Rússia é o instrumento do castigo do Céu
A Santíssima Virgem é clara na indicação de que se não deve consagrar outro país qualquer ao Seu Imaculado Coração, mas tão-somente a Rússia.
Não existe outro pedido explícito de consagração nas mensagens de Fátima, Pontevedra e Tui, recebidas entre 1917 e 1937 por Irmã Lúcia, a qual tem absoluta certeza de haver transmitido com fidelidade as palavras de Nossa Senhora. Atesta-o Pe. Alonso, o grande especialista oficial de Fátima:
De fato, Lúcia, em 1917, desconhecia a realidade político-geográfica da Rússia, desconhecia até mesmo o nome do país. Interrogada por seu diretor, o Pe. Gonçalves, para que esclarecesse como chegou ao conhecimento da Rússia ou porque se recordara do nome da Rússia, e para que transmitisse o que Nossa Senhora lhe pedira na aparição de julho, respondeu Lúcia: “Até então, só tinha ouvido falar dos galegos e dos espanhóis, não sabia o nome de nenhum país. Mas o que percebíamos durante as aparições de Nossa Senhora ficava de tal modo gravado em nós que nunca esqueceríamos. Por isso é que eu sei bem, e com certeza, que Nossa Senhora falou expressamente da Rússia em julho de 1917” (Por eso es que yo sé bien, y con certeza, que Nuestra Señora hablo expresamente de Rusia, en julio de 1917).
Por que a Rússia?
A Rússia é o maior país do mundo, contando atualmente com 17 milhões de quilômetros quadrados e 140 milhões de habitantes. Distâncias inauditas separam os pontos extremos do território: dez mil quilômetros entre Vladvostok a leste e a fronteira polonesa a oeste (onze fusos horários); dois mil, de norte a sul. Dezenas de povos de línguas diferentes o habitam e constituem um como epítome da humanidade. Em suma, é lícito afirmar que a Rússia é o maior império do mundo em continuidade territorial.
A cismática Igreja russa de Moscou se julga a si a terceira Roma. Já declarava o metropolitano Zózimo (1462-1533), no cânon pascal de 1492: “Cairam duas Romas, Moscou há de ser a terceira, e quarta não haverá”. Desde então vem se fortalecendo a idéia da terceira Roma. Em 1512 o monge Filotéio de Pskov, em A História do Mundo, dava ao cap. XII do Apocalipse esta interpretação espantosa:
A mulher vestida de sol […] abandonará a velha Roma, por causa dos ázimos. […] Ela foge para a nova Roma, mas lá também não encontrará a paz; foge então para a terceira Roma, que se localiza na grande e nova Rússia; agora a Igreja una e apostólica resplende por todo o universo, mais brilhante que o sol, e somente o tzar a guia e protege.
Ivan III o Grande (1462-1533) e Ivan IV o Terrível (1533-1584) estimularam bastante essa idéia. Por isso não é acaso que o inimigo do gênero humano tenha escolhido a Rússia como ponto de partida para disseminar sobre o planeta as instituições e os costumes do ateísmo.
A Recusa de Pio XI
Entre setembro de 1930 e agosto de 1931, certamente Pio XI tomou conhecimento dos pedidos celestes sobre a devoção e a consagração da Rússia.
Todavia, o Papa Pio XI, ao lado das democracias ocidentais, estava comprometido desde 1922 com a política de abertura do leste, já esboçada por Bento XV. Ademais o Papa fez esta declaração assustadora: “Quando se trata de salvar alguma alma e impedir os grandes males que as põem a perder, Nós sentimos coragem de discutir com o diabo em pessoa.” Entretanto este não foi o pedido de Nossa Senhora.
A resposta ao pedido da Consagração da Rússia foi o silêncio; a partir de 1930-31, o Papa calou até mesmo as alusões aos acontecimentos de Fátima.
Depois da recusa do Papa Pio XI, Nosso Senhor disse à Irmã Lúcia, numa comunicação íntima em agosto de 1931, em Rianjo: Participa aos Meus ministros que, dado seguirem o exemplo do rei de França na demora em executar o Meu mandato, tal como a ele aconteceu, assim o seguirão na aflição.
Empreendeu-se nova tentativa no final de março de 1937: Mons. Corrêa da Silva, bispo de Leiria-Fátima, escreveu diretamente ao Papa, que acabava de lançar a magnífica encíclica Divini Redemptoris (de 19 de março de 1937). Parece que esclarecido pelos fracassos nas negociações com o que chamava de “o triângulo terrível”, il terribile triangolo, o Papa mudava de atitude e declarava com firmeza:
O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir em campo nenhum a colaboração com ele, da parte de quem quer que deseje salvar a civilização cristã.
O momento parecia favorável à consagração da Rússia, mas a única resposta foi um silêncio semelhante ao de 1930-1931.
Se o Papa houvesse obedecido aos pedidos celestes, certamente a Rússia converter-se-ia e não aconteceriam a II Guerra Mundial nem a assustadora expansão do comunismo.
Bem ao contrário, foi no pontificado de Pio XI que Moscou começara a instruir os partidos comunistas para que enviassem militantes aos seminários católicos, a fim de infiltrar a Igreja e miná-la por dentro. É perigoso ignorar os planos celestes de salvação e as manobras do inimigo.

As consagrações de Pio XII
Pio XI morreu em 10 de fevereiro de 1939.
Em 21 de janeiro de 1940 Irmã Lúcia propôs ao confessor, o Pe. Gonçalves, renovasse ante a Santa Sé o pedido de Consagração da Rússia. Em abril de 1940 transmitiram o recado a Pio XII. Pensava Pe. Gonçalves que o Papa realizaria a consagração em maio; era lícito esperar tal atitude do novo pontífice, pois que ele era mui devoto da Santíssima Virgem e benevolente às aparições de Fátima. Mas não houve reação em Roma.
A consagração do mundo de 1942
Por iniciativa do Mons. Manuel Ferreira, bispo titular de Gurza, decidiram os diretores espirituais de Lúcia em setembro e outubro de 1940 intentar um novo esforço perante o Santo Padre, apresentando-lhe um requerimento mais factível: a consagração do mundo, com especial menção à Rússia. Mons. Ferreira ordenou Lúcia a escrever ao Papa Pio XII e formular este novo pedido que, sendo diferente do de Nossa Senhora, mergulhou-a em grande perplexidade. Em busca de nova luz Irmã Lúcia recorreu instante à oração. Eis a narração do fato:
22 de outubro de 1940. Recebi uma carta do Pe. Gonçalves e do bispo de Gurza, ordenando-me a escrever a Sua Santidade… Neste sentido, passei duas horas diante de Nosso Senhor exposto [e recebi a seguinte revelação]:
“Reza pelo Santo Padre, sacrifica-te para que o coração dele não sucumba sob a amargura que o oprime. A tribulação continuará e aumentará. Eu punirei os crimes das nações com a guerra, a fome e a perseguição à minha Igreja, que pesará especialmente sobre meu Vigário sobre a terra. Sua Santidade conseguirá que esses dias de tribulação sejam abreviados se ele obedecer aos meus desígnios e fazer o ato de consagração com especial menção à Rússia, ao Imaculado Coração de Maria.
Em 31 de outubro de 1942 o Papa Pio XII realizou a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria e renovou-a em 8 de dezembro de 1942. O texto não fazia menção explícita à Rússia, tão-só uma alusão velada, mas de suficiente transparência, à pobre nação.
CONSAGRAÇÃO DA IGREJA E DO GÉNERO HUMANO AO CORAÇÃO IMACULADO DE MARIA
Papa Pio XII mais tarde fixaria a celebração do Imaculado Coração de Maria em 22 de agosto, conferindo a ela a dignidade de festa de segunda classe.
A misericórdia divina outorgou o prometido fruto da consagração: mostra-nos o exame objetivo da história que, em todas as frentes de batalha, houve uma reviravolta decisiva em favor dos Aliados nos meses finais de 1942 e iniciais de 1943; decerto tal reviravolta permitiu a abreviação da duração da II Guerra Mundial.
É preciso recordar que, em 1941, Pio XII – sob a pressão de Roosevelt, que ansiava ingressar na guerra ao lado da Inglaterra e também de Stalin – admitiu que a hierarquia católica calasse a perversidade intrínseca do comunismo e a impossibilidade de colaborar com ele. Em câmbio prometeu-se convocar a Igreja para participar do esforço de reconstrução do pós-guerra. Certamente o silêncio de Pio XII facilitou em muito o trabalho da maçonaria na organização da nova ordem, que previa entregar todo o leste europeu ao comunismo, o qual fortalecido em sua nova posição avançaria mais tarde em direção à Ásia: China, Vietnã, Camboja, etc.
A encíclica Sacro Vergente Anno de 1952
Neste ínterim o céu manifestava-se ao Papa: nos dias 30 e 31 de outubro, 1 e 8 de novembro (dias circumpostos à data da definição solene do dogma da Assunção, em 1 de novembro) de 1950, o Santo Padre viu dos jardins do Vaticano a renovação do milagre do sol de 13 de outubro de 1917, então Pio XII consagrou de forma explícita a Rússia em 1952, mas não mandou os bispos do mundo católico fazerem e não recomendou a devoção reparadora dos 5 Primeiros Sábados conforme foi pedido.
Pio XII escreve uma Carta Apostólica aos Povos da Rússia, em que declara: "Nós consagramos e de uma forma mais especial confiamos todos os povos da Rússia a este Imaculado Coração."
Após Sacro Vergente Anno, o Santo Padre quase já não falava de Fátima. Os adversários da aparição, por seu turno, à imitação do Pe. Dhanis, exerciam cada vez mais influência, bem como os que se opunham à doutrina de Maria Medianeira. A partir de então se restringiram as visitas à Irmã Lúcia: “O Papa decidiu que somente pessoas que já a houvessem visitado poderiam vê-la sem autorização expressa da Santa Sé.” Começava-se a impor o silêncio à mensageira do céu.
No entanto convém precisar um ponto importante: se por interesses da política americana Pio XII teve por bem calar a Divini Redemptoris – com as consequências incalculáveis que tal silêncio acarretou –, ele rejeitava qualquer tipo de colaboração com Moscou.
Qual não foi a sua dor quando, em outubro de 1954, provou-se que Mons. Montini, o futuro Paulo VI, então secretário substituto da Secretaria de Estado, mantinha à socapa conversações secretas com o Kremlin. Pio XII decidiu afastar logo Montini, mas como sempre estivesse disposto a refrear o falatório, elevou-o a um cargo honorífico – arcebispo de Milão – sem contudo nomeá-lo cardeal. Desta forma excluía-se Mons. Montini do próximo conclave, mas infelizmente ele foi alçado a um posto bem conveniente ao que lhe reservava o futuro.
Depois de Pio XII a situação complicou-se, à medida que os papas de espírito liberal e modernista ocuparam a Sé de Pedro; mais que nunca iria concretizar-se o alerta de Nosso Senhor:
Participa aos Meus ministros que, dado seguirem o exemplo do rei de França na demora em executar o Meu mandato, tal como a ele aconteceu, assim o seguirão na aflição [Nosso Senhor à Irmã Lúcia, em agosto de 1931.]
A Igreja entrava numa crise sem precedentes na história, e a sua finalidade era a punição da hierarquia. Imbuidos dos ideais modernos, os novos "papas" ficaram muito pouco à vontade com a mensagem catolicíssima da Virgem Maria em Fátima.
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