as suas dívidas: «um prazo e pagar-te-ei tudo». Ora, nesta possibilidade de ter ainda um prazo para satisfazer pelo que falta pagar, podemos ver uma imagem do que se passa com o Purgatório: este é um tempo de espera para nos purificarmos das faltas não confessadas e para satisfazermos a reparação que ainda devamos pelos nossos pecados, porque, enquanto vivíamos neste mundo, não fizemos bastante penitência pelos mesmos.
Ao princípio, o servo da parábola suplicou e obteve o perdão absoluto de tudo, mas depois voltou a pecar, sendo cruel com o seu companheiro, acabando aquele por ter de fazer penitência e pagar tudo o que devia ao seu senhor. Assim nos acontecerá a nós —concluía Jesus Cristo. O mesmo sucederá a nós, se, para além do perdão que pedimos e obtivemos no sacramento da Penitência para os nossos pecados, não tivermos feito uma condigna reparação pelos mesmos, na qual sempre está incluída a obrigação de sermos misericordiosos com o próximo, como Deus o foi conosco.
Também assim nos ensinou Jesus a rezar: «Pai nosso, (…) perdoai-nos as nossas dividas, assim como nós perdoamos os nossos devedores (Mt6,12). Aqui está claro que, para obter o perdão dos nossos pecados, temos de o pedir a Deus, e que a medida a receber de perdão será a mesma que tivermos usado com o próximo, perdoando-lhe as ofensas que nos tiver feito. Perdoai e sereis perdoados, como explica Jesus ao concluir a oração dominical: «Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas» (Mt 6,14-15).
Esta passagem da Sagrada Escritura ajuda-nos a compreender melhor esta verdade da nossa fé que é o Purgatório, como um lugar de expiação onde as almas dos que morrem em graça se purificam das manchas do pecado, antes de serem admitidas na posse da bem-aventurança eterna junto de Deus.
Por isso, Nossa Senhora, respondendo à pergunta que Lhe dirigi sobre essa rapariga — a Amélia —, disse: «Está no Purgatório até ao fim do mundo». Talvez nos pareça muito, mas a misericórdia de Deus é sempre grande. Pelos nossos pecados, quanto O temos ofendido gravemente e com isso merecido o Inferno! Apesar disso, Ele perdoa-nos e concede tempo para pagarmos por eles e, mediante uma reparação e purificação, sermos salvos. Mais ainda, aceita as orações e sacrifícios que outros Lhe ofereçam, por aqueles que se encontrem nesse lugar de expiação.
A seguir, Nossa Senhora dirigiu às humildes crianças esta pergunta: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores?» Ao que respondi, em nome dos três: «Sim, queremos!» Na ocasião, esta resposta foi dada de modo espontâneo e inconsciente, porque nem ao de leve supunha o que ela viria a representar ou o seu pleno alcance. Mas, nunca me arrependi dela, antes, renovo-a cada dia, pedindo a Deus a graça e a força precisa para a cumprir, com fidelidade, até ao fim.
Esta pergunta de Nossa Senhora faz-me lembrar aquela que Jesus Cristo fez aos dois filhos de Zebedeu, quando estes Lhe pediram os dois primeiros lugares no Reino do Céu, e Ele «retorquiu: “Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para beber? Eles responderam-Lhe: “Podemos”» 21,22).
Para nos salvarmos, todos temos de beber o cálice do sacrifício, da renúncia aos próprios gostos quando são ilícitos, às próprias inclinações quando elas nos arrastam pelo caminho do mal, às próprias comodidades se exageradas; e, ao contrário, temos de abraçar os sacrifícios que a vida traz consigo, tanto de ordem material e física, como moral, social e espiritual.
Ora este sacrifício cai sobre todos, mesmo sobre aqueles que não têm a felicidade de possuir o dom da fé. Também eles encontram no seu caminho o sacrifício, porque toda a humanidade está marcada com o sinal da cruz redentora de Cristo, mesmo que não a conheça ou não queira aproveitar-se dela. Todos temos de levar a parte da cruz de Cristo que nos toca na obra da Redenção, porque a cruz pesa por causa do pecado, ou melhor, o pecado traz consigo o peso da cruz.
Na verdade, foi para apagar em nós as manchas do pecado que Jesus tomou sobre Si o peso da cruz. Mas, para que este ato de Cristo nos aproveite, é preciso que cada um de nós leve, com fé e amor, a sua própria cruz atrás da de Cristo, em união com Cristo; por outras palavras, é preciso o sacrifício, aceite e oferecido a Deus com Cristo, pelos próprios pecados e pelos pecados dos nossos irmãos. É neste sentido que a Mensagem nos pergunta a todos, porque ela é para todos: «Quereis oferecer-vos a Deus para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser enviar-vos, em ato de reparação pelos pecados com que Ele é ofendido e de súplica pela conversão dos pecadores»?
Mas, para uma natureza frágil e decaída pelo pecado como a nossa, o suportar constante, generosa e meritoriamente o sacrifício não é possível, sem um auxílio especial da graça de Deus que nos sustente e fortifique. Por isso, Nossa Senhora respondeu ao «Sim» pobre e humilde das crianças com a promessa do auxílio da graça: «Ides, pois, ter muito que sofrer, mas a graça de Deus será o vosso conforto».
Oh! estas palavras de Nossa Senhora são para nós um farol de luz! Com efeito, conhecemos a nossa própria fraqueza e sabemos que, por nós mesmos, não somos capazes de produzir frutos de vida eterna, mas só unidos a Cristo, como Ele nos diz no Evangelho: «Quem está em Mim e Eu nele, esse dá muito frutos; porque sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15,5). É por isso que a Mãe do Céu nos promete o conforto da graça de Deus: conforto, no sentido de força para auxiliar a nossa fraqueza; conforto, no sentido de graça que nos vem consolar, animar, ajudar e amparar. E nesta certeza floresce a inspiração da confiança que havemos de ter em Deus.
O suportar o sacrifício, que nos atinge no nosso dia-a-dia, torna-se um martírio lento que nos purifica e eleva para o sobrenatural, para o encontro da nossa alma com Deus, nessa atmosfera da presença da Santíssima Trindade em nós. Encontra-se aqui uma riqueza espiritual incomparável! A pessoa que isto compreendeu vive mergulhada na Luz: nessa Luz que não é a do sol nem a das estrelas, mas, sim, o manancial donde toda a outra luz dimana e recebe o ser. É uma Luz viva, que vê e penetra ao mesmo tempo que ilumina e faz ver o que quer mostrar. É a Luz viva de Deus.
Por isso, as pobres crianças, ao verem-se inundadas por essa Luz e sem entenderem bem o que diziam, são levadas a repetir: «Santíssima Trindade, eu Vos adoro! Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento!» Era a moção do sobrenatural a realizar nelas o que elas, por si mesmas, eram incapazes de fazer. Levava-as a acreditar na presença real de Deus na Eucaristia. É o dom da fé que Deus concede à nossa alma com o sacramento do Batismo.
E Nossa Senhora termina a sua Mensagem, desse dia 13 de maio de 1917, dizendo: «Rezem o terço todos os dias, para alcançarem a paz para o mundo e o fim da guerra»
Qual terá sido o motivo por que Nossa Senhora nos mandou rezar o Terço todos os dias, e não mandou ir todos os dias assistir e tomar parte na Santa Missa?
Trata-se de uma pergunta que me tem sido feita muitas vezes, e à qual gostava de dar a resposta agora. Certeza absoluta do porquê não a tenho, porque Nossa Senhora não o explicou e a mim também não me ocorreu de Lho perguntar. Digo, por isso, simplesmente o que me parece e me é dado compreender a este respeito. Na verdade, a interpretação do sentido da Mensagem deixo-a inteiramente livre à Santa Igreja, porque é a Ela que pertence e compete; por isso, humildemente e de boa vontade me submeto a tudo o que Ela disser e quiser corrigir, emendar ou declarar.
A respeito da pergunta acima feita, penso que Deus é Pai; e como Pai acomoda-se às necessidades e possibilidades dos Seus filhos. Ora, se Deus, por meio de Nossa Senhora, nos tivesse pedido para irmos todos os dias participar e comungar na Santa Missa, por certo haveria muitos a dizerem, com justo motivo, que não lhes era possível. Uns, por causa da distância que os separa da Igreja mais próxima onde se celebra a Eucaristia; outros, porque não lho permitem as suas ocupações, os seus deveres de estado, o emprego, o seu estado de saúde, etc. Ao contrário, a oração do Terço é acessível a todos, pobres e ricos, sábios e ignorantes, grandes e pequenos.
Todas as pessoas de boa vontade podem e devem, diariamente, rezar o seu Terço. E para quê? Para nos pormos em contato com Deus, agradecer os Seus benefícios e pedir-Lhe as graças de que temos necessidade. É a oração que nos leva ao encontro familiar com Deus, como o filho que vai ter com o seu pai para lhe agradecer os benefícios recebidos, tratar com ele os seus assuntos particulares, receber a sua orientação, a sua ajuda, o seu apoio e a sua bênção.
Dado que todos temos necessidade de orar, Deus pede-nos, digamos como medida diária, uma oração que está ao nosso alcance: a oração do Terço, que tanto se pode fazer em comum como em particular, tanto na Igreja diante do Santíssimo como no lar em família ou a sós, tanto pelo caminho, quando de viagem, como num tranquilo passeio pelos campos. A mãe de família pode rezar enquanto embala o berço do filho pequenino ou trata do arranjo de casa. O nosso dia tem vinte e quatro horas… não será muito se reservarmos um quarto de hora para a vida espiritual, para o nosso trato íntimo e familiar com Deus!
Por outro lado, eu creio que, depois da oração litúrgica da Santo Sacrifício da Missa, a oração do santo Rosário ou Terço, pela origem e sublimidade das orações que o compõem e pelos mistérios da Redenção que recordamos e meditamos em cada dezena, é a oração mais agradável que podemos oferecer a Deus e de maior proveito para as nossas almas. Se assim não fosse, Nossa Senhora não o teria recomendado com tanta insistência.
Ao dizer Rosário ou Terço, não quero significar que Deus necessite que contemos as vezes que Lhe dirigimos as nossas súplicas, os nossos louvores ou agradecimentos. Certamente Deus não precisa que os contemos: n’Ele tudo está presente! Mas nós precisamos de os contar, para termos a consciência viva e certa dos nossos atos e sabermos com clareza se temos ou não cumprido o que nos propusemos oferecer a Deus cada dia, para preservarmos e aumentar o nosso trato de direta convivência com Deus, e, por esse meio, conservarmos e aumentarmos em nós a fé, a esperança e a caridade.
Direi ainda que, mesmo aquelas pessoas que têm possibilidade de tomar parte diariamente na Santa Missa, não devem, por isso, descuidar-se de rezar diariamente o seu Terço. Bem entendido que o tempo apropriado para a oração do Terço não é aquele em que toma parte na Santa Missa. Para estas pessoas, a oração do Terço pode considerar-se uma preparação para melhor participarem na Eucaristia, ou então como uma ação de graças pelo dia fora.
Não sei bem, mas do pouco conhecimento que tenho do trato direto com as pessoas em geral, vejo que é muito limitado o número das almas verdadeiramente contemplativas que mantêm e conservam um trato de íntima familiaridade com Deus que as prepare dignamente para a recepção de Cristo, na Eucaristia. Assim, também para estas, se torna necessária a oração vocal, o mais possível meditada, ponderada e refletida, como o deve ser o Terço.
Há muitas e belas orações que bem podem servir de preparação para receber Cristo na Eucaristia e para manter o nosso trato familiar de íntima união com Deus. Mas não me parece que encontremos alguma mais que se possa indicar e que melhor sirva para todos em geral, como a oração do Terço ou Rosário. Por exemplo, a oração da Liturgia das Horas é maravilhosa, mas não creio que possa ser acessível a todos, nem que alguns dos salmos recitados possam ser bem compreendidos por todos em geral. É que requer uma certa instrução e preparação que a muitos não se pode pedir.
Talvez por todos estes motivos e outros que nós não conhecemos, Deus, que é Pai e compreende melhor do que nós as necessidades dos Seus filhos, quis pedir a reza diária do Terço condescendendo até ao nível simples e comum de todos nós para nos facilitar o caminho do acesso a Ele.
Enfim, tendo presente o que nos tem dito, sobre a oração do Rosário ou Terço, o Magistério da Igreja ao longo dos anos — alguma coisa vos recordarei mais adiante —, e o que Deus, por meio da Sua Mensagem, tanto nos recomenda, podemos pensar que aquela é a fórmula de oração vocal que a todos, em geral, mais nos convém, e da qual devemos ter sumo apreço e na qual devemos pôr o melhor empenho para nunca a deixar. Porque melhor do que ninguém, sabem Deus e Nossa Senhora aquilo que mais nos convém e de que temos mais necessidade. E será um meio poderoso para nos ajudar a conservar a fé, a esperança e a caridade.
Mesmo para as pessoas que não sabem ou não são capazes de recolher o espírito a meditar, o simples ato de tomar as contas na mão para rezar é já um lembrar-se de Deus, e o mencionar em cada dezena um mistério da vida de Cristo é já recordá-los, e esta recordação deixará acesa nas almas a terna luz da fé que sustenta a mecha que ainda fumega, não permitindo assim que se extinga de todo.
"Pelo contrário, os que abandonam a oração do Terço e não tomam diariamente parte no Santo Sacrifício da Missa, nada têm que os sustente, acabando por se perderem no materialismo da vida terrena."
Assim, o Rosário ou Terço é a oração que Deus, por meio da Sua Igreja e de Nossa Senhora, nos tem recomendado com maior insistência para todos em geral, como caminho e porta de salvação: «Rezem o Terço todos os dias» (Nossa Senhora, 13 de Maio de 1917).
Décimo Primeiro Apelo ao Apostolado
“A Mensagem de Fátima pede-nos o apostolado junto dos nossos irmãos. O apostolado é a continuação da missão de Cristo sobre a terra; devemos ser cooperadores de Cristo na Sua obra da Redenção, na salvação das almas”
Segundo Irmã Lúcia, a Mensagem de Fátima lembra-nos que o primeiro passo do nosso apostolado e condição necessária para que este dê fruto é a nossa união com Cristo, por meio da oração.
«Rezai, rezai muito e fazei sacrifícios pelos pecadores, que vão muitas almas para o Inferno por não haver quem se sacrifique e peça por elas» (Nossa Senhora, 19 de Agosto de 1917).
Nesta passagem, a Mensagem pede-nos o apostolado junto dos nossos irmãos. O apostolado é a continuação da missão de Cristo sobre a terra; devemos ser cooperadores de Cristo na Sua obra da Redenção, na salvação das almas. Existe o apostolado da oração, sobre o qual tem de assentar todo o restante apostolado, para ser eficaz e fecundo; há o apostolado do sacrifício: o daqueles que se imolam, renunciando a si próprios, pelo bem dos seus irmãos; e temos o apostolado da caridade, que é a vida de Cristo reproduzida em nós pela nossa entrega a Deus ao serviço do próximo.
Assim, em primeiro lugar, temos o apostolado da oração. Orar em união com Cristo pela salvação dos nossos irmãos. Jesus Cristo continua em oração sobre a terra no sacramento do altar, onde Se oferece constantemente ao Pai como hóstia de propiciação pela salvação dos homens. É pela nossa união com Cristo, na Eucaristia, que a nossa oração se eleva até junto de Deus pela salvação dos nossos irmãos.
Pouco antes de Se entregar à morte, Jesus Cristo disse aos Seus discípulos: «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós (…); porque sem Mim nada podeis fazer» (Jo 15,4.5). Estas palavras significam que é pela nossa oração que o nosso apostolado há-de dar fruto: sem ela, nada podemos fazer! Na Sua oração ao Pai, Jesus disse: «Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão-de crer em Mim, para que todos sejam um só; como Tu, ó Pai, estás em Mim e Eu em Ti, que também eles estejam em Nós, para que o mundo creia que Tu Me enviaste» (Jo 17,20-21). O Senhor insiste na nossa união com Ele, para que o nosso apostolado dê fruto, e o mundo acredite que Ele foi enviado pelo Pai. E tal insistência é a expressão da ânsia salvadora que transborda do Seu Coração divino: ânsia de que permaneçamos unidos entre nós e com Ele, para que a Sua obra redentora de fruto a favor dos nossos irmãos: «Rogo (…) por aqueles que pela sua palavra, hão-da crer em Mim» E Jesus conclui a oração sacerdotal, pedindo ao Pai, para nós, a graça de compartilharmos a Sua própria vida: «Pai, quero que aqueles que Me deste, onde Eu estiver, também eles estejam comigo (…) Dei-lhes a conhecer o Teu nome e dá-lo-ei a conhecer, para que o amor com que Me amaste esteja neles e Eu esteja neles também» (Jo 17,24.26). O amorne o laço da nossa união com Cristo; aquele valoriza a nossa oração e torna-a fecunda para a salvação dos nossos irmãos.
Este é o primeiro passo do nosso apostolado e condição necessária para que este dê fruto: a nossa união com Cristo, por meio da oração. Tanto a oração vocal que nos faz encontrar com Cristo, como a oração do sacrifício pela qual nos imolamos com Cristo e ainda a oração do amor que é a nossa entrega com Cristo ao Pai pela conversão dos nossos irmãos.
Jesus Cristo deu-nos o exemplo. Antes de iniciar o apostolado, em Sua vida pública, retirou-Se para o deserto, a fim de aí orar e fazer penitência e jejum durante quarenta dias: «Cheio do Espírito Santo, Jesus retirou-Se do Jordão e foi levado pelo Espirito ao deserto onde esteve durante quarenta dias (…) Não comeu nada durante esses dias» (Lc4,1-2). E, com frequência, anotam os Evangelistas que Jesus deixava o bulício das multidões, que O seguiam, e retirava-Se para orar na solidão.
Numa destas ocasiões, ao regressar para junto dos Seus discípulos encontrou-os impotentes para libertar um endemoninhado. E quando, mais tarde em casa, quiseram saber o motivo por que não puderam expulsar aquele Demônio, o Senhor respondeu-lhes. «Esta casta de Demônios só pode ser expulsa com oração e jejum» (Mc 9 29) Esta espécie teimosa de Demônios faz-me lembrar as tentações do orgulho, que são as mais graves e difíceis de vencer, em nós mesmos e no próximo, porque cegam e não deixam ver o precipício para onde se está a resvalar. Como diz o Senhor aqui requer-se a oração e a penitência, porque só por elas reencontraremos a virtude da humildade, que nos leva a pedir a Deus a Sua força e graça.
Quando sobre o povo de Israel pendia uma sentença de extermínio por ter ofendido a Deus com o pecado da idolatria, Moisés subiu à montanha, para lá se encontrar com o Senhor e implorar-Lhe o perdão para o seu povo. Deus atendeu a oração dele e poupou o Seu povo, limitando o castigo aos culpados: «Apagarei do Meu livro aquele que pecou contra Mim. Vai agora e conduz o povo para onde te disser. O Meu Anjo caminhará diante de ti» ( 32,33-34). Aqui vemos o Senhor, sempre bom e misericordioso, que coopera com os que trabalham em união com Ele; é um modelo do apostolado que tem por base a oração e que parte do trato direto com Deus. Moisés é o apóstolo do povo de Israel, mas, antes de dar ao povo as suas diretrizes, fala com Deus e de Deus recebe aquilo que há-de transmitir ao seu povo. Por isso, Deus o auxilia, prometendo-lhe enviar um Anjo que vá à sua frente.
Sem esta vida de oração e trato com Deus, todo o apostolado é nulo, porque é Deus que tem de dar a eficácia ao nosso trabalho, às nossas palavras e aos nossos esforços. Por isso, a Mensagem nos diz: «Orai e sacrificai-vos» para, com as vossa orações, as vossas palavras, os vosso exemplos, os vossos sacrifícios, os vossos trabalhos e a vossa caridade, conseguirdes ajudar os vossos irmãos a levantarem-se se estão caídos, a voltarem ao bom caminho se andam extraviados, e a aproximarem-se de Deus se vivem afastados; conseguirdes ajudá-los a vencerem as dificuldades, os perigos e as tentações que os cercam, seduzem e arrastam. E tantos dos nossos irmãos caem, muitas vezes, vencidos, porque não encontram ao seu lado quem ore e se sacrifique por eles, dando-lhes a mão e ajudando-os a seguir por um caminho melhor.
Neste campo do apostolado, todos temos uma missão a cumprir, que nos foi confiada por Deus: todos somos responsáveis pelo nosso próximo e, pelo Batismo, participamos do sacerdócio de Cristo Salvador, como também entramos a fazer parte do Seu Corpo Místico, com um lugar e deveres próprios a cumprir. Os homens não foram criados como seres estranhos entre si, chamados a ignorarem-se eternamente, mas seres solidários e irmãos que se amam, auxiliam e reúnem à volta do Pai, que quotidianamente provê ao seu alimento e vestuário; d’Ele recebem a mesma bênção e orientam-se para o mesmo destino, a Casa do Pai.
Nesta união dos filhos com o seu Pai do Céu, consiste o verdadeiro apostolado; ela é a graça e a porta da salvação, senão vejamos o que nos diz a oração sacerdotal de Cristo: «Pai Santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste, para que sejam um, assim como Nós. Enquanto estava com eles no mundo, guardava-os em Teu nome. Guardei aqueles que Me deste e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição» (Jo 17,11-12). Estas palavras de Jesus devem servir para não nos desalentarmos, quando encontramos, no nosso caminho, alguns filhos da perdição que resistem à graça, à tenacidade da nossa caridade, dos nossos esforços, dos nossos sacrifícios e das nossas orações. São os filhos da outra geração que Satanás arrasta pelos caminhos da perdição.
Isto concorda com o que Deus dissera a Moisés: «Apagarei do Meu livro aquele que pecou contra Mim. (Mas tu) vai agora, e conduz o povo para onde te disser. O Meu Anjo caminhará diante dia ti» (Ex 32,33-34). Lá porque uns se obstinam no mal, o Senhor, sempre misericordioso, não faz perecer os outros, mas ordena a Moisés que continue o seu apostolado, conduzindo o seu povo pelos caminhos do Senhor. Cada um assume a responsabilidade pelos seus atos, de modo que aquele que pecou e se obstina no seu pecado, esse é riscado do Livro da Vida, mas não o seu irmão que se arrependeu e deixou conduzir pela mão do Senhor.
Verdadeiramente misericordioso é o nosso Deus! E misericordiosos havemos de ser também nós, criados à Sua imagem e semelhança. Por isso, Jesus Cristo disse: «Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (Mt 12,7), citando palavras do profeta Oseias, que assim interpreta os sentimentos do coração de Deus: «Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios, o conhecimento de Deus mais que os holocaustos» (Os 6,6). Temos aqui o apostolado do perdão com o qual devemos levar os nossos irmãos ao conhecimento de Deus. Que eles encontrem em nós sentimentos de perdão, que se tornem para eles o reflexo da misericórdia de Deus.
Pensemos que Deus fez depender a concessão do Seu perdão a nós, de igual medida nossa a respeito de quem nos tiver ofendido: «Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas» (Mt6,14-15). Esta exigência do perdão ao nosso próximo obriga-nos a vencer as tentações do orgulho, que levam à vingança. É uma lei ditada por Deus, já no Antigo Testamento: «Não vingarás nem guardarás rancor aos filhos de teu povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Eu sou o Senhor» (19,18). Como Deus aqui nos manda, é preciso contrapor à tentação da vingança, do desprezo ou da frieza, o apostolado da caridade, que leva consigo o perdão, o pagar o mal com o bem e o orar por aqueles que nos perseguem. Temos de imitar Jesus Cristo, que, na cruz, pediu ao Pai perdão para os que O ultrajaram, maltrataram e crucificaram: «Perdoa-lhes, ó Pai, porque não sabem o que fazem» (23,34).
E as palavras do Senhor não deixam margem para dúvidas: «Quando vos puserdes de pé para orar, se tiverdes alguma coisa contra alguém, perdoai-lhe primeiro, para que o vosso Pai, que está nos Céus, vos perdoe também os vossos pecados. Porque, se não perdoardes, também o vosso Pai que está nos céus não perdoará as vossas ofensas» (Mc 11,24-26). E, noutro lugar, o Senhor diz-nos: «Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos amaldiçoam, rezai pelos que vos caluniam» (Lc 6,27-28). Este perdão é o fruto da caridade que arde no Coração de Cristo e que deve animar o nosso apostolado junto dos nossos irmãos: «Vim lançar fogo sobre a terra; e que quero Eu senão que ele já se tenha ateado?» {Lc 12,49).
Mas, este apelo da Mensagem inclui ainda outro aspecto que o nosso apostolado também deve ter. Nossa Senhora, respondendo a uma pergunta referente ao destino a dar aos donativos que o povo, no cumprimento das suas promessas, deixava ficar no local das aparições, disse: «Façam dois andores. Um leva-o tu com a Jacinta e mais duas meninas, vestidas de branco. O outro, que o leve o Francisco com mais três meninos, também vestidos de opas brancas. O dinheiro dos andores é para a festa de Nossa Senhora do Rosário e o que sobrar é para a ajuda de uma capela que hão-de mandar fazer» (Nossa Senhora, 19 de Agosto de 1917).
Os andores a que a Mensagem aqui se refere não são andores de transportar imagens, mas sim de levar em procissão coletiva as ofertas que o povo oferecia ao Senhor. De fato, era costume do povo da terra agradecer a Deus os Seus benefícios, oferecendo-Lhe algo do fruto das suas colheitas, à medida das posses de cada um. Estas ofertas eram recolhidas por mordomos que as colocavam em andores, que eram levados processionalmente nos dias das grandes solenidades. Depois da Missa solene, eram levados em procissão e oferecidos a Deus em agradecimento pelos benefícios recebidos e para as despesas do culto.
Por certo que Nossa Senhora, na resposta que deu, mostrou quanto este simples ato de agradecimento era agradável a Deus, como nós devemos ter para com Deus atenções de reconhecimento, e também o dever que temos de tomar parte e ajudar a sustentar o culto público que Se lhe presta.
De assinalar é ainda o gesto pedido pela Mensagem de nos associarmos a irmãos nossos, para levar com eles ao Senhor as nossas ofertas, os nossos agradecimentos, as nossas orações e os nossos sacrifícios: constitui um ato de colaboração, que anima e dá força ao apostolado, tornando-nos apóstolos uns dos outros.
Certos costumes, que então existiam no povo de Fátima, faziam lembrar usos semelhantes da história bíblica. Eu creio que a gente nesse tempo, sendo na sua maioria analfabeta, ignorava quase por completo a história bíblica, conhecendo apenas algum fato que poucas pessoas, na terra, poderiam ler, no resumo da História Sagrada. Pelo menos no que me diz respeito a mim, assim era; e só muitos anos mais tarde é que me foi possível ler a Bíblia Sagrada, e só então desvendei o significado mais íntimo da Mensagem e a sua relação com a palavra de Deus.
Continuando a nossa descrição sobre mais este aspecto do apostolado, valendo-me de semelhanças da história bíblica com costumes da gente de Fátima de então, recordemos as seguintes determinações feitas por Deus ao Seu povo: «O Senhor falou a Moisés nestes termos: “No décimo dia deste sétimo mês, que é o dia das expiações, haverá para vós uma santa convocação; mortificar-vos-eis, oferecereis um sacrifício ao Senhor e não fareis nenhum trabalho nesse dia, porque é um dia de expiação, destinado a reabilitar-vos diante do Senhor, vosso Deus. Todo aquele que não se mortificar nesse dia será excluído do seu povo, e todo aquele que fizer qualquer trabalho nesse dia, Eu o suprimirei do meio do seu povo. Não fareis então trabalho algum, é uma lei perpétua para os vossos descendentes, em todas as vossas moradas”»
Não é difícil ver representados, neste «décimo dia do sétimo mês», os domingos e dias santos, que a Igreja manda consagrar a Deus; pois bem, nesses dias, temos obrigação de observar aquela lei do Senhor: são dias para prestarmos a Deus o nosso culto, as nossas orações e os nossos sacrifícios.
Noutra ocasião, disse Deus a Moisés: «Dirás o seguinte aos filhos de Israel: “(…)Erigir-Me-ás um altar de terra, sobre o qual oferecerás os teus holocaustos e os teus sacrifícios pacíficos, as tuas ovelhas e os teus bois. Em todo o lugar, onde o Meu nome for lembrado, irei ter contigo para te abraçar”» (Ex 20,22.24). Não sei qual é a interpretação que os teólogos da Igreja dão a esta passagem da Sagrada Escritura. Para mim, ela possui uma beleza encantadora, porque nos mostra a suavidade do amor paternal de Deus. E, sendo nós, em Cristo, a descendência do Povo Eleito, então também a nós hoje são ditas estas palavras do Senhor: «Em todo o lugar, onde o Meu nome for lembrado, irei ter contigo para te abraçar». Deus parece proceder conosco como um pai que está atento ao balbuciar do filho pequenino e, mal este pronuncia o seu nome, corre ao seu encontro, toma-o em seus braços, cobre-o de carícias e abraça-o.
Também, nesta passagem bíblica, Deus nos mostra como Lhe são agradáveis as nossas ofertas e os nossos sacrifícios, quando Lhe são oferecidos em agradecimento pelos benefícios e em reparação pelos pecados próprios e do próximo. Deus é o mesmo hoje que então, pelo que quanto pediu ao Seu povo naquele tempo, pede-o também a nós agora, embora o objeto e a forma da oferta possam ter mudado com o passar dos tempos.
Assim se realiza a sua profecia: «De fato, desde agora todas as gerações me hão-de chamar ditosa, porque me fez grandes coisas o Onipotente. É Santo o Seu nome e a Sua misericórdia vai de geração em geração, para aqueles que O temem» (Lc 1,48-50).
Décimo Segundo Apelo à Devoção ao Coração Imaculado de Maria: «Jesus quer (…) estabelecer no mundo a devoção ao meu Imaculado Coração».
Estabelecer no mundo a devoção ao Coração Imaculado de Maria significa levar as pessoas a uma plena consagração de conversão, doação, íntima estima, veneração e amor. É, pois, neste espírito de consagração e conversão que Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Coração Imaculado de Maria.
Todos sabemos o que representa, numa família, o coração da mãe: é o amor! Na verdade, é o amor que leva a mãe a desvelar-se junto do berço do filho, a sacrificar-se, a dar-se, a correr em defesa do filho. Todos os filhos confiam no coração da mãe, e todos sabem que têm nele um lugar de íntima predileção. O mesmo se passa com a Virgem Maria. Assim diz a Mensagem: «O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus». O Coração de Maria é, portanto, para todos os seus filhos, o refúgio e o caminho para Deus.
Este refúgio e este caminho foi anunciado por Deus a toda a humanidade, logo a seguir à sua primeira queda. Ao Demônio, que tentara os primeiros seres humanos e os levara a desobedecer à ordem divina recebida, o Senhor disse: «Farei reinar a inimizade entre ti e a Mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta esmagar-te-á a cabeça, ao tentares mordê-la no calcanhar» (Gn 3,15). A nova geração que nascerá desta mulher, anunciada por Deus, há-de triunfar na luta contra a geração de Satanás, até lhe esmagar a cabeça. Maria é a Mãe desta nova geração, como se fora uma nova árvore da vida, plantada por Deus no jardim do mundo, para que todos os filhos se possam alimentar dos seus frutos.
Do coração da mãe, recebem os filhos a vida natural, o primeiro alento, o sangue germinador, o palpitar do coração, como se a mãe fosse a corda de um relógio que move dois pêndulos. Olhando a dependência do filhinho nestes primeiros tempos da sua gestação no seio materno, quase poderíamos dizer que o coração da mãe é o coração do filho. E o mesmo podemos dizer de Maria, quando trouxe no seu seio o Filho do Pai Eterno. E assim o Coração de Maria e, de algum modo, o coração desta outra geração cujo primeiro fruto é Cristo, o Verbo de Deus.
E é deste fruto que toda a geração desse Coração Imaculado se há-de alimentar, como disse Jesus: «Eu sou o Pão da Vida. Quem come a Minha carne o bebe o Meu sangue fica em Mim e Eu nele. Assim como (…) Eu vivo pelo Pai, assim também o que Me come viverá por Mim» (Jo 6,48.56-57). E este viver por Cristo é também viver por Maria, porque o Seu Corpo e o Seu Sangue tinha-os Jesus tomado de Maria.
Foi neste Coração que o Pai encerrou o Seu Filho, como se fosse o primeiro sacrário. Maria foi a primeira custódia que O guardou, e foi o sangue do seu Coração Imaculado que ministrou ao Filho de Deus a Sua vida e ser humanado, sendo d’Ele que todos nós recebemos «graça sobre graça» (Jo 1,16).
Esta é a geração desta mulher admirável: Cristo em Si e no Seu Corpo Místico. E Maria é a Mãe desta descendência destinada por Deus a esmagar a cabeça da serpente infernal.
Vemos assim como a devoção ao Coração Imaculado de Maria se há-de estabelecer no mundo por uma verdadeira consagração de conversão e doação. Como, pela consagração, o pão e o vinho se convertem no Corpo e no Sangue de Cristo, hauridos com o ser vital no Coração de Maria.
É desta forma que este Coração Imaculado há-de ser para nós o refúgio e o caminho que leva a Deus.
Formamos assim o cortejo da nova geração criada por Deus, haurindo a vida sobrenatural na mesma fonte germinadora, no Coração de Maria, que é a Mãe de Cristo e do Seu Corpo Místico. Deste modo somos verdadeiramente irmãos de Cristo, como Ele mesmo disse: «Minha mãe e Meus irmãos são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática» (Lc 8,21).
Esta palavra de Deus é o laço que une todos os filhos no Coração da Mãe; aqui se escuta o eco da palavra do Pai, porque Deus encerrou no Coração de Maria a Sua Palavra, o Seu Verbo eterno; e é desta Palavra que nos vem a vida: «Se alguém tem sede, venha a Mim e beba. Do seio daquele que acredita em Mim, correrão rios de água viva, como diz a Escritura» (Jo 7,37-38). Com efeito, lê-se no livro de Isaías: «Derramarei água sobre a terra sequiosa, e rios sobre o solo seco; derramarei o Meu espírito sobre a tua posteridade, a Minha bênção sobre os teus descendentes» (Is 44,3).
Esta terra regada e abençoada é o Coração Imaculado de Maria, e Deus quer que a nossa devoção aí lance raízes, porque foi para isso mesmo que Deus nele depositou tanto amor como em coração de Mãe universal, que consagra e converte a sua geração no Corpo e no Sangue de Cristo, seu Primogênito, Filho de Deus, o Verbo do Pai: «N’Ele estava a Vida e a Vida era a luz dos homens. (…) E o Verbo fez-Se homem a habitou entre nós, e nós vimos a Sua glória, glória que Lhe vem do Pai, como Filho único, cheio de graça e de verdade» (Jo 1,4.14).
Deus iniciou, no Coração de Maria, a obra da nossa Redenção, dado que foi, no seu «fiat», que esta teve princípio: «Maria disse então: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra”» (Lc 1,38). «E o Verbo fez-Se homem e habitou entre nós» (Jo 1,14). E assim, na mais estreita união que pode existir entre dois seres humanos, Cristo começou com Maria a obra da nossa salvação. As palpitações do Coração de Cristo são as palpitações do Coração de Maria, a oração de Cristo é a oração de Maria, as alegrias de Cristo são as alegrias de Maria; de Maria recebeu Cristo o Corpo e o Sangue que hão-de ser respectivamente imolado e derramado pela salvação do mundo. Por isso, Maria, feita uma com Cristo, é a corredentora do gênero humano: com Cristo no seu seio, com Jesus Cristo nos seus braços, com Cristo em Nazaré, na vida pública; com Jesus Cristo subiu ao Calvário, sofreu e agonizou, recolhendo em seu Coração Imaculado as últimas dores de Cristo, as Suas últimas palavras, as últimas agonias e as últimas gotas do Seu sangue, para as oferecer ao Pai.
E Maria ficou na terra para ajudar os seus outros filhos a completar a obra redentora do seu Cristo, conservando-a no seu Coração como em manancial de graça — Ave gratia plena, para nos comunicar os frutos da vida, paixão e morte de Jesus Cristo, seu Filho.
Ave-Maria!
Apelos da Mensagem de Fátima - Irmã Lúcia (Verídica)
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