Saltério Angélico ou Saltério de Jesus e Maria





BEATI Fr. ALANI REDIVIVI RUPENSIS, TRACTATUS MIRABILIS DE ORTU ET PROGRESSU PSALTERII CHRISTI ET MARIAE EIUSQUE FRATERNITATIS.
1847

O Saltério de Jesus e de Maria: gênese, história e revelação do Santíssimo Rosário.
B. ALANO DA ROCHA

Apologia
CAPÍTULO I.

Por que esta oração de socorro é chamada de Saltério de Cristo e Maria?

Oh Reverendíssimo Pai em Cristo, a Santíssima Trindade assegura aos pecadores o arrependimento através do Saltério da Virgem Maria.

1. O nome Saltério origina-se da palavra salmo, e aqueles que através deste servem Deus e a Virgem Maria se chamam Salmodiantes. Esse deriva do Saltério de David, que foi um anúncio da Saudação Angélica. Os Cânticos da velha aliança, segundo Santo Ambrosio, anunciam a Nova Aliança.

2. Para alguns este deriva do sal da divina Sabedoria, visto que a Oração do Senhor e a Saudação Angélica são, de certo modo, as duas salinas da Sabedoria de Deus, com as quais as mentes dos fiéis são banhadas de sal.

3. Outros pensam que este derive do Órgão que os hebreus chamam Nablum, instrumento musical composto por cento e cinqüenta tubos, com os quais normalmente se cantavam os Salmos de David.

4. Ao mesmo tempo, etimológica e teologicamente, o Saltério traz dez grandes resultados, que os devotos Salmodiantes recebem de Cristo e da Virgem Maria. Realmente:
I. P. aos pecadores assegura o arrependimento.
II. S. aos sedentos dá água e sacia.
III. A. aos prisioneiros leva a libertação.
IV. L. a quem chora dá a alegria.
V. T. a quem está na tentação concede tranqüilidade.
VI. É. a quem está na necessidade, dá abundancia.

R. aos religiosos leva a renovação. I. aos inexperientes concede a experiência. V. aos vivos faz vencer a solidão. M. aos mortos concede misericórdia através do socorro.
Passei por situações que comprovaram a realidade e veracidade, e existem ainda outros sinais e milagres: 1. Verdadeiramente este Saltério é um céu estrelado com as cento e cinqüenta estrelas mais importantes da astronomia; 2. É o Paraíso das delícias de Deus, enfeitado com rosas e com cento e cinqüenta guirlandas; as Saudações são as Rosas Angélicas e o conjunto de grupos de cinqüenta Ave Maria é chamado Rosário da Virgem ou Coroa. 3. É a árvore da vida e da ciência, com cento e cinqüenta frutos angelicais, nos quais são contidas todas as graças, que provém de Cristo e da Virgem Maria, como ela mesma revelou.

CAPÍTULO II

Por que o Saltério invoca respectivamente a Jesus Cristo e à Maria Virgem?

Excelentíssimo Superior, a Santíssima Trindade através do Saltério da Virgem Maria, sempre Virgem, aos sedentos dá água e sacia.

I. O Saltério se identifica com a Virgem Maria e dela provém o seu nome, visto que Maria SS. Mãe de Deus teve a doce musicalidade do Saltério da Sinagoga, do Cetro e do Órgão (os Salmodiantes da Virgem Maria são Músicos Angelicais da Rainha do Céu) por dez motivos: 1. A imaculada Virgem Mãe de Deus distancia o diabo, como David com o cetro distanciou o demônio de Saul (1 Sam. 16).

2. A Mãe de Deus nos trouxe o Verbo onipotente, ou seja, a Arca de Deus, como David diante da Arca festejava entre as músicas dos órgãos (2 Sam. 6). 3. Ela obtém para nós a vitória contra os inimigos, como Maria, a irmã de Moisés, depois da vitória a anunciava (Es. 16). 4. Ela ensina aos Santos a profecia, como Eliseu recebeu através do Canto do Saltério o Espírito Santo. 5. Visto que o Espírito Santo através dela cumpriu o matrimônio entre Deus e uma criatura humana, no tálamo virginal, como ensina Beda. 6. Maria SS. inicia o coro do jubileu celeste que louva Deus e a si, como as filhas de Jerusalém, que cantavam: Saul cumpriu mil, mas David dez mil (1 Sam. 18, 7)73. 7. A Paz vem através da Virgem Maria. Seu Filho, enquanto Pedra angular, de duas essências as fez uma só. 8. A Virgem Maria trouxe ao mundo uma alegria imensa, ela que foi ao mesmo tempo de Deus, dos homens e dos anjos. 9. Ela mesma ofereceu um sacrifício de imenso valor a Deus Pai para a salvação do mundo, ou seja, o verbo feito carne. 10. A mesma benigna Virgem Mãe cantou depois da Encarnação, um Cântico divino o Magnificat e os Anjos o Gloria in excelsis, após o nascimento do Senhor dos Anjos. A suavidade destes anunciava que Deus se reconciliou com o gênero humano e com este a natureza Angélica se ligou. Estas dez afirmações eram contidas no Saltério da Sinagoga, como narra Santo Agostinho no Sermão sobre o Saltério da Sinagoga, que inicia com: Louvar Deus no Saltério, etc., identifica com a imaculada Mãe de Deus todas as coisas ditas acima (como será citado posteriormente).

II. Esta oração se identifica com Jesus Cristo e dele provém o seu nome, pelos dez motivos ditos acima, que muito mais precisamente se referem a Cristo, que à Virgem Maria: Cristo é absolutamente primeiro e maior de Maria, mesmo sendo Maria Mãe de Misericórdia, segundo Bernardo, mais indulgente e amigável de Cristo em relação aos pecadores. Ela é Mediadora em relação ao Mediador.
Além destes motivos, existem alguns outros que são particularmente relativos a Jesus. 1. Visto que Cristo é o Saltério da Ressurreição, segundo o Salmo 56,9 que afirma: Eleva a minha alma, elevai Saltério e Cetro. No Saltério de Cristo existem 15 Pater noster para Cristo, que se eleva em nós através da penitência e da devoção, pela verdade da teologia, e por isto esta oração de socorro pode ser chamada Saltério da Ressurreição.
2. Além disso, o mesmo Cristo é o Saltério em dez cordas, como atesta São Jerônimo, visto que é o cumprimento e a recompensa dos dez Mandamentos de Deus, assim como um juiz muito austero para com aqueles que não os observam. 3. Todas as profecias são ordenadas a Cristo, enquanto é a sua causa eficiente, formal, exemplar e final. Em conseqüência, pela razão, Ele está contido no Saltério de David como o mesmo Saltério anunciado segundo a palavra do Mestre. 4. Visto que ele é o Saltério da salvação entregue para a nossa redenção e santificação. Por isso durante a consagração, fundação e reconstrução do Templo cantavam com exultação os Saltérios. 5. Enfim o mesmo Senhor Jesus é a nossa felicidade, alegria espiritual e exultação, tendo cinco portas, diz Santo Anselmo, ou seja, cinco feridas, que conduzem às demoras da felicidade: assim o Profeta (David) escreveu nos Salmos 46 e 97: Exultes em Deus etc... Por estes motivos é clara a razão pela qual o Saltério corresponde particularmente a Jesus Esposo e a Maria Esposa, pela exaltação que se deve a eles.


CAPÍTULO III

Esta oração de socorro pode-se chamar de Saltério, Coroa, Guirlanda ou Rosário?

Reverendíssimo Pai em Cristo e refúgio doce e único dos pecadores, a Piedosa Trindade leva a libertação aos prisioneiros através do Saltério da Virgem Maria.

I. Alguns tentam denominá-lo com diversos nomes, mas, mesmo todos sendo a mesma coisa, um é o mais apto, segundo a Lógica do pai da Igreja Alberto Magno. Esta oração recebe diversos nomes, porém o mais apropriado é Saltério pelas seguintes razões:

1. Porque Ele é em pessoa o Saltério de David. A pessoa e a imagem são chamadas com o mesmo nome, mas não tem o mesmo significado. Assim Cristo é chamado de Leão, Modesto, Pedra, etc... Assim igualmente os termos: Coroa, Rosário e Guirlanda, são muito distantes do verdadeiro significado (como coisas diferentes), em relação ao gênero da oração: acontece o contrário com o Saltério da Igreja, visto que é o princípio e a realidade deste Saltério, é verdadeiramente o mesmo nome dado à Oração. 2. Os termos Coroa, Rosário e Guirlanda, são ditos em sentido figurado, por serem similares: o Saltério na realidade tem origem no nome das Exaltações que se cantavam para Deus, que justamente são orações. 3. Aqueles termos são populares e seguem a efemeridade do mundo, enquanto é chamado de rosário pelas meninas, ele é chamado de Saltério pela Igreja. Por isso com mais devoção os filhos da Igreja devem amá-lo, honrá-lo, utilizá-lo e difundi-lo. 4. O Saltério é uma palavra divina, bíblica, e soa de forma harmônica, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, enquanto os outros nomes tiveram origem na imaginação e no coração dos homens, não por uma razão intrínseca. 5. Coroas, Rosários, Guirlandas são levadas por homens, mulheres e crianças bons e maus, ao invés, o Saltério na Sagrada Escritura é somente para o exercício dos bons e para o culto do único Deus. Então estas duas orações, o Pater e a Ave, sendo as máximas e as principais orações do Novo Testamento, deveriam ser chamados com o nome de Saltério, visto que no exímio culto divino da Sinagoga foi sempre o insigne sagrado instrumento musical. Assim afirmou o Padre e Frei João do Monte no seu (livro) Marial.

II. Os jovens chamam o Saltério pelos novos nomes, mas oferecem muito menos exaltações de antes à Virgem Maria. Eles diminuem o número de orações, visto que, ao invés das cento e cinqüenta Angélicas Saudações, costumeiras, oferecem a Ela apenas cinqüenta. Desde o inicio esta oração foi denominada Saltério porque a Igreja durante as horas Canônicas cantava o Saltério de David. E São Jerônimo ofereceu esse à Igreja de Roma depois de tê-lo traduzido e revisto três vezes: a primeira na língua romana, a segunda na língua gaulesa e a terceira na hebraica.

III. Em seguida o povo imitou a Igreja na prática assídua e no ardor do Saltério. Adotou, o fez seu e o chamou de Saltério de Jesus e de Maria. 1. A prova disso está ainda hoje na Alemanha, onde são muitíssimos aqueles que levam o Patriloquia (Rosário)74 com cento e cinquenta contas. 2. E também em Flandres os idosos ouviram e muitos recordam que a noiva, durante a cerimônia nupcial, pendurava o Saltério, na cintura virginal. 3. Como também a Ordem dos pregadores, sobretudo na Inglaterra, quando alguém é investido de um título ou de uma profissão seguindo um uso antiguíssimo, ainda hoje, é pendurado na roupa e na cinta o Saltério da Mãe e Rainha dos Pregadores.


CAPÍTULO IV

Por que o Saltério é composto de quinze Orações do Senhor?

Oh Devotíssimo Pastor das almas no Senhor Jesus, a amabilíssima Trindade que a quem chora, dá alegria através do Saltério do Triclínio75 da mesma imensa Trindade. A devota mente dos fiéis pode perguntar o porquê de quinze Pater noster.

A isto respondo: 1. Na visão tida por São Bernardo, a divina revelação o explicou: aquele que cada dia, por um ano inteiro, rezar quinze Pater noster, igualará o número das feridas da Paixão de Cristo. As quais todos os Cristãos devem honrar sumamente e adorar. De fato na Paixão do Senhor são quinze as principais dores que os Cristãos devem contemplar com veneração: 1. A Ceia dolorosa. 2. A captura penosa. 3. O vergonhoso tapa na casa de Anna. 4. O sarcasmo e a condenação na odiosa casa de Caifás. 5. O arrastar Cristo em meio aos gritos da multidão até Pilatos. 6. A injuriosa ironia de Erodes em relação a Cristo. 7. O flagelo sanguinário de Cristo. 8. A coroa de espinhos. 9. A blasfêmia dos soldados. 10. A condenação vergonhosa. 11. O fardo da Cruz. 12. A crucificação dolorosa. 13. O colóquio virtuoso de Cristo na Cruz. 14. A comovente morte de Jesus. 15. A sepultura gloriosa do Senhor.

II. Na verdade estas dores são, cada uma, de tão grande valor que, como o Senhor Jesus revelou algumas vezes a São Bernardino e à Santa Brigite, cada uma destas supera grandemente todo o valor do mundo inteiro e do universo criado. Por isso é justo e sagrado que os cristãos recordem e venerem estas dores nas quinze Orações do Senhor no Saltério. Do momento em que: 1. Esta oração foi confiada aos Apóstolos pelo Senhor Jesus (Mt.6). 2. No passado, na Igreja, o rito da Missa se concluía com esta única oração, como testemunham as regras canônicas de São Gregório. 3. A Igreja durante as horas canônicas antepõe esta Oração, como princípio e fundamento das orações da Igreja.

CAPÍTULO V

Por que no Saltério de Cristo e de Maria existem cento e cinqüenta Saudações Angélicas?

Ilustríssimo Pai dos poderes, dos órfãos e das crianças, a Eterna Trindade que a quem está na tentação, concede a tranqüilidade através do Saltério da Virgem. Sobre isso está à importante questão do por que se repetem cento e cinqüenta Ave no Saltério.
I. Esta não é superstição, mas por imitação da Igreja: ao Saltério corresponde o mesmo número de Salmos. Por isso o povo fiel a este número bíblico, que é cheio de significado, se conforma à devota Igreja.

II. Razão profética: visto que Cristo e a gloriosa Maria são profetizados no Saltério de David com tantas virtudes famosas e excelentes, sempre exaltadas pelos Santíssimos Pais da Igreja, tantas outras são aquelas a serem veneradas com as Saudações Angélicas.

III. Razão Mística: este número está de acordo com o mistério das “cento e cinqüenta”, seja em relação à construção da Arca, seja em relação ao Tabernáculo de Moisés, seja do Templo de Salomão, seja em relação à visão de Ezequiel, para a qual o novo número e a forma de Templo foram delineados a ele pela divina revelação. Todavia o número em si traz à mente um número igual, como mesmo o sacro faz imaginar uma coisa sacra, o bíblico uma coisa bíblica. Então no Saltério de Jesus e de Maria o número traz em si a realidade representada no Saltério de David.

IV. Razão Física. É admitido por Filósofos e Teólogos, que as esferas dos céus são onze: 1. Empíreo; 2. Primeiro móvel; 3. Cristalino ou Acqueo; 4. O firmamento estrelado; 5. Céu de Saturno; 6. Céu de Júpiter; 7. Céu de Marte; 8. Céu do Sol; 9. Céu de Vênus; 10. Céu de Mercúrio; 11. Céu da Lua. Além destes existem quatro Princípios primeiros: então cada homem necessita destes onze para viver naturalmente. Tudo isto faz com que qualquer uma das quinze coisas ditas tenha influência, por um lado ou pelo outro, sobre a vida humana. Esta influência pode ocorrer através de dez modos distintos ou dez classes, que são: substância, qualidade, relação, ação, paixão, disposição, tempo, espaço e forma. É evidente que, se multiplicares dez por quinze, cada homem tem em si consequentemente cento e cinqüenta disposições naturais. E essas todas juntas ou separadas, se conservam e se modificam estando sob a Senhoria de Cristo e o patrocínio da Mãe de Deus: é conveniente então, para que cada um possa se conservar neste e distanciar os males contrários, exaltar Jesus e Maria com igual número de Saudações.

V. A Razão Moral demonstra a mesma coisa. De fato as quinze principais virtudes cristas são estas: as três virtudes teologais: Fé, Esperança, Caridade; as sete excelentes virtudes: Humildade, Generosidade, Castidade, Amabilidade, Abstinência, Paciência e Devoção. As quatro virtudes cardeais: Prudência, Justiça, Temperança, Força: esta última é acompanhada pela Abstinência. As duas que restam são: Religião e Penitência. É necessário que todas as outras virtudes de cada realidade criada sejam reconduzidas às estrelas, assim como essas se reconduzem à observância dos dez Mandamentos de Deus. Então de novo multiplicas quinze por dez, e encontrarás em qualquer cristão cento e cinqüenta disposições morais absolutamente necessárias. Todos os bens estão no alto, e é necessário que devotamente se insista no mesmo número de Saudações para Deus e para a Mãe de Deus, não só para os bens a obter de Deus, mas também para evitar os males. Através dela se satisfez Deus em mandar a salvação e o Salvador e através da mesma concede gentilmente a chuva saudável das graças.

VI. A Razão Moral encontra-se em oposição aos quinze vícios ou pecados que são: Infidelidade, Desesperação ou Presunção, Ódio, Soberba, Avareza, Luxúria, Inveja, Gula, Ira, Preguiça, Imprudência, Injustiça, Covardia ou Desconfiança, Impiedade, Impenitência. Estes se opõem ao Decálogo e sem dificuldade se multiplicam obtendo o resultado de cento e cinqüenta. No mais o mesmo número corresponde às virtudes das recompensas nos Céus e aos castigos das culpas do inferno, e mesmo ao número das agressões durante esta vida mortal. Por isso com mais justiça e veneração, deve ser conservado aquele número de orações no Saltério.

VII. A Razão Natural mostra a mesma coisa. Em cada um de nós existe quinze potências naturais e cinco sensos externos conhecidos, cinco interiores, como Senso Comum, Imaginação, Fantasia, Estima e Memória, e cinco potências superiores como Mutabilidade, Sensualidade, Intelecto Agente e Possível, e Vontade. Mesmo com essas potências, Cristo e a Beata Maria quiseram servir a Deus com o Decálogo para si mesmos e para nós: é necessário que as quinze disposições naturais sejam multiplicadas pelo Decálogo e assim se obtém as cento e cinqüenta obras meritórias. Por essas são prometidos prêmios na terra e outros tantos no Céu; que nisto creia verdadeiramente cada fiel. E quem com o mesmo número realizará o culto e a oração? Porque é absolutamente necessário que nós permaneçamos seguros da religiosidade desta (do momento que estamos investidos das mesmas faculdades e legados pelo mesmo Decálogo): o servir a Deus, e à Mãe de Deus em troca de um mesmo tipo de recompensa no Céu, ou perder-se em troca de um mesmo número de tormentos no Inferno. Visto que lá nos convidam tantos dons de graça, enquanto que ali nos ensinam os monstros dos vícios.

VIII. É oferecida esta Razão Sagrada em relação ao Saltério dos três grupos de cinqüenta orações: cada quinquagésimo ano do Jubileu que é de paz, de repouso e sagrado pela liberdade. Jesus e Maria são o Rei e a Rainha de todas as coisas, assim como do Jubileu, e isto é em base à Lei Natural, àquela dada a Moisés sobre o monte Sinai, no quinquagésimo dia da saída de Israel do Egito e em base à Lei da Graça, dada plenamente no dia de Pentecoste, o quinquagésimo dia depois da Ressurreição.
Enfim nos Céus um Jubileu três vezes maior será visto, de Alegria e de Compreensão nos mostrará cada coisa, e a Teologia Cristã fará homenagem. E por que são oferecidos em homenagem a Jesus e a Maria no Saltério três grupos de cinqüenta orações? Com conhecimento de causa digo: quem é ingrato a Deus, e esquecido dos seus dons, a ponto de considerar injusto dar uma das vinte e quatro horas do dia ao culto divino? E em bom direito ocupar essa hora com os três grupos de cinqüenta orações segundo o Saltério. É mais conveniente e justo consagrar a Deus, cada dia, um tempo pequeníssimo em uma tão grande oração.

Direis: para todas as coisas boas, o número maior é melhor do que o menor; por isso, será preferível um número maior em respeito àquele de cento e cinqüenta orações. Mas ultrapassar este número definido para a oração, impede quase uma certa delimitação desta. Eis a ti, filho de David, um castelo, mas terreno: Tens disposto cada coisa na medida, no número, no peso (Sap. 11). Por que se todas as coisas estão presentes nas outras, quantas estão na adoração e ao culto divino? Nestes o Saltério de Jesus e de Maria certamente reivindica a si o primeiro lugar que se deve dar à Oração do Senhor e à Saudação Angélica. E cada um ainda pensará que aquele possa ir vagando sem um número estabelecido? Também o pagão Catão exclamou: A todas as coisas dei uma medida: a medida é uma belíssima virtude. Mas o Saltério na justa medida não peca nem por prolixidade, nem por brevidade; mas está entre uma e outra no centro de dois extremos. Então consta logicamente em si de um número fixo de orações, assim como também de uma medida de suficiente devoção e de uma libra de mérito.

Enfim recordo ter lido que tais razões foram reveladas pela Gloriosa Virgem: pelo valor, estas são totalmente suficientes em si mesmas. Conheci também uma virgem que depois da Comunhão de domingo viu com o olhar divino a benigna Virgem Mãe com uma tríplice Coroa, composta com grupos de cinqüenta belezas: na primeira das quais parece ter visto cinqüenta Rosas, na segunda outros tantos Lírios, na terceira igualmente cinqüenta Pedras preciosas. Não duvido que esta virgem tenha visto coisas verdadeiras; por isso, estas cinqüenta orações com as Coroas, são oferecidas pelos fiéis, à Mãe de Deus.


CAPÍTULO VI

Qual dos dois precede o outro, o Pater ou a Ave?

Ilustríssimo nas ciências intelectuais, Pastor das ovelhas de Cristo, a Beatíssima Trindade que a quem está na necessidade dá abundância através do Saltério da Beatíssima Virgem. Em relação a isto a curiosa insaciabilidade dos seculares perguntará: qual das duas (orações) tem mais valor, a Oração do Senhor ou a Saudação Angélica? Estes se conhecessem as palavras do Filósofo: São odiosas as comparações entre as coisas, silenciariam. Ao invés, sendo imparcial, me terei seguramente no centro: exporei duas reflexões.

A primeira é que a Oração do Senhor em cinco argumentos supera a Anunciação do Senhor: 1. Pelo Autor: a Oração do Senhor foi dita por Cristo, ao invés da Ave que foi dita pelo Arcanjo. 2. Pela forma da oração: tem mais ritmo de oração e é mais correspondente do que a Saudação. 3. Pelo conteúdo: essa contém de fato expressamente todos os bens a pedir e todos os males a serem distanciados, enquanto a Saudação só implicitamente contém estes. Assim afirma o Beato Alberto Magno, acima citado, escrevendo sobre Agostinho. 4. Por fim: A Oração do Senhor indiscutivelmente foi dada à Igreja para orar (Mt. 6), não foi assim com a Saudação Angélica. 5. Em síntese: a Oração do Senhor corresponde mais à sensibilidade humana, à inteligência, à utilidade e à necessidade como testemunham os sete pedidos; a Saudação Angélica, ao invés, toca mais a pessoa de Cristo e de Maria, do que a nossa miséria.

II. A segunda é que a Saudação Angélica, por cinco motivos supera a Oração do Senhor: 1. Pelo objeto: visto que a Saudação é feita à pessoa da Mãe de Deus, que sozinha é mais digna do que a Igreja militante, por causa da graça pela qual foi dada a Oração do Senhor. 2. Pela matéria, porque a Oração do Senhor convém aos pecadores, como àqueles que devem orar: Perdoai as nossas ofensas, etc... Não pode ao invés ser feita a Cristo e a Maria, porque puros de todo o pecado, a pediram apenas em nome da Igreja; ao invés a Saudação Angélica podia também ser recitada piamente por Jesus e Maria. 3. Pela finalidade, ou seja, pela forma: visto que na Encarnação, o conteúdo interno à forma era o divino e não o humano; o conteúdo da Oração do Senhor é limitado, porque se refere ao pedido de bens e à proteção dos males, que formalmente são coisas limitadas. Por isso a Saudação é melhor do que a Oração do Senhor. 4. Pelo valor: visto que a Anunciação comunica a vinda de Cristo, autor da oração do Senhor, e ao mesmo tempo princípio do Novo Testamento, enquanto que a Oração do Senhor não é nenhuma das duas coisas; e todas as excelências supremas de Cristo e de Maria estão presentes nesta. Compreende-se que estas têm a mesma origem, sendo que a Saudação deriva mais do que a Oração do Senhor, que é uma obra de valor de Cristo.

III. A terceira: quais das duas partes do Saltério devem ser mais bem recitadas? Respondo: eu aqui não coloquei uma ordem de necessidade, mas de simples congruência. É oportuno que as coisas que são do Marido, deixem lugar àquelas que sejam da Mulher.

IV. Podes vir a questionar: porque então no Saltério estão colocadas de dez em dez as Saudações em comparação a uma só Oração do Senhor?

Respondo: só a esta oração as dezenas são subordinadas e também acrescentadas; certamente a Oração do Senhor é o fundamento da Igreja e de todos os bens; é necessário que o fundamento seja sempre um, sobre o qual possam ser construídas muitas salas ou edifícios.

V. Podes insistir: por que não se dizem cento e cinqüenta Pater e só quinze Ave? Respondo: porque Cristo é a base primária e principal da fé e não a Mãe de Deus: por isso, não convém que o Saltério se inicie pela Saudação Angélica. 2. Acrescento que cento e cinqüenta Pater, pela excessiva prolixidade poderiam gerar um forte tédio aos membros do povo que oram. 3. Então, como Cristo é invocado por todos junto a Deus, assim Maria Mãe de Misericórdia é mediadora junto à Cristo, é a atenta protetora dos pecadores.

CAPÍTULO VIII

A gênese e a história do Saltério de Cristo e de Maria.

Oh muito Sábio Responsável pelos servos de Cristo, a Honradíssima Trindade aos inexperientes difunde a experiência através do Saltério da benigna Virgem Mãe. Por onde se procura saber o autor, e o período da introdução e da promulgação. Quisesse o Céu que a maior parte das pessoas fosse levada a esta pergunta pela devoção, mais do que pela curiosidade. Temo que desejem a novidade, mais do que prestar atenção às Verdades. O que importa pesquisar quem tenha feito um castelo ou um livro, etc., quando a experiência demonstra que são coisas muito boas. Nem importaria em relação a tais coisas, que o princípio tenha sido ruim, desde que o resultado tenha sido bom. Religiosos e Príncipes maus não podem instituir e deixar para a posteridade boas Leis e Instituições?
1. A Santíssima Trindade criou a Saudação Angélica, o Arcanjo Gabriel a ofereceu à Divina Virgem, Santa Isabel a aumentou e a Igreja aperfeiçoou. Cristo ensinou aos Discípulos a Oração do Senhor, e através destes a prescreveu a toda a Igreja (Mt. 6.2). Desde então se conta que o Apóstolo São Bartolomeu tenha rezado, ajoelhado por cem vezes durante o dia e cem vezes durante a noite. Neste número estão presentes quatro grupos de cinqüenta, dos quais três, rezados neste modo, constituem o
Saltério de Jesus Cristo, sendo composto por cento e cinqüenta Orações do Senhor; assim predispôs aquele Saltério de tantas outras Saudações Angélicas referidas à Maria. Mas o Apóstolo acrescentou um quarto grupo de cinqüenta orações por devoção, conhecida a ele e a Deus. 3. Posteriormente a comunidade dos fiéis, ou seja, a Igreja, que imitava o exemplo de orar na Sinagoga, enquanto recitava os cento e cinqüenta Salmos do Saltério de David, se fixou no mesmo número de Orações do Senhor, as quais os fiéis de Cristo ofereciam a Deus, recitando-as no lugar do Saltério. 4. Verdadeiramente visto que não existia interesse por parte de todos, se recorria àquela lembrança de tantas Orações do Senhor (com o passar do tempo o fervor da fé diminui), em seguida contemporaneamente diminui, também o Saltério de Cristo. Assim está escrito que foi revelado pela Beata Virgem Maria. 5. Ulteriormente os Santos Pais da Igreja, que viviam como monges na vasta solidão do deserto, acolheram o uso popular do Saltério de Maria, que tinha enfraquecido. Esses congregaram na deserta solidão do Oriente, no início a dificuldade das ferozes perseguições, em seguida a devota vontade de cada um. O Apóstolo prefigura a vida destes: Andaram vestidos de pele de ovelha ou de cabra, necessitados, oprimidos, maltratados: o mundo não era digno destes: andavam errando por lugares solitários, por montes, espeluncas e cavernas de terra. E todos estes foram colocados à prova como testemunho da fé etc... (Ebr. 11). Toda a vida deles na terra foi uma luta contra o Mundo, a Carne, o Demônio: vivendo na carne combatiam não segundo a carne (2 Cor. 10). Foram vencedores da carne e de si mesmos, desprezando sem hesitação o mundo: contra as insídias do Diabo e contra os espíritos de corrupção que habitavam nas regiões celestes: as armas de luta deles, não eram carnais, mas potentes em Deus (Ef. 6), se dispuseram ao combate. E quando, às vezes, eles eram angustiados, cruel e violentamente, todos por decisão comunitária, ofereciam orações contínuas a Deus e à Mãe de Deus, implorando ajuda e um remédio às tentações. E também oravam calorosamente.

Foi divinamente revelado àqueles que oram que, se queriam ser liberados das tentações e ser defendidos destas, deveriam criar uma familiaridade muito fervorosa com o Saltério de Jesus e de Maria, que há muito tempo tinha se atenuado em meio ao povo cristão, e o utilizassem com muita regularidade. Apenas se seguiu o estabelecido, logo depois aconteceu uma trégua e o final das tentações: simultaneamente aquele Mosteiro eremita cresceu milagrosamente em número e em santidade, e foi celebrado em todo o mundo, de uma extremidade à outra, pelos milagres e prodígios. Mas (como as vicissitudes de todas as coisas acontecem), com o tempo também o antigo fervor do Instituto eremita diminuiu: pouco a pouco caindo em ruínas à regra da devoção, da vida santa e dos exercícios, e entre estes a prática do Saltério. Essas arrastaram para a ruína aquele tão grande Mosteiro ascético nos Ermos, pela devastação de Maomé. Um certo João Greco, que descreveu a maior parte das vidas dos Santos Pais, conta-nos estas coisas. 6. Após esses Deus chamou para junto de si o Venerável Beda, o qual restabeleceu com as suas pregações a assiduidade que tinha se perdido, do Saltério mariano em toda a Inglaterra, a Bretanha e a França, de uma ponta à outra. E através dele aquelas populações, sobretudo a da Inglaterra, desde então e até hoje abraça com amor e honra este Saltério. Era possível ver em todos os lugares pendurados e colocados nas Igrejas muitos Rosários para a oração, e à disposição de todos aqueles que quisessem entrar no templo para difundir as próprias preces e oferecê-las a Deus. Aquela devoção se conservou por muito tempo, mas esta também com o transcorrer dos anos, se rarefez, sendo os Patriloquia, como o chamavam consumados pelo uso e perdidos nos lugares públicos, até que foi esquecido pelo povo. 7. Depois São Benedito, digníssimo Patriarca de uma vastíssima Ordem Sacra, com consideração e devoção, quis praticar o culto familiar e perpétuo de Deus através do Saltério da Saudação que ele tanto observou a ponto de merecer tornar-se Fundador e Autor da divina Instituição Monástica. Pelo exemplo de tão grande Padre, todo o Sacro Coro dos Frades no mundo colocou em evidência junto a si o Santo Saltério. Além dos habituais Exercícios divinos da Ordem, e este sendo também pessoal, cada um o amou muito profundamente com discreta alegria, e com esse amou suavemente de coração e com uma santa familiaridade a benigna Virgem Maria, Esposa do seu Esposo. Assim certo Doutor João de Prato nos transmitiu. 8. Santo Oto, preparado e aperfeiçoado naquela escola, em defesa da Igreja e pelo aumento da fé a ser divulgada, chamado por Deus ao Episcopado, e precisamente ao apostolado, pregou em toda a Eslávia com fé cristã o Saltério. A nova geração aprende com as suas orações, a amar Cristo e a Mãe de Cristo, assim como exercita a tarefa por ele confiada em modo magistral. Exortava esses a pregar, e através deste o ensinava: convidava aqueles que eram batizados, a levar junto a si para onde fossem também os Saltérios para conseguir a assiduidade no orar. E este santo costume, prevaleceu depois em toda a posteridade, assim que ainda hoje pessoas de ambos os sexos, de qualquer status e idade levavam saltérios no pescoço como um colar. 9. Ao mesmo tempo Santa Maria Egniacense testemunha, através de seu exemplo, este santo costume, muito freqüente nos Conventos de algumas Virgens consagradas a Deus. Diz-se que ela todos os dias recitava a Deus todo o Saltério de David, acrescentando a cada Salmo uma Saudação Angélica: o número desses, completava no devido modo aquele número de cento e cinqüenta orações do Saltério Mariano. 10. São Domingo Loricato (o qual nome vem de Lorica: Armadura, que usou por toda a vida, tendo-a estreita sobre a pele nua), confirmou aquilo que escreveu São Pedro Damiani, cada dia recitava completamente este Saltério nove ou dez vezes, com disciplina de ferro.

São Bernardo, Esposo especial de Maria, propagou com maravilhoso zelo e ilustrou com exemplo este mesmo Saltério, e o dispôs segundo o número e o significado dos Salmos de David. Ele foi para o homem de Deus de grande ajuda e de grande santidade de vida, que o mundo viu, o Inferno invejou e hoje a Igreja venera. 11. Depois dele São Domingos, antes Guia e Pai ilustre da Sagrada Ordem dos pregadores, desde a mais jovem idade foi devoto desta oração a Cristo e à Mãe de Deus. Pregava assiduamente o Saltério, meditava e o levava junto a si durante a idade mais avançada. Além dos outros exercícios da sua Ordem e da pregação, utilizou constantemente durante a recitação do Saltério, que repetia cada dia ao menos três vezes, uma penitência aplicada a si mesmo com uma corrente de ferro. Diz-se que freqüentemente cumpria, pregando daquele modo, oito ou até dez Saltérios por dia. 12. Ele é o famoso Apóstolo do Saltério, em relação ao qual a amável Virgem de Deus em mais de uma Revelação, deu o mandato e a ordem de pregar e realmente pregou e levou o Rosário por toda a Espanha, Itália, Gália, Anglia e Alemanha. Pregou e difundiu publicamente os Saltérios a ricos, pobres e à gente comum, para que junto ao exercício deste se praticasse a Religião Cristã, se acendesse a piedade, se difundisse a Igreja. E assim conseguiu frutos. Com igual zelo, a sua Ordem do Pai Santíssimo dos Pregadores utilizou o Saltério em comunidade, recomendou de pregá-lo ao povo, segundo o exemplo e o ensinamento de tão grande Patriarca, e por muito tempo permaneceu na Ordem esta oração de intercessão. Durante muito tempo esta Ordem floresceu em ciência, virtude e milagres. Depois vieram flores maravilhosas, como Alberto Magno, São Vicente e... de que forma enumerar as enumeráveis flores?
13. São Francisco, Patriarca humildíssimo dos Frades Menores, famoso Querubim que levou os sinais dos estigmas de Cristo, pregou este Saltério e experimentou coisas nunca vistas antes, sobre si mesmo e sobre a sua Santa Ordem. E deixou à Ordem esta prova de particular devoção que tinha conseguido. Tenho certeza ter visto as provas tangíveis do Saltério do mesmo São Francisco. 14. Com certeza também descobri, que São Lutgardo, Santa Cristina de Colônia, Santa Cristina Varga e, muitíssimos outros santos e santas com zelo recitaram e pregaram três vezes por dia este Saltério. E acredito que toda a Religião e o Estado da Santa Igreja o tiveram sempre em grandíssimo obséquio. Assim o mesmo Mestre João do Monte escreveu, no seu livro Marial. 15. Recordo os nossos mais próximos. Existe um Convento de Virgens consagradas em Gand onde, à quase duzentos anos, todos os dias rezam este Saltério no lugar das Horas Canônicas: assim foi transmitido e entregue pelos antepassados.
16. Antigos Códigos também testemunham, assim como eu recordo, no Convento da nossa Ordem (dominicana) em Gand e que se pode tomar conhecimento em muitos outros lugares da terra, a oração do Saltério no lugar das Horas Canônicas. Não existe nenhuma sociedade de fiéis onde não se encontre Patriloquia antigos de inumeráveis homens e mulheres, dispostos e reunidos da mesma forma e número. 17. Mas na realidade, já setenta ou oitenta anos atrás, por causa de um homem que eu bem recordo, depois da devoção particular do mesmo, este divino Saltério foi dividido e reduzido a um só um grupo de cinqüenta orações. E isto devido ao fato que os homens já então, levavam consigo o Saltério, porém, não o pregavam, como era evidente e como ocorria. Por isso para restabelecer as coisas faltantes e para trazê-las pouco a pouco à antiga prática, se pensou em recomeçar da maneira mais simples. Desse modo se prosseguiu até que o exercício de orar tivesse se tornado hábito e a partir deste grupo de cinqüenta, muito docemente, os homens como se fossem conduzidos pela mão retornaram ao antigo costume do Saltério. De tudo isso, é claro que o ensinamento e a difusão do Saltério da Virgem Maria não se mantiveram como uma completa novidade, a não ser que se queira ser malicioso e injurioso. O rito então é antiguíssimo, com grande louvor e honra na Igreja, se bem se tenha enfraquecido pelo descuido dos homens e imediatamente depois tenha sido esquecido pela iniqüidade dos tempos.


CAPÍTULO IX

Como pôde aquela realidade, tão encantadora e gloriosa, cair no esquecimento?

Devotíssimo Pai em Cristo, a Justíssima Trindade, aos vivos faz vencer a solidão através do Saltério da Virgem Imaculada. Por isso as mentes dos fracos são conturbadas, parece que assim que este Saltério cair sepultado na fossa do esquecimento se aprisionará a verdade e se procurará a fraqueza dos fracos.

I. Deus, desde o início do mundo e sucessivamente por uma longa série de anos, foi muito bem conhecido por todos os mortais e honrado por muito poucos. Então chegou ao ponto em que, junto a todos os homens, veio a grande sombra do esquecimento e da ignorância. Nos tempos de Abraão, com a oposição de alguns, exceto daquele, Deus foi conhecido e adorado. A idolatria tinha inundado toda a terra, como um verdadeiro e próprio dilúvio. Vimos que o esquecimento aconteceu até com Deus, três vezes Santíssimo, entre os homens. Diante disso podemos nos maravilhar do esquecimento ao nosso Saltério? Quem poderá afirmar que isso tenha sido demais, quando se entende que o mesmo esquecimento aconteceu em relação ao próprio Deus?

II. O que direi da lei de Moisés: como foi grande no passado, e quanto foi importante! Mas quantas vezes, e em tão grande esquecimento e indiferença caiu junto aos próprios Hebreus? Isto com certeza foi culpa do povo, porém, agora ela está introduzida no mundo com pleno direito junto aos Sacros Ritos e aos direitos do povo Cristão. Quantos posso dizer que têm prazer de meditá-los na alma?

III. Quem conhece as Leis e os Sacros Cânones da Igreja? Não sabe da mesma forma, quão forte e indestrutível foram as práticas da Religião Cristã?
Estas também foram por longo tempo e em grande parte abandonadas após diferentes experiências; mesmo hoje as coisas antigas, já completamente esquecidas, dificilmente seriam conhecidas, se certas cartas sem cores e velhas não tivessem guardado uma obscura memória delas.

IV. Pouco surpreende que da mesma forma se tenha precipitado na ignorância muitas leis de Imperadores, durante o Império, muitos preceitos e sanções do Direito Civil.

V. Quantos Doutores do passado dentre os gentis, os Judeus e os Cristãos e quantos, mesmo muito dignos, só o nome se conhecem, mas deles nada sabemos? Quantos, de tanto valor, invictos Heróis, Generais, Reis, de igual importância pelas empresas cumpridas; quantos inventores de coisas admiráveis e quantas mãos de artistas de obras maravilhosas, com quanta celebridade máxima uma vez decantada, conhecidos aos cegos e aos pastores, agora silenciam envolvidos no esquecimento.

VI. Onde andaram os tantos Reinos e Repúblicas dos Caldeus, dos Gregos e da Media? Floresceram, entraram em decadência, se apagaram, caíram em ruínas e desapareceram.

VII. A regra, a conduta e a ordem da vida santíssima e ao mesmo tempo frutuosa dos Eclesiásticos, colocada diante dos olhos e das almas de todo mundo Cristão, onde foram parar? O quanto este mudou em relação àquele? Aquele seria eliminado do conhecimento de todos, se ainda não fosse vivo nos monumentos dos antigos.

VIII. A primeira regra de observação de todas às Sagradas Ordens aparece hoje como antiga e numa sombra obscura, ela que tornava tão bonita a Ordem Religiosa. Aquelas coisas que já foram símiles a cedros por altura, agora jazem por terra, como pobres arbustos e humildes tâmaras. Enfraqueceu aquele vigor, aquela austeridade esfriou, aquele fervor se amornou, e o culto, se não se obscura, terá a mesma sorte. Se tais reformas acontecem sem a intervenção de ninguém, são chamadas novidades e fantasias. A tal ponto que muitos conhecem grandes coisas, mas não conhecem as Regras da própria Ordem.

IX. Então por que a ruína do Saltério impressiona os corações dos homens? Ainda mais que o Senhor anunciou: Pensas que o Filho do homem vindo, encontrará a fé sobre a terra?

X. Assim, como testemunha Platão e Aristóteles, a nossa natureza madrasta retém que seja esta a sua condição e o motivo de existência de tudo sob o sol. Assim como o processo de geração e de crescimento, se orientam em direção ao epílogo da morte; e depois de novo, recomeçado outro ciclo, é substituído por causa da reprodução e da regeneração, não só no número, mas também no aspecto. Em conseqüência a explicação, bastante clara, se confirma através do Saltério, que uma vez brilhou mais do que neste momento. E se entre as vicissitudes de tantas coisas só este Saltério não se lamentasse de ter sofrido as primeiras penas, verdadeiramente se poderia proclamar um milagre igual ao da Igreja. Então o seu declínio é a prova do motivo acima. O seu restabelecimento nos ensina que antes deste, existia já uma forma instituída.

CAPÍTULO X

O retorno do Saltério, a Revelação dada pela Mãe de Deus.

Exímio Pastor e Reitor dos servos de Cristo, a Misericordíssima Trindade aos mortos concede misericórdia através do Saltério de Maria, Mãe de Misericórdia. Por isto não quero manter escondido a vossa reverendíssima Paternidade, o quanto a divina clemência fez conhecer atualmente.

I. Alguém que pregava o Saltério da Virgem Maria foi atacado por sete anos inteiros, às vezes com os sentidos e outras vezes materialmente, por assustadoras agitações dos demônios. E ele em quase todos esses anos, não teve nenhuma consolação. Por misericórdia de Deus enfim lhe apareceu a Rainha da Clemência, a qual acompanhada por alguns Santos, visitando-o de vez em quando, abateu a tentação pessoalmente e o libertou do perigo: ao mesmo tempo o amamentou com o seu Seio Virgem. Além disso, o esposou com um anel formado dos seus Cabelos Virginais, e confiou a ele o encargo de pregar este Saltério sob perigo de uma morte inevitável e sob pena de castigo divino.

II. Impelido por razões humanas, porém, não pude acreditar frequentemente nestas coisas. Mas depois fui obrigado por uma força mais alta e interior, a ter como válida esta Revelação. A ponto de crer que esta seja verdadeira, pois: 1. Conheço a pessoa. 2. Através de sinais indubitáveis tive frequentemente à mesma revelação. 3. Confesso que esta é verdadeira e pelo o que sei e acredito juro que essas são verdadeiras diante de todo o mundo. Prefiro morrer devotamente em cada hora da morte corporal, por parte do Senhor Nosso Jesus Cristo, do que errar ou estar em erro sobre aquilo que eu disse. Acredite quem quiser. Preguei e ensinei frequentemente essas coisas. 4. E não somente eu sei do que aconteceu com aquela pessoa, mas muitíssimas pessoas em maneira conheceram esta Revelação não humana, mas Divina. Na verdade visto que esta pessoa ainda vive, não posso dizer seu nome expressamente pelos perigos da vaidade, da mutabilidade do mundo e também do sofrimento. Essas coisas devem ser escondidas em vida e louvadas após a morte.

III. Mas uma dúvida poderá ser tida em consideração: de que modo pude beber o leite assim tão glorioso da Virgem Maria? Que assim foi corrompido pela digestão natural.

Respondo: 1. Esta é uma coisa fútil. Bebi o leite da Virgem Maria e do Seio dela; e certamente o Seio na boca daquele que sugava, produziu algo de real e concreto por certo tempo. Como a luz é difusa no ar, permanecendo ao mesmo tempo dentro do sol. Ignoro qual destas duas coisas aconteça. Aquela mesma pessoa conheceu isto, que foi docíssimo, puríssimo e se versou na sua boca e se difundiu com a máxima glória por todos os membros do mesmo corpo, seja na essência quanto na exterioridade. Nem mesmo é impossível, que a Santíssima Virgem Maria ainda hoje tenha o leite e o ofereça a outros, não sendo o leite da essência do corpo glorioso, mas um aspecto secundário.
Assim também é aquela substância, que saciara as vísceras dos Santos, segundo São Tomás (4 dist.  3. Ao invés seria estranho dizer que o Seio da Beata Virgem seja mais impotente de quanto sejam os seios das mulheres mortais, as quais têm e geram em si o leite no interno do corpo e que por isso o podem transmitir. 4. Se não existe o verdadeiro leite nos Seios de Maria Mãe de Deus (coisa difícil de afirmar), pelo menos ali existe uma maravilhosa substância que é completa como o leite; em conseqüência, esta é de alguma forma criada pela divina potência e fora do Seio da Virgem Maria, a substância se transformou em algo parecido com o leite; 5. Se não existiu leite ou outra substância no lugar do leite: que se acredite, ao menos, que tal Esposo tenha recebido o leite da Gloriosa Virgem, na forma acima, se não pelo gênero da substância, pelo menos pela sua abundância.

IV. Mas ignoro de que modo extraordinário isto tenha acontecido: 1. Diz o livro da Sabedoria no cap. 9: conhecemos apenas com dificuldade as coisas que estão sobre a terra: quem compreenderá então as coisas que estão no Céu? Ninguém de fato conhece as coisas e qual é a glória dos Beatos se não o Espírito de Deus e aquele ao qual o Senhor quis revelar. 2. Em seguida aprendemos que São Bernardo se nutriu dos Seios da Virgem Maria. 3. O leite de Maria se encontra sobre a terra, entre as outras relíquias, em muitas igrejas. 4. Da mesma forma Santa Catarina de Siena bebeu abundantemente da fonte dos quadris de Cristo; 5. E alguns Santos também beberam das santíssimas feridas de Cristo, tanto que foram iluminados com uma indescritível alegria, até a embriaguez do Espírito. Quem ousaria afirmar que estas coisas foram meras e vãs fantasias, sobretudo quando, segundo os Teólogos, a Igreja rejeita e condena as coisas fantásticas, assim como aquelas que estão sob o poder do demônio?

V. Se apresenta uma dúvida sobre os Cabelos da Beata Virgem Maria. De que forma ela pode privar-se dos seus Cabelos, quando estes são apropriados ao seu ornamento e glória?
Respondo: 1. Como os Cabelos, por divina potência, foram a beleza da Virgem Maria, assim há tempo, em algum lugar, foram conservados. Onde estes foram mantidos e por quem, eu não sei. 2. Acreditamos, porém, ferreamente que o fato da Virgem Maria, então apresentada em corpo, ter Cabelos seja tão verdadeiro quanto bonito. Estes Cabelos não são da mesma substância do corpo glorioso, mas servem somente como ornamento. Por isso esses podem ser tirados sem tornar mais pobre a glória da Beatíssima Virgem. 3. Deve-se acreditar também que se o corpo glorioso tem a possibilidade de possuir Cabelos, terá também uma maior possibilidade de produzi-los sozinho, e mais poderosamente que qualquer outro corpo natural.

VI. É extraordinário o fato do Anel. Visto que é sem dúvida julgado positivamente por alguns, mas parece uma coisa rara. A coisa mais maravilhosa de tudo escrito acima. Assim de qualquer forma é visível certa profundidade da glória: 1. E quanto a mim, toquei este Anel, com uma grande alegria, não humana, mas muito maior; 2. Acredite, quem quiser, visto que afirmo isto com um juramento. Se não quisessem, o que me importa? Não posso e não quero provar de forma diferente as coisas que digo. Eu soube de muitos sinais que surpreendem igualmente. 3. Considerando a possibilidade que as coisas que eu expus sejam totalmente falsas (coisa que não acredito de nenhuma forma), mesmo assim permanece segura a dignidade e a verdade do Saltério da Virgem Maria, pelos capítulos até aqui ditos e expostos em seguida.

VII. Também digo: 1. Que o homem carnal não conhece as coisas que são de Deus, e aquelas do Espírito: o afirma a Palavra de Deus, e ninguém conhece estes dons, se não aquele que os recebe. 2. Ao invés, aqueles que as receberam, distanciando-se da luz da Revelação, com dificuldade um dia podem crer nas revelações. Assim o Profeta Jeremias, alcançando o Espírito de Deus e este revelando àquele novos mistérios, acreditou e os anunciou. Mas a certo ponto sendo abandonado pela luz da divina Revelação, falou de forma humana: Me seduzisse Senhor, e eu me deixei seduzir (cap. 20). 3. Por isso, mesmo que se acredite, essas não podem ser comprovadas através da ciência humana, e muito menos através da sabedoria diabólica. A razão disto, segundo São Tomás, é que a luz da divina Revelação supera a inteira luz do conhecimento natural. Está assim no Salmo 35: Na tua luz veremos a luz. Então aqueles que são privados de tal luz, julgarão em mérito as revelações divinas, como os cegos em relação às cores. E por isso os homens também bons e devotos, privados desta luz, podem errar sob os juízos das celestes revelações, como frequentemente se soube. Ao menos que no lugar da luz não tenham sinais, prodígios ou milagres evidentes. 4. Mas não faltam exemplos de Santos Esposos de Cristo com o anel do empenho. Santa Catarina Mártir obtém de Cristo o Anel matrimonial, e do mesmo modo Santa Catarina de Siena, o qual coração extraordinário, reconhecido somente por Deus, foi transformado no Coração de Cristo. Disso em igual medida se poderia duvidar em relação à matéria e de qual substância fossem feitas.

VIII. Portanto as sutilezas de tal gênero se apóiam somente à prudência e à ciência humana: 1. Como se Deus, que criou todas as coisas, não pudesse fazer algo além do natural. Esta é uma heresia, visto que os milagres transcendem toda a natureza criada. 2. Em relação a isso os hereges erram, porque devem conseqüentemente negar que os milagres existem: ao contrário daquilo que diz a fé da Igreja e a experiência, da qual tenho certeza. 3. A Igreja o manifesta também na oração de Coleta, na qual diz: Deus, que conhece a vossa Igreja concede sempre a grandeza com os milagres etc. 4. É um milagre a conversão dos pecadores, enquanto entre os maiores milagres de Deus está São Tomás e até mesmo Santo Agostinho. A transformação da Santíssima Eucaristia foi sempre considerada como o Sumo Milagre de Deus, visto que sem dúvida, sem comparação, é mais importante do que qualquer outra Revelação. Não existe razão pela qual aquele que realiza esse milagre, não possa ser capaz de cumprir outros menores. Os mesmos que duvidam, admitem que as Revelações divinas, mesmo sendo consideradas verdadeiras, não podem ser demonstradas, se não àqueles que têm a mesma luz da Revelação.


CAPÍTULO XI

Qual dos dois tem maior dignidade e valor, o Saltério de David ou o Saltério da Mãe de Deus?

Venerabilíssimo Reitor das almas, a Louvada Trindade oferece a verdade através do Saltério da Virgem, que é Mãe da Verdade. A superficialidade de alguns, porém, mais curiosa do que interessada, quer saber: qual dos dois é mais ilustre, o Saltério de David ou aquele Angélico? Respondo a essa detestável comparação com uma diferenciação.

I. Em favor do Saltério de David: 1. Onde existe maior devoção e amor no orar, ali também é maior o mérito: e de fato o valor deste tem origem no Amor de Deus. Através desta lógica uma minúscula obra boa tem mais mérito que uma grande, porém, não tão boa. 2. Pela origem, o de David é melhor, porque foi a causa que dispôs e antecipou o Angélico. 3. Pelo significado, esse é mais evidente no de David, do que no Angélico. 4. Pela antiguidade. 5. Pelo esforço de orar. O Saltério de David é mais longo e mais difícil de rezar do que o Angélico, mas também tem maior mérito, em igual virtude. 6. Pela compreensão mais evidente. Neste se ensina muitíssimas coisas com clareza. 7. Pela autoridade, já que da antiga Lei se provou a nova e não ao contrário. 8. Pela prática da devoção e pela tradição na Igreja, visto que com esta o mesmo culto de Deus recebe então desde as origens num exercício certamente grande, de uso comum, eclesiástico e quotidiano. 9. Pela maior extensão, tanto que este cresce pela experiência de grande parte das coisas e pessoas. 10. Pela volumosa prolixidade e pelas dimensões é maior.

II. A favor do Saltério Angélico: no que supera o Saltério de David: 1. O Angélico foi o fim e o momento culminante daquele. O fim é mais ilustre pelas coisas que se aproximam à plenitude. 2. Pela perfeição do resultado, que foi o Verbo feito carne. 3. Pela graça do tempo: de fato o início do Novo Testamento, que em relação ao Antigo é extraordinariamente excepcional, é a superioridade de um homem vivo em relação a um desenhado. Então o Antigo Testamento foi a pintura e a configuração do novo. 4. Pela eficiência, a SS. Trindade criou o Angélico, o Arcanjo o levou à Maria, Isabel o enriqueceu e a Igreja o completou. O Saltério de David foi composto por um pecador e confiado à Sinagoga. 5. O presente Saltério prepara para a verdade, o de David em relação ao futuro. 6. Esse foi um pacto na sombra, aquele na luz. 7. Pelo resultado, o Saltério de Maria é o cumprimento e a perfeição do Saltério de David: este seria inútil sem aquele. 8. Pelo êxito conduz ao Céu, ao invés, o de David transportava ao Inferno ou ao Limbo. 9. Pela eficácia: visto que através do Angélico advém a Paz Universal. 10. Pelo ocorrido: porque Jesus e Maria obtiveram coisas mais divinas com o Angélico, que com o outro: certamente Cristo se torna Homem Deus e a Virgem Maria se torna Mãe de Deus, aos quais Deus não podia fazer mais. Estas razões que são apropriadas também para Jesus e Maria, para que as orações diante das coroas sejam a eles tanto mais agradáveis e tenham um valor maior para persuadi-los, visto que o preço mais divino está dentro deles.

III. Direis não a palavra Angélica da Anunciação, mas aquela do consenso da Virgem: Eis a Serva do Senhor que seja feita a vossa vontade, essa cumpriu o evento de forma que o real cumprimento fosse conseqüência. Respondo: na Saudação Angélica dois são os itens aos quais dar atenção: 1. As simples palavras e os sons da voz: e assim não foram eficazes aquelas do Anjo e sim aquelas de Maria. 2. A disposição das palavras de Deus e de todo o Céu, que estava nas palavras da Anunciação, tinha como objetivo encarnar o Verbo e fecundar a Mãe de Deus: e essa conseguiu o intento. Fez-se presente a palavra da Virgem, visto que ela não se contrapôs a intenção de Deus, de modo que a Encarnação foi o resultado da Anunciação. Com este mesmo sentimento e nesta forma a Igreja fez a sua Anunciação, quando celebra a sua festa anual, honrando de novo um evento querido e realizado, mais do que as palavras, as quais foram o meio e o instrumento do fato.

CAPITULO XII

A utilidade e o fruto do Saltério.

Louvado médico das ovelhas de Cristo, a misericordíssima Trindade concede a justiça através do Saltério da Virgem justíssima, segundo o qual dê e vos será dado. Se então cada dia oferecermos quinze Rosas às divinas excelências, existe a esperança de recolher igual prêmio e fruto, segundo a palavra de Cristo: Recebereis cem vezes mais. Chamo Rosas, as sagradas palavras da Saudação, porque retornam ao evento apresentado e conduzido ao fim, e são orientadas, com o devido respeito, ao Saltério coronário de cento e cinquenta contas pronunciadas e oferecidas a Deus através de Maria, Advogada Santíssima, Rainha de todos os Santos.

1. Ave: sem culpa, o fruto é libertado da culpa do pecado76. 2. Maria: Aquela que dá luz e é iluminada, oferece o fruto que dá a luz à mente. 3. Gratia (de graça): ela mereceu com Cristo, o fruto da graça divina. 4. Plena: ela é rica de bens celestes. 5. Dominus (o Senhor): ela obteve o poder de dominar os inimigos. 6. Tecum (contigo): ela orientou a alma ao centro da Santíssima Trindade e ao templo de Deus. 7. Benedicta (bendita): ela dá uma benção especial com dons espirituais. 8. Tu: ela mostrou a extraordinária Dignidade da Mãe de Deus, para que mereçamos um dia a proteção dela. 9. In Mulieribus (entre as mulheres): ela obtém para nós a misericórdia. 10. Et Benedictus (e bendito): envia a benção sobre as nossas orações. 11. Fructus (Fruto): ela reúne os bens do Espírito Santo. 12. Ventris (do ventre): ajuda e protege a castidade. 13. Tui (teu): aquele que ora se consagra à Virgem Mãe. 14. Jesus: o Salvador. 15. Cristus (Cristo): o Ungido: ela é merecedora da fé dos Santíssimos Sacramentos de Cristo, e somente nela estes são santos, conforme a escritura. São coisas reveladas a uma virgem devota. Quinze frutos iguais a estes poderiam ser entregues à Oração do Senhor. E qualquer Cristão não muito justo poderia reconhecer que o Saltério é um instrumento de tão grandes méritos! Porque se de uma oração em honra a qualquer Santo, se espera piamente obter um fruto, quanto mais do Saltério, composto de duas incomparáveis orações, nas quais se deve crer que não exista nada além do puramente divino.
Se tu também desses cento e cinqüenta pequeníssimos dons a qualquer honesta mãe de família, serias tido como digno da honra e do favor da mesma: quantas coisas mais celestiais dará a Mãe de Deus aos seus salmodiantes? Ela mesma revelou tudo isso a um devoto.

CAPITULO XIII

As indulgências que se conquistam com o Saltério.

Oh Venerabilíssimo Vigário de Cristo por dignidade Apostólica: I. O Pontífice Máximo João XXII concedeu a Indulgência de vinte e quatro anos, trinta e quatro semanas e um dia, àqueles que oram o Saltério de Maria, e estabeleceu que este seja composto por cento e cinqüenta Saudações Angélicas. Eu vi uma cópia autêntica da Bula: o original está guardado num convento em Avignon, como ouvi dizer. Concede também sessenta dias a quem acrescenta as palavras de Jesus Cristo à cláusula de cada Saudação. Então por cento e cinqüenta vezes, são sessenta dias de Indulgência adicionados aos mesmos dias, obtendo um imenso número. Não menciono as outras numerosas indulgências feitas.
Àqueles que oram se recomenda enunciar uma intenção para merecer as Indulgências, de esforçar-se para estar em estado de graças, de observar inteiramente o empenho da obra como prescrito pelo Pontífice, e deste modo esperar piamente.

CAPITULO XIV

Qual é a forma de orar o Saltério.

Exporei, nobilíssimo nutridor das almas de Cristo, alguns modos de orar, aprendidos ou com a tradição dos antigos, ou com uma revelação da benigna Virgem. I. Modo: orar diretamente a Cristo. E assim as primeiras cinquenta orações são feitas em honra de Cristo encarnado. As cinquenta orações sucessivas, em honra de Cristo sofredor. As últimas cinquenta orações em honra de Cristo que ressurge, sobe aos céus, manda o Espírito Santo, senta a direita do Pai e virá no juízo final.
II. modo: orar a Cristo para a intercessão dos Santos. E assim as primeiras cinquenta orações são oferecidas aos celebrados sentidos da Virgem Maria, ou seja, às cinco janelas, em honra de Jesus Cristo. Então aos olhos de Maria, que viram Jesus, pelos lábios que beijaram Jesus etc. Para olhá-la, deve ser exposta uma imagem da Mãe de Deus diante dos olhos, isto é, do corpo. A segunda: recitar a Saudação Angélica para cada uma das cinco Feridas de Cristo uma de cada vez, ou por todos os membros; aproximar-se também o ícone* de Cristo para ser contemplado. Não é necessário pensar no sentido das palavras, mas meditar devotamente sobre a dor das feridas, o mérito etc. A terceira: em memória dos Santos que estarão satisfeitos. Aqui é útil ir com a alma por cada altar do Templo, e ali imaginar os Anjos, Patriarcas, Profetas, Apóstolos, Mártires, Confessores, Virgens, Viúvas, Cônjuges santos etc. e em honra e pelos méritos destes, oferecer em sacrifício a Cristo Deus as orações do Rosário.
III. modo: orientar a intenção de acordo com as virtudes. Assim para manter a Fé, pronunciar uma só Ave ou uma dezena, igualmente para a esperança, etc. Igualmente em ordem os pecados a serem afastados.
IV. modo: recitando a oração pelo próximo, como a Igreja, o Papa, o Clero etc., o Imperador, o Magistrado etc., os pais. Igualmente, também pelos inimigos vivos e mortos.
V. modo: orando pelas autoridades humanas, como o Pontificado, o Império, o Sacerdócio, o Exército, os Juízes etc.
Encontrei estes modos no livro Marial do nosso Frade João do Monte,

CAPITULO XV

Por que o Saltério deve ser pregado e ensinado pessoal e publicamente?

Ilustríssimo Superior, seguidor dos Apóstolos. I. Diz-se na conclusão de Marco: Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura. Mas o Saltério da Beata Virgem Maria é o Evangelho: é formado, então, de duas partes que implicitamente incluem qualquer coisa que tem no Evangelho. Então deve ser pregado a cada criatura, de cada estado da Igreja, por parte daqueles aos quais o oficio impõe a necessidade de pregar. O dever do Saltério não contrasta com o Evangelho, ao contrário, é pela maior glória deste, e aquela repetição tão santa e saudante recebe o mérito.
II. Todavia é próprio da Ordem dos Frades Pregadores, também orar inteiramente esse Saltério excepcional. 1. E esse pelo cargo, o nome, o ensinamento e o exemplo do Santo Patriarca Domingos, o qual (como foi revelado por ele mesmo), empregou nesta extraordinária obra a maior parte dos seus esforços, conhecimentos e ensinamentos. 2. Recebemos o mesmo da Tradição e dos documentos deixados pelos escritores, como eu mesmo li. O quanto muito superficialmente se opõe ao mandado de Deus, aqueles que contrastam tais pregações. 3. Além disso, sendo um dever pregar pela edificação e a salvação dos Fiéis, o que pode ser reunido de mais útil com esse Saltério, do que as orações? É evidente que foi oferecido ao mundo com suma utilidade e salvação
III. Confrontamos alternativamente a atividade das Pregações e o empenho do Saltério. 1. Visto que a oração serve como medicina das almas, então estes Evangelhos são os dois beatos fascículos da obra de Deus, por isso devem ser pregados. 2. A pregação deve iluminar? Eis aqui duas luzes. 3. Deve-se fazer progredir a Igreja nas virtudes? Eis essas ajudas e encorajamentos. 4. Deve-se erradicar os vícios? Eis esses dois sacros instrumentos. 5. Deve-se reforçar a Fé? Eis aqui os dois primeiros fundamentos da mesma. 6. Deve-se ascender as almas contra o demônio, o mundo, a carne, para levantá-las a Deus? Eis aqui as chamas, e eis aqui os dois fogos do céu. 7. Deve-se distanciar do mal da morte, da condenação? Etc. Eis aqui duas espadas mais flamejantes do que aquelas dos Querubins. 8. Deve-se da pregação exaltar e fazer avançar a honra de Cristo? Eis duas proclamações, às quais nunca existiu nada de parecido em nenhum lugar. O que mais? Destes dependem todas as Leis e os Profetas.
IV: Direis. O Pregador poderia ser objeto de desprezo por tais pregações. 1. Esta é inútil e é insana soberba dos instigadores.
2. Se eles procuram coisas altas, grandes, santas, o que é comparável a estas duas? 3. Se procuram coisas novas, cultas, ricas de explicação, estas estão no Novo Testamento, a ciência das ciências, a riqueza e os tesouros dos ricos. Nessa a Santíssima Trindade se engrandece: a encarnação emerge e nela estão todos os ensinamentos da fé. Com o maior zelo possível deve pregar quem deseja ser de Deus, e quem deseja que Deus seja honrado e adorado.
V. 1. A oração, sendo o principal instrumento da Igreja, é dada por Deus a todos os fiéis, para obter o bem e para afastar o mal. 2. É uma das partes do sacramento de penitência, aquela que concerne à satisfação; e o povo Cristão, vendo sumamente necessidade de ambas as coisas, tem a necessidade que os pregadores o exortem a orar para Deus. 3. Em relação a isso, no antigo Testamento, se encontra mais frequente e ardentemente a exortação da oração e da penitência. 4. O mesmo é afirmado no Novo Testamento por Cristo e pelos Apóstolos. 5. A Igreja por não possuir outras informações, repete com assiduidade as coisas deixadas à ela. 6. Em toda Regra, Ordem e obra não existe nada de mais solicitude e ocupação do que as mesmas. 7. Os mesmos direitos sagrados e civis as aconselham, e em relação a essas pressionam. E o Pregador frágil, mudo e preguiçoso o que faz em relação a estas? 8. Os Santos quanto mais perfeitos e admiráveis surgiram, com mais familiaridade recorreram à oração, sem nunca terem realizado milagres sem essas.
VI. Na verdade o Saltério é uma forma de orar, que contém, ensina e repete aquela Oração, a única que Jesus ensinou, a Saudação que recebemos do Céu. Jesus recebeu tudo somente de Deus, nada do homem, nada de outro lugar. Fora dos divinos ofícios da Igreja, os fiéis devem orar. Então quais orações podem encontrar como mais divinas do que aquelas do Saltério do Senhor e do Angélico da Santíssima Trindade? Qual argumento para orar e recomendar, igual a esse, poderão encontrar os pregadores?
Com certeza afirmo: pregar o Saltério é impulsionar o povo à devoção, à penitência, ao desprezo do mundo e a reverência à Igreja. Penso verdadeiramente que o amor e o exercício dessa devoção no homem não possam encontrar-se sem a intervenção da mão direita do Altíssimo. Em conseqüência teria sido quase necessário que se anunciassem pelo mesmo as obras narradas entre os fiéis. Este é um verdadeiro melhoramento do povo e uma vida digna para um Cristão.
VII. O resultado então do Saltério é que se converta o mundo inclinado ao pecado. Jesus concedendo, a Mãe de Jesus intercedendo, os Salmodiantes cooperando, e os Pregadores sendo mais solícitos do que ostentadores. 1. Sabemos por muitos testemunhos, que em muitas nações isso aconteceu: e nós mesmos pela experiência, vimos e ouvimos que muitos Pastores, depois de terem descoberto isso, o mencionam com alegria. 2. Se os pais habituassem, os seus filhos ao exercício do Saltério, quanto estes seriam dóceis em tudo e capazes de esperar? De quantas bênçãos de Deus se enriqueceria a casa e a própria descendência? Como exemplo citamos somente a senhora Joana, originária da Bretanha, a Condessa Gusmann na Espanha, que educou o seu filhinho Domingos neste exercício.
3. Se os pais e as mães de família estimulassem os seus servos por a essa devoção, seriam servidos por pessoas mais obsequiosas e fiéis. 4. Os confessores fariam algo são e saudável se persuadissem os seus penitentes ao exercício do Saltério, ou os levassem a encontrar uma posterior satisfação na penitência, não por obrigação, mas por devoção, para o acúmulo de méritos. Coisa que para São Domingos era normal, habitual e gerava uma extraordinária conquista de almas.
VIII. Se também os chefes do povo divulgassem entre os incultos essa fácil e tão vantajosa devoção, infundindo-a aos paroquianos, veriam outro vulto do seu rebanho e a beleza dos costumes. No Reino da Dácia, um homem de nome Cristiano, célebre diretor espiritual das almas, que pregou o Saltério e recordava de bom grado que: Eu exercito há muitos anos o cargo pastoral de pregador: preguei várias matérias sobre cada argumento, com vários gêneros oratórios, e as propus de todas as maneiras e formas de oração, sem ter esquecido nada; parecia-me justo pregá-las para ensinar e mover à piedade. Mas colocava, como se costuma dizer, tudo ao vento e às ondas do mar. Enfim, se passaram muitos anos estéreis e todas as minhas pregações foram inúteis. Quando as forças, pela idade que avançava se enfraqueciam e nenhum fruto aparecia nos fiéis, decidi tentar pregar esta matéria, que até então tinha esquecido, tanto a colocá-la entre as últimas coisas a serem pregadas; frequentemente aconselhei orações de todo o tipo, mas nunca a oração do Saltério, visto que não a julgava digna ou conveniente à minha cátedra. Enfim decidi recomendar o Saltério: preguei com mais seriedade e mais rapidamente o socorro da benigna Virgem Mãe, Maria, para invocar com as orações através desta, anunciei que o supremo processo sobre a vida passada, e o juízo sobre a vida cumprida erguesse a todos: nada é mais saudável do que esta Oração do Senhor e da Angélica Saudação, preguei que nada é mais fácil de usar do que a antiguíssima devoção ao Saltério de Cristo e de Maria. Insistia no propósito empreendido, caminhava e o repetia e assim transcorri metade do ano e afirmo que assim consegui uma maior mudança das almas e dos costumes, maior do que vi antes. Esta é a força proveniente do exercício do Saltério. Que bem fazes Pastor? Então, pregues Cristo? Aquelas coisas que com dificuldade se compreende, após realizar a pregação: o que fazer, visto que não és minimante compreendido? Não procures coisas mais altas de ti, e não analises coisas mais fortes de ti. Mas medites sempre sobre o que Deus te ensinou e não desejes conhecer todas as suas múltiplas obras. Não é preciso que vejas com os teus olhos os seus segredos etc. (Ecl. 3). Tu tocas com as tuas mãos, e ensina a cultivar o Saltério de Cristo e de Maria. Daqui tu poderás esperar o fruto da salvação da tua alma e do próximo. Este se adapta à inteligência e à compreensão de todos. Lembres de Paulo: Como às crianças em Cristo, a vós dei de beber leite e não comida. As coisas pedidas por muito tempo e aquelas pedidas em outros modos, algumas são correspondidas, outras não; porque tu ensinas os outros a voar, quando andas com dificuldade? Dali constrói um castelo de areia, daqui destrói. Sentes mais prazer em acariciar as orelhas dos homens, do que em salvar as almas?
De outra forma morre, e com um dardo teu. Apóia-te, serve-te e te satisfaças do Saltério. Ocupa lugares seguros aquele que se arrisca em coisas altas. É ilustre na humildade, brilhante na obscuridade, aquele que exalta as coisas humildes e torna luminosas as coisas obscuras. Orar o Saltério parecerá uma coisa obscura e humilde, mas aos sábios em si mesmos, não a Deus: quem do mesmo modo exalta as coisas humildes humilha as coisas altas. Por isso, bom Pastor, que te agrade o meu conselho: mude as matérias da oração e as alternes com o Saltério. Um negócio saudável é reconhecido e acolhido por orelhas e almas favoráveis, quando se entende que este pode ser familiar e fácil de fazer. Este é o Saltério, que ama quem o ore não com as palavras dotadas pela sabedoria humana, mas pela presença do Espírito e da virtude. Creia, o Saltério é cheio de grandes promessas e riquezas de exemplos.
IX: Direis. As memórias de tantos Homens e Doutores importantes talvez não tratem disto ou eles não conheceram o Saltério.
Respondo que é extraordinário como (mesmo reconhecendo profundamente perfeitos aqueles fatos, que tratei até aqui), sumos homens da Igreja puderam ignorar o valor do Saltério, tendo, todavia, conhecido a força e a eficácia da Oração do Senhor e da Angélica Saudação! De que modo ensinaram o povo e o impulsionaram a orar e a suplicar a Deus sem interrupção com tão grande força e abundância de espírito? Visto que não recordávamos e talvez nem soubéssemos de algumas das outras formas, hoje difundidas, de orações (exceto as Canônicas), assim como as pinturas e as esculturas sagradas estavam diante do povo durante a história, assim as contas da oração eram o subsídio do Saltério popular. Pergunta-se com leveza e curiosamente sobre o nome de Saltério. Visto que a antiguidade venerada dos pais conheceu a realidade do Saltério, usou e a pregou sob qualquer nome: Que pessoa sana e devota ousaria dizer que o Saltério de Jesus e Maria é ao mesmo tempo conhecido e desprezado?
X. Além disso, algumas vezes a gloriosa Virgem Maria, amiga da verdade, revelou: 1. Que a Angélica Saudação esteve sempre na mesma reverência e desde o início da Igreja Cristã. Ela ensinava: os Apóstolos aprenderam a conhecer o valor da Anunciação do Senhor, recebendo o Espírito Santo, muito mais claramente que todos aqueles que vieram depois; ao mesmo tempo, também reconheceu ter recebido as primícias do espírito através dela. 2. Certamente foram mais próximos às fontes da verdade e da luz. Acrescento: eu também soube que a Santa dos Santos, a Mãe de Deus, foi o segundo motivo das sagradas realidades no Novo Testamento, sendo o Filho o primeiro motivo. Essas coisas fazem entender claramente, que os Apóstolos não teriam tido nenhum dos dons da graça, se não por intercessão da Virgem Maria. E acrescentava Maria: os Apóstolos usavam essa oração, isto é, ambas, aquela do Senhor e a Angélica Saudação, mesmo quando ela ainda estava sobre a terra. Esses anunciavam à Maria que ela estava próxima à graça, à futura glória e à divina providência, assim como a Beata Maria teve a idéia que existia em Deus a eternidade. Esta é a razão do mundo restaurado. 3. Dizia também que a Virgem Maria, sabendo o valor da Anunciação do Senhor, o rezava mais devotamente. Maria honrava o ser humano e o ser divino segundo a Graça e a Glória.
4. Dizia também que o Senhor Jesus, enquanto homem orava frequentemente desta forma, não porque tivesse necessidade, mas porque queria ensinar. Do mesmo modo disse: os Anjos e os Santos nos céus, com o espírito e não com a palavra, também oferecem à Mãe de Deus aquela Saudação. Sabem, de fato, que será através da Saudação, que o engano dos Anjos foi vencido e o mundo renovado.
Esses acontecimentos são dignos de surpresa e devem valer muito pelo Saltério. Conheci uma pessoa à qual foram brevemente ditas essas coisas, e revelados fatos maiores.


CAPITULO XVI

A confraternidade criada sob o nome do Saltério.

Amadíssimo sustentador e defensor da comunidade dos filhos de Cristo.

I. A associação dos servos da Virgem Maria no Saltério foi iniciada com os santos Pais, os quais por vontade de Deus conheceram o valor e a eficácia deste. Mas especialmente São Domingos ilustre Patriarca da Ordem dos Pregadores, mantido pela ajuda divina para a salvação de muitas almas, foi por Deus eleito e enviado ao mundo com sinais e milagres. Ele libertou da ruína a Confraternidade de Maria, que havia lentamente entrado em decadência, e depois de restaurá-la a tornou esplendente, tanto que o mundo Cristão se surpreendeu com a nova luz, como testemunha João do Monte no Marial.

II. Além disso, o propósito desta Confraternidade consiste em três coisas:

1. Que os méritos das obras dos Santos sejam todos comuns, na vida eterna e na vida mortal e não apenas na participação comunitária, mas também naquela pessoal. 2. Que irmãos e irmãs sejam habituados a orar diariamente, todo o Saltério da Virgem Maria. E se alguma vez alguém o omitir, é justo que este seja privado dos méritos por aquele dia ou por aqueles dias, mas somente no que diz respeito às orações com as Coroas. Se no dia seguinte retornar às orações, retornará na partilha dos méritos comuns aos mesmos; 3. Que na Confraternidade não se admita nenhuma obrigação, de qualquer natureza, sob pena de afastamento ou de medo do pecado mortal. Deve-se saber que existem dois gêneros de méritos da mesma. O primeiro vem somente do dever cumprido diariamente com o Saltério. E a omissão deste priva do mérito, como punição pelo dever não cumprido. O outro vem da prática e exercício das outras boas obras, como as orações, a meditação, a pregação, as coisas feitas, e os jejuns etc. Os irmãos e irmãs que abandonam o Saltério, não serão privados dos méritos, se o abandono não for fruto de uma indiferença temporária, uma astúcia ou negligência: vice-versa, se existir uma causa racional, como a doença, o trabalho, as tarefas, o cansaço humano, o esquecimento, ou outra coisa semelhante. Esta é a verdadeira Confraternidade da caridade, e uma benção do Onipotente. De fato é esta de acordo com o Espírito místico e não de acordo com o sêmen da carne.
III: Direis. Os méritos de todos os fiéis de Cristo são comuns, segundo o famoso Salmo 118. Faz-me participante, Deus, de todos aqueles que te temem etc., seria então sem motivos esta comunhão.
Respondo: mesmo sendo os méritos dos fiéis, em respeito à totalidade, comuns, visto que são todos um só corpo em Cristo, isto não ocorre em respeito à própria individualidade: assim como os olhos não estão nos pés, mas os dirigem. Na Igreja também existe, em parte por motivo de méritos, uma comunhão com Deus e isto é a caridade e o fim da glória. Isso não acontece, porém, como troca pelo preço devido, ou como forma de acréscimo de méritos aos fiéis, ao ideal. 1. Como a Missa para um falecido, mesmo contribuindo para a exultação de todas as almas do Purgatório, contribui no pagamento do débito, ou na liberação, em vantagem do defunto ao qual se expressa à intenção. 2. Visto que, em outras circunstâncias, pregando não só por si, mas também pelos outros se conquista méritos, mais do que quando se busca orar somente por si. 3. Quando se dá uma esmola, ou se cumpre o Sacrifício da Missa por uma pessoa, isso é mais útil para ele, do que para os outros, e se assim não fosse contrastaria com a justiça. 4. Nem mesmo o Papa ou o Bispo podem dar mais indulgência a um, do que aos outros. 5. Nem uns podem ser mais santos do que os outros, seria uma heresia. 6. Inutilmente e sem nenhuma validade, todos juntos aprovariam numa Ordem de Religiosos, que alguns se beneficiem, da inteira ordem e do mosteiro, mais do que todos os outros. 7. Não basta fazer parte de um grupo de pessoas que faz o bem, deve-se participar, porque quem não faz nada não terá os mesmos méritos dos outros. Por isso nem sempre os méritos de cada um são comuns a todos.
IV: Perguntarás: a participação individual diminui ou não o mérito daquele que trabalha bem? A tua participação pode me causar dano?

Respondo. As coisas espirituais são diferentes dos bens e das riquezas materiais, pois as materiais diminuem com o uso: mas aquelas espirituais, com a mais ampla participação possível, aumentam o acúmulo dos méritos àquele que trabalha. 1. Assim, por quanto mais tempo e mais cuidado ensinas aos outros, mais brilhante é em ti a ciência. 2. Em conseqüência é verdade em algumas situações as palavras do Senhor, dai e vos será dado (Lc. 6), e : receberás cem vezes mais e possuirás a vida eterna (Mt.), Certamente estas palavras são verdadeiras neste caso. Se isso se refere aos bens dados na terra, se refere ainda mais ao dom espiritual dos méritos. Aquilo que é dado com grande caridade, valerá como juros santo a quem dá, também em relação aos méritos atuais? São Domingos era cheio desta grande caridade. E da mesma forma também era Santa Catarina de Siena, que seria capaz de ir até o inferno, pela salvação sua e do próximo. Zelador de Cristo, imitador de Paulo: Eu mesmo pedia a Cristo de ser anátema para os irmãos (Rom. 9), e imitadores de Moisés, que gritava ao Senhor por Israel: Cancela-me do livro da vida, que escrevestes. (Ex. 32). Este é o verdadeiro amante dos irmãos e pastor das ovelhas, aquele que oferece sua própria vida para ajudar as ovelhas e os irmãos.
V. Direis, duvidando ou muito confiante: entre mim e ti, não contando a ninguém, fundarei com outros a mesma participação e merecerei no mesmo modo tanto quanto cada um de vós, que iniciais esta participação em público e sois chamado nominalmente ao público empenho.
Respondo. 1. Faça de modo que possas merecer pelos méritos interiores, mesmo se não podes por méritos exteriores: este de fato por imitação da caridade tem um mérito mais alto do que o público ensinamento. Mas tu brilhas sobre o candelabro e quase negas aos outros o esplendor da tua luz; não acrescentas nem ofereces Coroas no louvor comunitário a Deus, nem tu que vives somente para ti mesmo, estimulas, arrastas, ou arrastaras alguém com o teu exemplo. 2. Se o modo de sentir na Igreja fosse o mesmo que tu tens em todos, que outros exercícios seriam feitos pela comunidade, pela assembléia dos participantes e do socorro? Estes louvores cristãos são celebrados com qualquer solenidade? Deus só quis e quer ser louvado, adorado, pregado, não só no sentimento escondido, mas também publicamente em palavras, e em obras. 3. Por quê? Se, como dizes, fizestes o bem, silencioso, no teu pensamento, por que evitarias o mesmo em uma obra pública e comum?

As obras do mesmo Deus que são perfeitas e manifestas; a caridade e o bem que se multiplica em vantagem do próximo, não devem ser ofuscadas e abandonadas no esconderijo de uma mente; quem age bem, ama a luz e a mesma luz é odiada por quem age mal. Escuta o Senhor: Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas obras boas e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus (Mt. 5). 4. Olha a Igreja, eis, essa tem os Apóstolos, os Profetas, os Mártires, os Confessores, as Virgens, os Prelados, os Religiosos etc. os quais são assim na mente, de fato e em obra. O motivo é evidente. O homem não é feito somente de espírito, mas também de corpo: como também é necessário que as obras dos homens sejam tanto espirituais, quanto materiais. Como vemos também nas mesmas instituições dos Sacramentos. 5 Desaventurado o homem solitário, se ele cair não há ninguém para o levantar (Ecs. 4), e: o irmão, que é ajudado pelo irmão é quase uma cidade segura (Prov. 18). Certamente de fato: um cordel triplicado não se rompe facilmente (Ecs. 4). Confies então nos teus méritos e goste de ti mesmo, porque o justo na dificuldade se salvará (1Pd. 4).
VI. Os pecadores vêm então a esta Confraternidade com devoção e espontânea vontade, sem nenhuma imposição. 1. Porque a lenha verdejante ou aquela recoberta de água, dificilmente pegará fogo, se não for colocada com outra que já está em chamas. 2. Venham os justos: visto que um carvão acesso sozinho se apaga, mas se unido a outros carvões acessos, se desenvolve mais ardentemente. 3. Venham os Religiosos: visto que uma única maçã em um pomar, uma única rosa em um roseiral, um único grão de fermento não é valorizado, mas se colocado em um buraco prosperará e poderá gerar muitos outros. 4. Venham os operários: de fato uma única pedra e uma única trave não constituem um castelo, mas muitas podem constituir. 5. Venham os peregrinos: visto que um companheiro agradável pela estrada vale tanto quanto um meio de transporte. 6. Venham os eclesiásticos: visto que o sol não leva luz a uma noite sem estrelas. 7. Venham os doentes e os sadios: de fato esta Confraternidade é a escada do Céu e da devoção. 8. Venham as crianças; e sejam inscritos os mortos: e por esses, o parente, o amigo, ou qualquer outro devoto, em qualquer dia, mesmo se rezar apenas um Pater noster ou uma Ave, oraram como favor por aqueles, e fizeram a esmola, etc., em nome da Confraternidade: provem todos, e experimentarão o famoso ditado: Eis, o quanto é belo e quanto é alegre que os irmãos vivam juntos (Sl. 132).

Por esses motivos Maria Santíssima ordenou ao seu marido de reconstruir na forma original, pela glória de Deus e da Mãe de Deus, para salvação do mundo e a erradicação dos vícios, a sua Confraternidade que há algum tempo tinha caído novamente em ruínas.

CAPITULO XVII

A inscrição deve-se fazer no Registro dos nomes da Confraternidade.

Cultor de Deus e Esposo ilustríssimo da Igreja, é conveniente por equidade e justiça que os nomes dos irmãos e das irmãs sejam inscritos no Registro da Confraternidade por razões teológicas, sociais e morais.
I. Primeira razão teológica: 1. Motivada no livro da vida: visto que os cultores de Cristo e de Maria, no teu livro da vida serão todos inscritos (Sl. 138). Os desertores, os desprezadores ou os inimigos destes serão cancelados do livro da vida e não serão inscritos com os justos (Sl. 68). 2. Segunda razão: como bandeira da peregrinação e de uma devoção que os guiará sãos e salvos. Assim como foram inscritos no censo os filhos de Israel, ao entrar no Egito e ao sair para o deserto (Num. 26). 3. Terceira razão: por motivo de uma pública promessa, com a qual cada um promete ser e querer ser considerado um pequeno servo de Cristo e de Maria na devoção do Saltério, para participar à comunhão de todos os méritos da Confraternidade em vida e depois da morte. Assim como os Levíticos foram enumerados e descritos por Moisés (Num. 11). 4. Quarta razão: como sigilo de uma divina punição a ser evitada. Assim como aqueles que eram marcados com o sinal do Tau, vinham salvados da morte (Ez.). 5. Quinta razão teológica: como prova da escolha, do amor e da proteção de Deus. Assim como são enumerados os cento e quarenta e quatro mil assinalados, inscritos por todas as tribo de Israel, que foram preservados no ataque dos quatro Anjos (Ap. 7). E os Salmodiantes de Cristo e de Maria não devem ser considerados somente um pouco mais dignos do que aqueles Judeus; Maria não é menor do que Moisés e a Saudação Angélica não é inferior a escritura daquele.
II. Damos as cinco razões sociais, pelas quais, são utilizadas por lei as inscrições nos Estados. 1. Primeira razão: registrar os nomes e as realizações dos heróis, seja nos escritos, seja nas histórias, para narrar à vida e conservar a memória e a glória daqueles. O quanto devem ser tidos em consideração os coronários salmodiantes de Deus, inscritos na nomenclatura dos devotos? 2. A razão social utiliza outras confraternidades justas e lícitas e nestas estão inscritos os nomes, e mesmo certo número de moedas a serem pagos, com a aprovação do Papa, como nas confraternidades de Santo Antônio, Sebastião e Anna, etc.. Para as quais também foram decretadas compensações estáveis ou a serem pagas de certa forma. Mais admirável é a fraternidade do Saltério, que não conhece nem admite nenhuma destas coisas, e por isso a inscrição é mais respeitosa. 3. Terceira razão: os graus dos Magistrados, das dignidades e dos cargos, magnificamente e prontamente serão inscritos diligentemente nos ordenamentos, na Igreja e no Estado, com a esperança e confiança de uma recordação.
Igualmente muitíssimas instituições protegem os registros, como as Academias, as Catedrais, as Paróquias, os Batistérios, etc. E então todos certamente entenderão como justo proteger os registros da sagrada atividade de Louvor à Maria. 4. Quarta razão: existem os Códigos e os juízes para as rendas, as doações, etc., nas Cúrias, nos Colégios, nas Cidades etc. Esta doação ou renda equivale à participação nos méritos da nossa Confraternidade. 5. Quinta razão: os soldados Jovens e os Veteranos são inscritos juntos em um só livro sob o símbolo do exército, onde o próprio exército se inscreve. Mas os nossos Irmãos se empenham em combater a boa batalha, sob a bandeira do Saltério de Jesus e de Maria, contra a carne, o mundo e o demônio. Qual é o motivo para que tão grande Confraternidade louvável, por quanto digam os ferozes censores, seja menos permitida em relação à outra confraternidade, de manter o pio costume de inscrever nos registros os seus participantes?
III. Existem numerosas razões éticas, ou seja, morais, as quais amam e honram as leis, por uma mais eminente perfeição das virtudes.
1. Primeira razão: pelo acolhimento na comunhão da fé. De fato sendo registrados inumeráveis homens, nos inscritos cresce a devoção e cessa a dúvida da admissão à comunhão. 2. Para uma mais segura esperança de salvação. Esta pode vacilar entre os pecadores e são tantos os méritos dos irmãos preparados com ajuda deles, que se fortificam maravilhosamente no conhecimento e que contra a sua vontade, juntos aos penitentes se apresentam ao sacramento da reconciliação. Eles também socorrem os mortos para a liberação, e obtém uma maior coroa de glória. Por isso entendo como verdadeiro o que foi dito por Gregório: é impossível que as orações de muitos não sejam escutadas. Se o livro dos inscritos não tivesse tantos participantes, uma multidão, alguém que quisesse se aproximar da fé poderia pensar que esta Confraternidade está quase abandonada e acabaria por desvalorizá-la e abandoná-la. Escrever estimula mais do que ouvir, falo por experiência. 3. Para o ensinamento: visto que o único número analisado para os inscritos se apresenta por si mesmo, especialmente aos inseguros ou àqueles cheios do desgosto dos pecados e que depois de terem visto este álbum tão grande com muitos iguais a eles, mas também com muitos diferentes, se envergonhem, se surpreendam, tenham esperança e amor em um fruto melhor. 4. Pela simplicidade da alma dos inscritos, que se alegram ao serem colocados juntos em igual condição de humildade no número comum dos grandes, dos medíocres e dos últimos. Não é pouca a humildade de se professar servo, em meio aos servos de Jesus e de Maria, de pedir os méritos também para outros pequeníssimos, de querer humildemente ser um que ora a Deus, de não estimar nada nos indignos soberbos e nos desgostosos invejosos. 5. Por justiça ao escrito, do qual falei.
6. Para o exercício externo da Religião dentro da Igreja, o qual, sendo público e para que seja exemplar, deve ser produzido através de uma pública e solene inscrição. Não pensarás, porém, que tens um patrimônio comum de devoção e de fé cristã onde existe uma garantia e parece existir uma posse da Religião. 7. Pela obediência aos Preceitos de Deus e da Igreja, os inscritos depositam os seus nomes para aparecer mais santamente em qualquer propósito. 8. Pela prudência: o prudente para certos casos e eventos que virão, previne o dano das coisas, e, com esta inscrição, prepara para si tantos amigos, quantos esses trazem e o tem em custódia na santa sociedade de tais irmãos, os quais são um coração e uma só alma. 9. Pela caridade da Fraternidade, a inscrição se faz com muita atenção e acontece mais diligentemente; é como um acordo recíproco de amor e perseverança. Nesses nos foi decretado apenas uma vez de dar as próprias (pequenas) coisas e pegar tantos e tão grandes méritos dos outros, através de uma recíproca comunhão: tanta riqueza nesta, tantas ajudas e conselhos nas situações com os outros e em qualquer ocasião, parecem assegurar a garantia da posse com a mesma inscrição! E por essas razões é mais forte o vínculo de caridade entre os irmãos espirituais, do que entre os irmãos de carne e de sangue. Quem seria tão bárbaro, longe de toda a humanidade, que não marcaria na memória da própria alma esta confraternidade, da qual recebeu contente e bem disposto mil talentos de ouro? O que mais? Ele uma vez inscrito não é talvez compreendido por mim no Registro eterno dos Irmãos? Ele que tem dado para mim a sua alma e também os méritos da alma e do corpo, assim como qualquer coisa pudesse, não se apresentaria por si mesmo pedindo para mim a eternidade? De outro lado esta é a intenção, e este é o significado da inscrição. 10. Pela misericórdia a ser demonstrada, se nos fosse necessário, praticá-la antes e mais prontamente aos Irmãos do que aos outros. Por isso se participassem na mesma competição duas pessoas, um Irmão e outro não irmão, e este último me oferecesse mil moedas de ouro para ajudá-lo no combate, desprezando as moedas de ouro, ajudarei o Irmão no momento crítico. Visto que ele me comunicou os seus méritos que estão acima das mil moedas de ouro e de prata (Sl. 118). 11. Para a paz: esta através da inscrição condena a discórdia mortal e pode fazer crescer uma concórdia mais estável. Quem daria prejuízo ou dano a alguém com o qual se empenhou por Deus no mesmo consórcio de méritos? São Domingos na verdade, também se utilizando desse meio essencial, não só rescindiu e arrancou das raízes dissídios privados, mas também pacificou guerras públicas e antigas. Ele mudou para melhor, reformou o inteiro mundo das almas. 12. Para o acúmulo dos méritos. Aos inscritos permanece não somente um prêmio pessoal, mas também igualmente universal. Próprio porque se empenham diante de todo o mundo com o seu exemplo, em servir Cristo e Maria no Saltério. Finalmente, visto que tantas e tão grandes são as razões da inscrição, é justo e ilustre exemplo, que em todos esses anos, seja lido em voz alta, no Oratório da Confraternidade ou na Paróquia, o livro público dos Irmãos e das Irmãs inscritas. Este era um costume realizado, na festa da Anunciação da Virgem Maria, porque é a principal e própria festa da Confraternidade do Saltério. Em outros lugares, por outro lado isto se fazia em outras festas: na Espanha e na Itália se fazia esta declamação durante a festa sacra e solene de São Domingos, como se estivesse presente o reparador e maravilhoso iluminador de tão grande Confraternidade renovada.
O Mestre Tomás do Templo demonstra que isto não foi observado em vão, visto que, enquanto esta Confraternidade floresceu pelo mundo, deu-se a mesma repetição com abundância e prosperidade de todos os bens. Também a Virgem Maria de Deus revelou a muitos que ela teria dado através da Confraternidade inumeráveis bens à Igreja. Por isso a cada bem, devem ser honrado ela e a Confraternidade. Deve também ser observada santa e religiosamente a cerimônia da inscrição.
Narra o Frade João do Monte no Marial, que um célebre homem de exímia ciência, (quando S. Domingos e S. Francisco iluminavam o mundo com as suas pregações, exemplos e milagres), por clemência de Deus foi raptado aos Céus e viu um grande volume, do qual resplendia uma clara luz que parecia a luz do sol. O grande volume era contornado por brilhantes raios, no qual viu escrito de forma muito elegante os nomes dos participantes da Confraternidade do Saltério. E viu S. Domingos e S. Francisco ao lado, sentados e escrevendo; estes com todo esforço e com incansável zelo, na época da sua peregrinação e pregação, em competição, chamavam e acendiam ao mesmo amor do culto divino, o maior número de pessoas. Mas o Santo Padre Domingos observava com todo cuidado e dedicação a cerimônia da inscrição, sendo que ele mesmo escrevia aqueles que foram predestinados.

CAPITULO XVIII

As muitas vantagens que se estendem da cerimônia de inscrição às coisas espirituais e temporais.

Vigilante Protetor e Pastor das ovelhas de Cristo, quantas e tão grandes vantagens divinas e humanas na Igreja e no Mundo Cristão, são fruto da cerimônia de inscrição e de participação à Confraternidade Mariana. A esta nós nos inscrevemos e ninguém pode enumerar suficientemente os dons e nem mesmo compreendê-los no seu esplendor. Eles podem ser vistos como acréscimos acumulativos, por parte destas duas divinas orações do Saltério, digo, a Oração do Senhor e a Saudação Angélica. E, se reconduzimos todas as coisas aos sumos princípios, é lícito propor aqui sobre tais dons, dez Orações do Senhor e quinze da Saudação Angélica. Estas duas orações evangélicas visto que exercem, como em uma competição, todo o esforço dos salmodiantes de Cristo e de Maria e recomendam a eles a produtividade. Não tem ninguém a quem a santa fé conceda sem ser injusta, a dúvida, que ao cansaço corresponde igual e infinitamente prêmios maiores. De fato cada um recebe, segundo o quanto foi em grau de carregar (2 Cor. 5).
I. Certamente a mesma Oração do Senhor com as palavras que a compõem, comunica dez ótimos Dons, com os quais a graça de Deus gratifica aqueles que merecem ser Salmodiantes. 1. Com a inscrição na Confraternidade os Salmodiantes (pedem) o bem, ou seja, a adoção como filhos de Deus, visto que os Salmodiantes oram o “Pai nosso”. Aqueles que foram pecaram pelas próprias culpas, com a participação nesta grande Confraternidade, se regeneraram filhos de Deus. 2. (Pedem) de imitar a Sociedade Celeste através da graça, visto que pregam “Que estais no céu”; ou seja, aquela dos mesmos Beatos, através da Graça e da Glória.
3. (Pedem) a santificação do Nome de Deus na Igreja, porque rezam muitas vezes “Santificado seja, etc”… Assim o Nome de Deus e de Maria em um único Saltério vem santificado cento e cinqüenta vezes, quantas vezes está na boca e nos corações de todos os participantes! E verdadeiramente estes, com a força da oração, por si mesmos se fazem santos. 4. (Pedem) o advento do Reino de Deus, seja na política, seja na Igreja, seja no Reino da Glória de Deus, porque oram “Vem a nós o vosso Reino”. E assim aqueles que antes eram escravos, agora são os libertos de Deus no seu Reino. 5. (Pedem) o cumprimento da Vontade de Deus, porque oram “Seja feita a vossa vontade etc.”. 6. (Pedem) o suficiente mais do que a abundância das coisas temporais, porque oram “O pão nosso etc.” necessário à vida mortal e no digno uso espiritual dos Sacramentos. Certamente estas ocasiões universais de todos os bens tem tido muita eficácia também para muitos que esqueceram por muito tempo de Deus e de si mesmos, para que nenhum dia passasse para eles, sem que existissem suplícios ao comovente Sacrifício da Santa Missa, antes de dedicar-se aos deveres da sua vocação. 7. (Pedem) a remissão dos pecados, porque oram “Perdoai”. Daqui, quanta conversão dos pecados foi e é feita! Para a surpresa e exultação dos Coros Angélicos. 8. (Pedem) a Fraterna Caridade e a paz dentro e fora, pública ou privada. Os resultados atestam perfeitamente estas coisas no mundo inteiro, porque oram “Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. 9. (Pedem) a liberação das tentações, porque oram “Não nos etc.”. E estes experimentaram em muitas ocasiões; aqueles lugares na Confraternidade a tão grande participação subiram aos Sansões, aos David, etc. 10. (Pedem) a liberação dos males da culpa e da punição, porque oram “Mas livrai-nos etc.”
E daqui vimos, que muitos doentes, aflitos e não somente os desesperados, foram trazidos a si, a Deus e a uma nova vida. Pela primeira vez eles permitiram ser inscritos nesta Confraternidade e estabeleceram de rezar devotamente o Saltério. Graças ao Saltério eu vi uma mulher cega voltar a ver; e uma outra ser libertada, vítima que era de um demônio mau e furioso.
A Fé Cristã nos ensina que se podem obter as mesmas coisas e tantas outras, pela eficácia da Oração ao Senhor, então por isso Cristo nos ensinou esta divina Oração: também colocou dentro da mesma todas as coisas boas a pedir e todas aquelas más a serem afastadas; então enfim, prometeu que o resultado seria conseguido: Pedir e obter: batas na porta e vos será aberto, peçais e recebereis. “De fato cada um que pede, obtém; e quem procura encontra, e a quem bate será aberto”. (Mt. 7; Lc. 11) E para que não parecesse não ter recebido nenhum dos pedidos acrescentou: Qualquer coisa que pedires na oração, acredite que a recebereis, e vos será dada (Mc. 11). E os dez pontos principais falam muito por si sós.
II. A Saudação Angélica no seu gênero contém quinze coisas boas, preparadas por aqueles que as pedem na devida forma; estas coisas são concedidas com a bondade de Deus aos Salmodiantes de Maria, seja em razão da dignidade da Saudação, seja em razão do mérito da Virgem; o demonstrarei com igual método e modo. Ela é formada num total por quinze palavrinhas divinas, que contém um mistério, eis o que mostrarei além dos frutos e dos efeitos divinos destas. A primeira coisa boa (pedida) é a liberação dos erros da maldição de Eva, através da oração Ave Maria. 2. (Pedem) a iluminação da mente, através da inspiração e das noções das ciências, e através da graça: através de Maria, ou seja, da iluminadora. 3. (Pedem) que seja dado aos seus servos o dom de uma Graça: porque oram “Graças”. 4. (Pedem) a abundância da graça através da plenitude do Espírito Santo: porque oram “Cheia”, e oram à especial plenitude de Maria. 5. (Pedem) a senhoria da liberdade pela qual Cristo nos libertou (Gal. 4), visto que no “Senhor”, exaltam particularmente a Senhoria da Soberana Maria. 6. (Pedem) a assistência de Deus na vida deste mundo: visto que oram, “Convosco”, os servos da sociedade de Maria. 7. (Pedem) a Benção Angélica: visto que é “Bendita, aqueles que rezam e veneram a Benção Angélica de Maria, igualmente eles (pedem) de serem benditos pelos Anjos. 8. (Pedem) a posse do privilégio, antes dos outros, que deve ser dado aos Salmodiantes; visto que no “Vós”, indicam uma outra vez a perfeição da Mãe de Deus sobre as outras mulheres. 9. (Pedem) o alcance da Misericórdia, visto que professam que a extraordinária Mãe de Misericórdia exceda “Entre as mulheres”. 10. (Pedem) uma especial benção, visto que cada dia repetem cento e cinqüenta vezes ao Filho de Deus, “Bendito”, aquele que bendiz aqueles que o bendizem. 11. (Pedem) o fruto da natureza, da graça e da glória. Visto que no “O fruto”, honram a Jesus, o extraordinário fruto de Maria. 12. (Pedem) a perfeição da pessoa na natureza, nos costumes e nos casos da sorte, segundo quanto alegrará a salvação. Visto que no “Ventre”, louvam com a palavra o nobre e puríssimo Templo da Virgindade e o Triclínico da Trindade. 13. (Pedem) a especial familiaridade de Maria em qualquer um dos dons: porque no “Vosso”, designam a especial natureza de Maria, que existiu nela. 14. (Pedem) a saúde da Graça e da Glória: pela qual oram “Jesus”: Ele salvará o seu povo dos pecados (Mt. 1), especialmente tais proclamadores da salvação e os Salmodiantes, perpétuos adoradores de seu Nome. 15. (Pedem) a digna honra dos Sacramentos: que, enquanto vivem, são os primeiros nestes, e munidos destes, mais dignamente deixaram a vida, depois de terem se confessado, arrependidos, alimentados pela Comunhão e unidos. Porque, “Cristo” 80, ou seja o ungido, o repetem muitas vezes os Salmodiantes coronários de Cristo e de Maria com o coração e com a boca. III. Direis. Não vejo em qual modo derivem da Saudação Angélica quinze boas palavras.
Dói-me o ceticismo. E visto que és cego cais no fosso. Escute então, se vês pouco. 1. É injusto para o cristão duvidar que estes, muitíssimos e maiores bens não sejam presentes na divina Saudação, e que estes não subsistam em Maria, cheia de graça. 2. Visto que é dado cada dia aos Salmodiantes o testemunho e um digno louvor dessa plenitude, e são recordados muitas vezes. Também plenamente e no modo devido, as coisas contidas nas divinas palavrinhas da Saudação. Assim se oferece à Virgem, do tesouro da mesma: as coisas colhidas nas mesmas pequenas palavras da Saudação são como taças decoradas e feitas para isso por Deus. 3. Visto que enfim a Verdade de Cristo promete que será restituído o cêntuplo (o produto da multiplicação por cem), por fim neste mundo, a quem terá doado: que a Santa Fé e a esperança justamente permitam a quem nunca poderá ser Cristão: de não crer em Deus, de nutrir a desconfiança no bem e que as suas Palavras sejam palavras de vida, e que as mesmas coisas sejam daquele que disse e as coisas foram feitas.
Deste conseguiram duas situações a serem admiradas e escritas. A primeira é a dignidade, a força, a potência, a riqueza divina e a santidade da Saudação Ave, etc. Em segundo lugar a felicidade dos Salmodiantes, aos quais Deus dignou-se de inspirar aquela intenção, de se deixar conquistar por aquela tão grande Fraternidade do Saltério e por aquele Saltério divino, não somente por aquele de David: orientando-se a este e junto com este, quase como o movimento impetuoso de um rio, que alegra a Cidade de Deus e que santificou o tabernáculo dele: pode-se entender com a mente, que navegaram neste rio.
IV. Assim em tua vantagem eis: cada Salmodiante oferece cada dia quinze guirlandas à Maria, e essas são de três gêneros: de Rosas e de Lírios nas primeiras cinquenta; a outra de Gemas nas cinquenta sucessivas; a terceira de estrelas nas últimas cinquenta. Quem não percebe claramente que as palavras da Saudação superam grandemente as rosas em suavidade, as gemas em preciosidade e as estrelas em esplendor? Enfim, o acima dito Esposo da mesma Virgem Maria viu e ouviu dela, essas e outras semelhantes maravilhas.

CAPÍTULO XIX
O que é melhor: Orar o Saltério em voz alta ou em silêncio?

Pregá-lo? Escrevê-lo? Ou defendê-lo?
Temível Senhor dos servos fiéis de Cristo. A avareza humana frequentemente, ao invés de seguir a devoção, pede muita coisa impulsionada pela superficialidade. Primeira pergunta. Qual das duas coisas é superior: Orar o Saltério em silêncio ou em voz alta?
Respondo. 1. Quem sabe pregá-lo em silêncio, não é necessário usar a voz, é um ditado de Agostinho: A oração mental pode ser válida sem voz, mas a oração vocal não é em nenhum modo merecedora de reconhecimento, sem uma mente devota. 2. É melhor o Saltério rezado mentalmente e em voz alta, do que somente pelo segundo modo, porque traz um bem dobrado: pela ação do corpo e pelo esforço da mente o cansaço é maior. 3. O exercício do Saltério pode levar a merecer mais a vida eterna, já que é plenamente voluntário e não ordenado por nenhum preceito da Igreja e bom por si mesmo, como exposto acima.
II. Segunda pergunta. Qual das duas coisas é melhor: orar o Saltério de acordo com as palavras ou de acordo com as situações?
Respondo 1. As meditações sobre a Encarnação, a Paixão, a Glória de Cristo, os Santos, as virtudes e os vícios estão no Saltério, além da atenção ao sentido das palavras, visto que existe aqueles que por uma estrada ou por outra tiram a monotonia com a novidade das coisas meditadas. 2. Este Saltério foi criado para orar na Igreja publicamente e principalmente para colocar-se sob Deus: sendo de livre devoção e não de necessidade. 3. Ocorre que o Salmodiante de Maria preste atenção no orar, mesmo se concretamente não pregue atentamente. De fato não é necessária a atenção ativa para meditar, especialmente neste modo livre de rezar: por isso se pode orar enquanto se caminha etc., e de qualquer outro modo, é possível acrescentar, tirar, dividir as partes do Saltério como quiser.
III. Terceira pergunta. Qual das duas coisas é melhor: pregar ou orar o Saltério? O pregar tem prioridade, visto que quanto mais o bem é comum, mais é útil e melhor. Mesmo que orar, onde existe o fervor da devoção privada, possa ter primazia a qualquer outra coisa.
IV. Quarta pergunta. O que é o melhor: receber a Confissão e dar como penitência o Saltério, ou proteger o mesmo dos ofensores, ou somente rezar? Diferencio. 1Tudo o que foi dito acima é mais importante do que somente orar. 2. Mas orar pode estar onde existe o bem de cada um. 3. Rezar o Saltério como penitência ou defendê-lo, é como orar. Santo Agostinho disse: Cada boa obra é uma oração, e é verdadeiramente assim.
V. Quinta pergunta. O que é melhor: escrever sobre o Saltério, ou pregá-lo? Digo que é escrever. 1. Visto que aquele que escreve é o Doutor dos Doutores; que depois preparam os mais simples à pregação. 2. E visto que escrevendo existe maior contemplação, porque se aproximam da vida de meditação, mais do que à pregação que trata da vida ativa. 3. O escriba é como um Moisés, que revela a Aarão a Palavra do Senhor. Na verdade os que pregam são como Aarão sujeito a Moisés na palavra. 4. Se bem que em relação ao cansaço, a caridade e a necessidade, aquele que prega pode vir a ser mais merecedor do que aquele que escreve.
VI. Sexta pergunta. Qual das duas coisas é melhor: escrever sob ditado de outro, ou orar, pregar, confessar? Etc. Respondo: 1. Os escribas dos Santos Doutores morreram em graça, merecem a Auréola dos Doutores e a divisão da glória, mesmo se não de igual valor de seus Mestres. 2. Visto que na verdade estes pelo grande cansaço cotidiano estão frequentemente desmotivados mentalmente e cansados fisicamente; da mesma forma as tentações diabólicas frequentemente impulsionam a omitir a transcrição, enfim a modificar o seu conteúdo etc., por isso os escribas têm grande mérito, porque eles têm uma atividade muito desgastante. Deve-se, porém, escrever por pura devoção e não pela avareza do salário.
3. Aqueles que divulgam os escritos também têm grande mérito. Esses são como os guardiões, aos quais são confiados os vasos da doutrina do Espírito Santo. E é justo que esses sejam inscritos na lista da Confraternidade do Saltério, visto que, mesmo rezando pouco, ainda assim oram e divulgam o Saltério: honrando Cristo e Maria.
VII. Enfim aqui relato o que a Virgem Maria revelou, quatro anos atrás, a um devoto, ela disse: Eu obtive do meu Filho, que todos nesta Confraternidade pudessem ter entre os seus irmãos toda a cúria celeste, na vida e na morte, onde terão juntos aos Santos a Comunhão de todos os méritos, como se os mesmos Beatos tivessem nesta vida mortal uma só e mesma Confraternidade. Ele se maravilhou, não acreditando nas palavras ditas. E ela disse a ele: Porque não acreditas que esses têm o mesmo valor, quando os meus Salmodiantes fazem no mundo aquilo que os meus Beatos fazem no Céu? São Gregório relata que fazem parte das Classes dos anjos, os homens que realizaram ações sagradas durante a vida.

CAPÍTULO XX

Deve-se levar consigo o Saltério?

Bispo santíssimo dos servos de Cristo. I. Pergunta-se: é bom levar consigo na cintura, ou na mão, ou de qualquer outra forma o Saltério, ou Rosário? Respondo: é bom e útil, pela fraqueza da memória humana, pelo exercício do Saltério e pelo bom exemplo, recomendado a todos no Novo Testamento.
II. Este exemplo traz méritos? Respondo: Se é feito sem hipocrisia e com a intenção de divulgar a fé, para arrastar os outros ao mesmo culto de Deus, certamente este não pode ser meritório. Alguma coisa se lê nas revelações de S. Brígida, a qual também com maravilhosa devoção usou frequentemente este Saltério e o levava consigo visivelmente.
III. Qual das duas coisas é mais útil: Levá-lo abertamente, ou não levá-lo, mas orá-lo em segredo? Respondo: 1. O exemplo da edificação, maximamente perpétuo, é necessário à Igreja, e, portanto é mais útil levá-lo. Aonde existe necessidade de obter, é mais útil orar em relação a outras coisas, é igual: visto que a Caridade é a medida e o peso dos dois modos. Se alguém, impulsionado por uma grande caridade pela salvação de muitos, o leva somente e não ora sem dúvida merece mais. Se ao invés é impulsionado por uma menor caridade, merecerá menos; merecerá proporcionalmente, se impulsionado por uma caridade equivalente. 2. Mas da trabalhosa atividade de orar, vem também o fruto: orar será mais útil à salvação do que somente levar o Saltério.
IV. Convém aos seculares Senhores e Senhoras levá-lo? Sim e principalmente por si mesmos: porque oferecem bom exemplo à comunidade através das suas ações. Isto no mais alto grau porque, ou não querem ou são menos capazes de aplicar-se ou dedicar-se as boas obras.
V. Convém que o Saltério seja levado pelos Eclesiásticos, os membros do povo, os Religiosos? O que os impede? Estes, mais do que outros, estão empenhados no culto de Cristo e de Maria: com a força da sua condição, são comprometidos em dar bom exemplo aos leigos, nas coisas sagradas. É evidente que os Leigos não podem imitá-los no jejum, na modéstia dos vestidos, na Ciência, na Doutrina, na Disciplina, nem nas orações públicas da Igreja, etc., para a diversidade de uma condição mais alta; mas o povo pode imitar o Sacro Clero, assim como os filhos imitam os pais, no pregar e levar consigo este Saltério. Eis um exemplo: se lê no Mestre Tomás do Templo, companheiro de São Domingos na oração do Saltério, que na Espanha um grandíssimo Bispo foi capaz de converter com o Saltério, o povo que tinha se entregado aos costumes depravados. O Bispo já tinha experimentado outras coisas por muito tempo, frequentemente e até assiduamente, mas que não tinham dado resultados. Somente depois que muitas pessoas tiveram a experiência do Saltério marcadas na alma, ele se propôs a experimentá-lo. Então o Bispo foi o primeiro a levar pendurado na cintura um Rosário para orar, bem grande e visível. A novidade acabou provocando a admiração do povo e logo depois acrescentou a pregação e os súditos passaram a escutá-lo. O bastão deste golpeava as almas dos indiferentes. Com a força e a graça do Saltério, pouco a pouco abatia e rompia os cruéis e duros corações dos homens, até que finalmente dissipava os maus costumes desde os seus fundamentos. Entre outras esta era uma expressão do bom pastor na assembléia. Eis, disse (e levantava com a mão mostrando aquele admirável Rosário) eis, existe grande dignidade e pleno aproveitamento de salvação no Saltério da Virgem Maria, a ilustre Maria, que eu contemporaneamente, vosso Pontífice e Doutor da Sacra Teologia e de ambos os Direitos, o levo fora de casa comigo, na cintura, para onde eu for como suma glória e Coroa de glória do meu Sacro Pontificado, do Doutor e de todos os bens. Ao mesmo tempo lançou nas suas almas dardos incendiados. Depois em seguida foi até a praça para apresentar o semelhante feito de lenha: pouco a pouco os induziu à fé que tinha sido abandonada e apagada! E com a mesma prática habituou-os a Oração do Saltério; enfim aumentou a fé que tinha diminuído e se apagado! E com a mesma pratica habituou à Oração do Saltério; aumentou a fé fragilizada e a honestidade pública tanto que as pessoas do povo se observavam com maravilha em uma nova luz, como saídos do inferno da vida passada. Mudados de improviso em outros homens, mudaram a vida e os costumes.
VI. Relato, aquilo que eu vi: 1. Vi na Alemanha três bispos, que levavam pendurados ao pescoço Saltérios simples e visíveis. Nobres colares. 2. E eu mesmo dei Saltérios a vários Bispos, em diversos lugares e esses, com alegria evidente e com íntima consolação, levavam consigo como um exemplo e um espetáculo belíssimo. 3. Lembro de ter lido no nosso Pai Mestre Tomás do Templo que o Saltério era venerado de tal forma que, quem começava um novo momento da vida, ou iniciava um trabalho, era necessário que aparecesse em público com o Saltério como sinal de fé, mostrando-se um bom homem! Também seria considerado estranho ou presságio de ruim agouro ver um Esposo ou uma Esposa sem o Saltério. 4. Quem se preparava para estudar ou apreender um trabalho mecânico, já no aprendizado se ensinava junto ao trabalho o Saltério, que era colocado como apêndice. Não se permitia a ninguém ensinar qualquer arte ou artes liberais, se não fosse suficientemente respeitoso em relação ao Saltério. Aqueles que se preparavam para entrar na Religião, no comércio com o exterior, na vida militar, em levar mensagens hostis ao inimigo, embarcar para o mar, ou para se preparar em qualquer outra coisa semelhante, eram todas consideradas infecundas, se não fosse pedido a ajuda e a proteção do poderoso Saltério. E as mentes eram cheias daquela devoção, principalmente na Espanha e em toda a Itália. Estavam convencidos devotamente que o Saltério de Domingos tinha levado um testemunho da sua santidade, que cada um fazia seu no próprio coração: Inicialmente procures o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas coisas serão dadas a vós. O reino de Deus e a sua justiça entraram no mundo através da Saudação Angélica e se mantém pela Oração do Senhor. Eu vi homens de idade avançada, de honrada velhice e velhas antiquadas darem exemplo, assim como testemunharem o exemplo dos próprios avôs.
VII. Pergunta. Como deve ser o Saltério para praticar a oração? 1. Em número, estas podem ser de quinze dezenas, distintas através de quinze contas, ou objetos maiores; ou pode ser um só grupo de cinquenta pequenos glóbulos dispostos de forma que repetida por três vezes, se reza todo o Saltério. 2. Na matéria, pode ser como quiser: porém é preferível que fosse bonita, seja porque as coisas bonitas atraem, como estímulo de entusiasmo, seja porque são instrumentos e sinais de uma linda oração. 3. Aquele atraído pela forma não se deve atribuir à vaidade, mas ao louvor divino, o qual se procura estimular, aumentar, e ornar tudo que busca o culto de Deus por valor e beleza e depois por magnífica grandiosidade. 4. A Igreja ama celebrar tudo o que é Divino, com a maior majestade possível. As coisas que estão sujas, sujam ainda mais, enquanto que as coisas bonitas embelezam e agradam a todos. 5. Por isso a Igreja procura imagens e quadros famosos de Cristo, de Maria e dos Santos, assim como, para tirar os obstáculos aos olhos, procura evitar as estátuas vítimas da corrosão, desfiguradas e os quadros que apodreceram pelo mofo. As imagens devem ser conformes as coisas que representam. 6. Creio que a Beata Virgem tenha revelado tais coisas uma vez só e apenas para um devoto. 7. Eu sei que: frequentemente a Augusta Rainha Santa dos Santos aparecia, com um magnífico Saltério nas mãos dizendo: Mesmo que às vezes alguns mortais sejam indignos de esplêndidos e preciosos Saltérios, eu sou designada digníssima por aqueles que me servem desse modo.
VIII. Tratamos de alguns poucos elogios significativos ao Saltério, presente na Sagrada Escritura: as pedrinhas para orar. 1. São as pedras, recavadas do monte da contemplação (Dan. 2). 2. Pedras de granizo, que caem do céu contra os inimigos da fé (Gs. 10). 3. São as pedras do socorro, que vem em ajuda contra os Filisteus do mundo (1 Sam. 4). 4. São as pedras da funda de David, que abateram o satânico Golias (1. Sam. 17). 5. São as romãzeiras, desenhadas em alguns ornamentos do culto sagrado de Aarão (Es. 39). 6. São os olhos dos véus da Taberna, (Es. 26 e 36 igualmente). 7. São os degraus da escada de Jacó (Gen. 28). 8. São as pedras do Templo de Salomão (1 Re 6) e dos muros de Jerusalém (Ap. 21). 9. São os olhos do incensório do Senhor (Es. 26). 10. São os anéis da corrente, com os quais o Anjo acorrentou no abismo aquele que está acorrentado. Deve-se saber que na antiguidade se formava, e até nós transmitiu o santo costume, de que a Oração do Senhor nunca deve ser feita sem a Saudação Angélica.
IX: Poderias perguntar enfim: O que significa os sinais do Saltério? Respondo: assim como a escritura e as palavras tem os seus sinais segundo um princípio, o Saltério tem seus sinais de acordo com o principio do Novo Testamento. 1. Em relação aos usos difusos dos sinais da oração, no Antigo Testamento o Rabino Moisés, Salomão e André narram que os homens e as mulheres hebréias, usavam normalmente nas mãos e na cintura, objetos para contar as orações, de número maior ou menor segundo a devoção de cada fé: assim colocando à intenção delas uma medida e um limite, além da qual não queriam rezar. Esse é um comandar a si e ao tempo. 2. Por isso parece inacreditável, que os Apóstolos de Cristo levassem objetos para as orações, para que segundo uma disposição e número orassem suficientemente. São Bartolomeu testemunhou com o exemplo, rezando quatro grupos de cinquenta orações de dia e de noite curvando-se por terra. 3. Sobre Santo Elígio, soubemos que sozinho tinha preparado uma maravilhosa cátedra, composta por cento e cinquenta pregos de ouro e de prata e igualmente outros quinze pregos intercalados de dimensões maiores. Sobre estes objetos pendurados, li no livro das maravilhas do mundo de Vismaria do Ducado Magnapolese, que ele patrocinava o Saltério da Virgem.

CAPÍTULO XXI

A distribuição dos Saltérios ao povo.

Excelente autor, promotor e protetor dos servos de Cristo e de Maria. I. É bom, honroso e salvador distribuir Saltérios. As razões são evidentes por si. 1. Quem poderá negar que é um bem dar esmolas, sobretudo espirituais, como esta? 2. Oferecer a uma Igreja os sagrados livros dos Ofícios divinos é salvador: não os Saltérios manuais, visto que são chamados os livros dos leigos, se não dos Doutores e dos Príncipes? 3. A cada um foi confiado, em relação ao seu próximo, de esforçar-se em conduzi-lo até o bem maior: mas este vem com tais dons. 4. Visto que o bem se difunde e comunica sozinho segundo São Tomás. O princípio e a razão da nossa fraternidade consistem em uma mútua comunhão: por isso, buscando a salvação nas coisas espirituais, também neste tipo de difusão é notavelmente merecedora e acho que não existirá quem a corromperá. 5. No Céu é reservada uma coroa para as obras de misericórdia corporal e o louvor na terra: e entre estas incluo os dons das coroas, feitas aos habitantes do lugar, visto que, aquilo que fizestes a um dos meus pequenos, fizestes também a mim, disse o Senhor e o mesmo dirá a Rainha Virgem Maria.
II. Proponho como exemplo São Domingos, que foi um verdadeiro Pregador do Santo Evangelho e verdadeiramente como grande pensador, plantou muitíssimo este Saltério. 1. Ele andava frequentemente com sacos cheios de Rosário, que a fé nos Princípios, dos Barões e dos aristocratas fornecia a ele para distribuí-los. 2. Eu mesmo vi ricos e pobres, para os quais o dom do Saltério era muito mais valioso do que o dinheiro. 3. Li também sobre um homem muito famoso pela infâmia de seus atos torpes, que depois de se converter às coisas mais sanas da vida recomendava, sobretudo, o Saltério para a salvação: e depois de uma vida de ostentação foi incluído entre os Santos, visto que tinha se aplicado tanto em distribuir Saltérios.
CAPÍTULO XXII

Respostas às criticas

Invencível Defensor dos irmãos de Cristo. As coisas ditas e declaradas até agora puderam suportar a calúnia ou dos inimigos, ou dos inexperientes ou de ambos.
Não é coisa estranha ou nova. 1. Por quanto sejam rígidos os invernos e terríveis as tempestades, o grão de trigo germina no campo e cresce. 2. A Igreja também cresceu com as adversidades, assim como os Saltérios cresceram. 3. Verdadeiramente S. Agostinho escreveu que: “A falsidade, a malícia, a ignorância e a curiosidade não faltaram desde o início do mundo”. Nem deixaram de atacar a Verdade. 4. Quantos males o Texto Sagrado suportou dos Hereges, dos Judeus, dos Pagãos? Mas disse o filósofo: “Cada um julga e fala como foi na vida”. 2. Por isso os malvados e os mundanos julgam sempre as coisas Divinas na forma humana e incorreta: assim os médicos julgam em modo natural os milagres; os Juristas julgam os Eclesiásticos segundo as leis humanas. 3. Por isso assim como não é possível alcançar a fé com a razão humana, assim também não é possível entender os milagres, os profetas, ou as revelações divinas. 4. Então contra tais sábios cegos, Isaias exclama: “Cegue o coração deste povo e torne pesadas as orelhas deles, para que não entendam e não vejam”. (cap. 6). 5. Disto derivou o erro dos Fariseus e dos Judeus em relação a Cristo e os seus milagres: não acreditaram nos Apóstolos. Estes não confiam só na revelação. Mesmo admitindo que nenhuma revelação tenha acontecido a esses: permanece a verdade das coisas ditas, com razões superiores a qualquer outra. Por isso a verdade rejeita as criticas vazias como as calúnias. Relato algumas calúnias, para que as maiores sejam vistas como mera vaidade. I. Primeira critica: a Confraternidade do Saltério é uma novidade. II. Não é aprovada. III. É até supersticiosa. IV. E também presunçosa.
Sobre a primeira critica respondo: é nova na forma de orar, mas a oração é instituição antiqüíssima. Sobre a segunda, se diz o falso. 1. A Confraternidade do Saltério não é só a Festa cotidiana da Anunciação Angélica: a Anunciação é de fato, a Saudação Angélica. Recordar uma equivale a recordar a outra. Quem poderia dizer que não foi aprovada a Anunciação na Igreja? 2. Quem ignoraria que na solenidade da Anunciação se contam de todos os lados, numerosas Confraternidades: coisas que o mundo e só este tem como testemunho, e exulta a Igreja? Quem poderia pensar que não teria sido aprovada, se no dia da Anunciação, só poucas Missas louvam a comunhão dos escritos, como uma realidade permitida e aprovada diretamente? Se tantos são os méritos de todas as obras pias, quantos são visíveis em todos os países do mundo, a Confraternidade germinante, florescente e próspera? Sabendo e admitindo estas coisas, existe o cego que se alegra de falar mal, com uma obstinada malícia.
Sobre a terceira: as chamas supersticiosas? Deus nos perdoe da injúria e da dura blasfêmia contra a Caridade de Cristo, de Maria e de toda a pia Comunidade.
Sobre a quarta: a chamas presunçosas? A tua é uma presunção insuportável: tu que atacas com boca tão impura, uma coisa tão santa, saudável e esplendente Comunhão dos muitos milagres de Deus. O sacrilégio de Elimas o Mago (At. 13), de opor-se a São Paulo, foi tão grande, que uma ignorância vingadora enfim o golpeou.
II. Segunda critica. Por causa de todas estas orações prescritas, o povo abandonará as penitências, o Clero abandonará as horas Canônicas. Sobre este argumento, ou melhor, estupidez, cabe dizer que se a Oração do Senhor e a Saudação Angélica fossem um peso, elas depois de serem afastadas do mundo, se apagariam no coração. Conservar-se-iam apenas nas penitências e somente nas Horas Canônicas. Não compreendes que aquelas orações são mantidas pela regra da necessidade, mas no Saltério são rezadas por uma livre decisão da devota vontade: Voluntariamente a te sacrificarei. Por isso Boécio diz: Todas as coisas induzem a ter orações privadas além das necessárias. O parecer de São Bernardo é: que as orações privadas nos ajudam a rezar mais santa e utilmente do que aquelas públicas da Igreja. O Apostolo diz: Orais sem interrupção. O Senhor: Vigiais e pregais para não cair em tentação.
III. Terceira critica. Que as Confraternidades devessem se reunir somente na igreja dos Frades Pregadores, dos Frades Menores, e de qualquer outra Ordem. Se assim fosse as Paróquias se tornariam desertas, os seus direitos e as suas vantagens diminuiriam etc. 1. Este é um rancor e esconde a avareza: se somente te esforçarás para orar para que na tua paróquia a Confraternidade do Saltério se torne muito numerosa (Isto os Pontífices atuais não impedem). De fato existem cerca de cinqüenta mil homens, de todos esses lugares e de cada ordem e grau. 2. De resto, recebi dos membros do povo comentários contrários aos teus lamentos: visto que, desde quando os fiéis acolheram a Confraternidade do Saltério, se iniciaram a fazer as renovações, a dar testamentos em execução, a frequentar Missas, a levar doações à Igreja etc. Estas coisas são muito diferentes do temor.
IV. Quarta critica. O povo que se encontra na Confraternidade, mesmo se não o é na realidade, pode ser tranquilamente instrumentalizado nas reuniões pela conspiração de facções. O que direi aqui, se não: Os malvados me contaram mentiras. 1. Os leques daqueles que fazem coisas malignas podem trazer aos justos dissídios nas almas. 2. Mas a Caridade da Confraternidade une diante das discórdias, conserva unida na concórdia e ensina a manter longe e fugir de cada discórdia, se não se consegue encontrar um acordo. 3. Quem constrói com Cristo e com a Mãe de Cristo, não destrói. 4. A inscrição também mantém forte e reforçada a união. 5. Cristo e Maria não amam friamente os seus servos particulares a ponto de permitir que os confederados em uma fé zelosa, arruínem desconsideradamente em execráveis facções. Ah, o quanto a Caridade de Cristo é mal interpretada sobre isto! As orelhas santas assustam a blasfêmia.
V. Quinta critica. Aquela Confraternidade vende sonhos, fantasias e fábulas para velhinhas, como coisas admiráveis, grandes e reveladas. A essas, com toda a piedade e compaixão respondo. 1. Ninguém procurou crer naquelas coisas maravilhosas que foram reveladas sobre o Saltério da misericórdia de Deus e da Mãe de Deus, e que foram recordadas, sem dizer o nome, por edificação e ensinamento. Entenda quem quer e pode. Mas quem desprezou temerariamente o Saltério, verá. Diz bem São Basílio: Os malvados podem incomodar os justos, mas mesmo que possam esconder a verdade, não podem sufocá-la.
Mas os profetas, os Apóstolos e os Santos homens que se mantiveram longe deste, constantemente opuseram um muro à verdade. 2. Depois: admitido que Deus nunca tenha se dignado a fazer nenhuma revelação sobre o Saltério: aquela, porém, é a substância do Saltério, aquela é a matéria, a forma e a motivação certa, ao ponto de não ter necessidade da própria verdade, do suporte da revelação. Eu disse: por mim mesmo permanece forte o Saltério, e as portas dos infernos não prevalecerão contra o Evangelho da Oração do Senhor e da Saudação Angélica. 3. Sobre essas Revelações que eu recordo novas ou recentes, como sei, não afirmo que estas desde então foram aprovadas pela Igreja, mas as deixo plenamente à devoção de cada um e à liberdade daqueles que as escutam e as lêem. 4. Assim é: até quando não tenham a aprovação, porém, são aprováveis: nem são diferentes daquelas, que os documentos dos escritos aprovados por todos expunham as ainda não aprovadas por uma solene atestação canônica, mas não por estas reprováveis, nem contrárias a Doutrina, à Disciplina e aos Cânones da Igreja. 5. Que coisa então impede na divina dignidade do Saltério, ou seja, na Oração do Senhor e na Saudação Angélica, que Deus não queira ou não possa alegrar-se de gloriosas revelações e de obras milagrosas? Sendo o fim e o exercício destas a nossa santificação e a saudação (dele).

CAPÍTULO XXIII

Os promotores, os defensores e os protetores do Saltério e da Fraternidade.

Altíssimo Superior da Igreja nessas regiões, os pregadores, os defensores, os divulgadores e os sustentadores do Saltério não devem ser privados do louvor a estes devido.
I.1. Estes são os maiores Anjos de Deus, que iluminaram com a luz os menores no Céu, para que fossem os primeiros no amor e na honra de Deus Criador. 2. São como o bom Abel, aqueles que promovem o culto de Deus; são como Set, aqueles que invocam o nome de Senhor (Gen.4). 3. São como Noé (Gen. 7), que salva do dilúvio dos pecados muitas almas na Arca da Fraternidade: de fato constróis, em sinal de paz, a Arca da aliança para os pecadores. Aqueles que são tentados, suplicam que a pomba vá em alto verso, com o ramo da oliveira da divina fé. 4. São como Abrão, os que liberam os prisioneiros da mão de gente pecadora (Gen. 14). 5. São como Isaac, os que escavam poços de água, de graça e de benção (Gen. 26).
II. 6. Estes constroem a escada do Céu, como Jacó (Gen. 28), com os quais os pecadores podem retornar a Deus. 7. Esses semeiam com Jacó (Gen. 26) os campos das graças e recolhem o alimento abundante nos silos. 8. As boas graças e a fama daqueles se levantam, como os refúgios de José, (Gen. 37) e são tidas igualmente em admiração e em veneração pelos outros. 9. Estes, como José no Egito (Gen. 41), são salvadores do mundo, por orar o Saltério. 10. Estes, como Moisés, pastoreiam as ovelhas, fiéis entre as orações. Eles que produzem através da vara da penitência coisas maravilhosas e grandes com a conversão dos pecadores, e conversões mais santas. Eles infligem aos demônios muitas e graves feridas, para liberar da escravidão aqueles que são acorrentados pela culpa, para fazer descer do céu a mana da graça e da Eucaristia, para fazer sair da rocha as lágrimas da penitência, para conduzir os irmãos ao monte do celeste eterno repouso.
III. 11. Eles são como Josué, que fez passar através do rio Jordão os irmãos sem se molhar. Com o tempo eles formam e renovam com o exemplo, com o mérito e com a palavra, os bons e maus ao culto de Deus. 12. São como Samuel (1 Sam. 8), instrutores do povo e guias orientando para toda a dignidade da vida. 13. São como David (1 Sam. 17) que abate, através da funda do Saltério, Golias de Satanás com as cinco puríssimas contas que intercalam as cinqüenta orações. 14. São como Elias (1 Re 19), observante da Lei, buscando o fim dos rebeldes e a salvação daqueles que se arrependem. 15. São como Eliseu, os que cumprem, em virtude do Saltério, muitas maravilhas.
IV. 16. Como o orgulhoso Jeremias, que leva a corrente do Saltério no pescoço, para anunciar ao mesmo tempo aos culpados a iniqüidade e a penitência. 17. Como Daniel que atravessou as Feridas de Cristo e ofereceu preces a Deus. 18. Como Zorobabel que liberou muitíssimos da escravidão na Babilônia. 19. Como Isaías que depois de ter orado e meditado assiduamente, contempla as fontes da doutrina, e prega a Encarnação e a paixão de Cristo. 20. Como Esdras e Neemias, que reavivaram o fogo da Caridade soterrado e quase apagado; que restituíram a Lei abandonada e reedificaram o Templo de Jerusalém.
V.21. Estes são os companheiros de Gabriel na Saudação Angélica, que anunciavam mais frequentemente ao mundo. 22. São os Irmãos dos Anjos, que invocam a paz da Confraternidade aos homens de boa vontade, no divino louvor de Cristo, nascido do intacto ventre Virginal. 23. Estes são os Discípulos imitadores e seguidores de Cristo: são os Apóstolos que entregam ao mundo o Evangelho da Saudação (Angélica) e da Oração (do Senhor). 24. São os intercessores em favor das pessoas e dos doentes, visto que os conduzem a Cristo para que os cure. 25. São os presentes na Transfiguração do Senhor, as testemunhas e pregadores da Agonia no local da Crucificação sobre o monte e a Ascensão. Encontrei e li essas coisas no Marial de João do Monte, pregador e inseparável companheiro na pregação feita por nosso Santo Padre Domingos.

CAPÍTULO XXIV

Os caluniadores e instigadores contra o Saltério e os inimigos da mesma Confraternidade.

Docíssimo Pai e Pastor das ovelhas de Cristo. Não faltam aqueles que sem motivos denigrem o Saltério do Filho e da Mãe de Deus e os servos dos mesmos na Fraternidade, em parte por certa malicia e inveja do diabo, em parte por ignorância, por dissimulação e ociosidade. E faziam uma venenosa maledicência contra as coisas ditas acima com grande escândalo dos pequenos e o distúrbio dos devotos. Quem são estes? Se devem reconhecer nas feições.

Estes são o Grande Monstro, que move guerra contra a Virgem Mulher (Ap. 12), o qual com o rabo do seu erro arrasta um terço das estrelas do céu, ou seja, dos devotos e os coloca na terra do escândalo. A língua de víbora com um só sopro, em um momento, pode corromper mais do que toda a arte e cura dos médicos, pode para tentar restituir a saúde. A inclinação da natureza humana ajuda ao mal. 2. Estes são como a serpente (Gen. 3), sedutora dos primeiros homens. 3. São como a fugaz Eva, que com o instinto da carne fez expulsar muitos do Paraíso da devoção do Saltério da Virgem. 4. Estes são (Gen. 37), os malvados monstros da inveja, aqueles que devoram e perseguem os Josés mais justos do que eles. 5. São como os exploradores da Terra Prometida, que anunciam falsas noticias desta aos Israelitas (Deut. 2), para que com o engano destes, o povo morra no deserto.
II. 6. São os grandes homens, que admitem a Terra Prometida da Sagrada Escritura, porém, arrastam o povo com palavras e exemplos da verdadeira vida, para a morte. 7. Estes são os Acan de Jericó, que atiram a maldição com o engano, e por isso (Gs. 7), assolam todo o povo do Senhor. Cuidado com aqueles que são condenados à lapidação e à combustão. 8. Estes são, como Peninna, mulher de Elkan (1 Sam. 1), que tem em desapreço a profetisa Ana dedicada às orações, e então foram punidos com a maldição. 9. Esses são os Elis que acreditam que Santa Ana é bêbada e filha de Belial. Cuidado com aqueles que estão no precipício da morte. 10. Estes são como Manasse, assassinos de Profetas e subversivos à Lei Divina (2 Re 21).
III.11. São como Nabucodonosor, destruidor da cidade santa e do templo de Deus. Maldição! Se nunca empenharam tempo à penitência, porém, não poderão encontrá-lo. 12. São como Erodes, infanticida, que escandalizou os pequenos do povo ignorante através da brutal espada da língua que denigre. Estes colocam em fuga Jesus e Maria ao Egito, enquanto arrastam o povo à profana devoção. 13. Estes são os Fariseus caluniadores da doutrina de Cristo e que atentaram contra a sua vida. 14. São os mesmos que ridicularizam o Senhor que pendurado na Cruz implora a salvação do mundo. 15. Estes são o poço do abismo (Ap. 9), que enchem o mundo com a fumaça da sua vaidade e que fazem sair desta os gafanhotos dos erros e dos escândalos contra os servos de Deus: maldição ao mundo pelo escândalo. Dessa e outras maldições, libertes a Ave da libertadora através de Jesus Cristo.
Por isso, Salmo 150: Louvais ele no Saltério. Salmo 32: No Saltério existem 10 cordas salmodiais a ele. Cantais ao Senhor o cântico novo da Saudação Angélica: Cantais ao Senhor toda a terra, ou seja, cada homem. Romanos 16: Saudais Maria Mãe de Deus que se cansou muito junto comigo, em meio a vós. Cantais como os cantores no Tabernáculo de Moisés e no Templo de Salomão, para que louvemos junto aos Anjos a Santíssima Trindade e a Rainha dos Santos na eterna felicidade, através de Jesus Cristo. Amém.




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