Uma Senhora mais brilhante que o sol - PADRE JOÃO DE MARCHI



A IRMÃ LÚCIA NO QUINTAL DA CASA PATERNA COM O AUTOR DO LIVRO, PADRE JOÃO DE MARCHI, E AS SOBRINHAS
1ª Aparição de Nossa Senhora ocorrida em 13 de Maio de 1917

“Era uma Senhora mais brilhante que o sol …” é o título do livro escrito por Padre João de Marchi que nas suas 319 páginas, fala a respeito das Aparições de Fátima e dos três pastorinhos, Lúcia de Jesus dos Santos e seus primos Francisco Marto e Jacinta Marto (na foto, na mesma ordem a partir da direita).  No trecho abaixo, está o relato da 1ª Aparição de Nossa Senhora ocorrida em 13 de Maio de 1917:

… Os sinos a repicar na igreja da Fátima chamando para a Missa, diziam-lhes que o meio-dia estava perto. Abriram então os farnéis melhorados pela sra. Maria Rosa e a sra. Olímpia com qualquer coisita a mais em honra do dia; benzeram-se, recitaram um Pai-Nosso pelas almas das suas obrigações e comeram, conservando, todavia, uns restos para mais tarde, antes de se porem a caminho da casa. Deram graças e, tirando o terço do bolso, puseram-se a rezá-lo.

Do Céu a Virgem devia atender, nesse dia, com particular ternura aquela prece inocente.
Enxotaram, em seguida, as ovelhas mais para o alto e lá foram a construir talvez a sua centésima casa. O Francisco, o homenzinho, é arquiteto e pedreiro; a irmãzita e a prima, serventes. Uns minutos apenas e já uma paredita forma um círculo em torno duma moita. E a construção teria prosseguido; nem ao hábil mestre de obras falta a iniciativa, nem às ajudantes robustez de músculos para acarretar as pedras…

Mas eis que o reflexo vivíssimo duma luz, que os pastorinhos por falta de outros termos mais apropriados chamarão relâmpago, vem estorvar os seus interessantes projectos, as suas construções.

Os pequenos, largando as pedras, entreolham-se assustados: sabem que aos relâmpagos se seguem trovões. Levantam os olhos para o céu a interrogá-lo.
Nem do Nascente, nem do lado de Santa Catarina o mínimo indício de temporal: não há a mais tênue nuvem a empanar a imensidade azul de cobalto; não sopra a mais leve aragem.

Um sol esplendoroso, uma atmosfera quente, uma calma grave.

Lúcia, como sempre, comanda as manobras:
— É melhor irmo-nos embora para casa. Estão a fazer relâmpagos e pode vir trovoada.
— Pois sim — concordam os primos.
Outro clarão mais forte, mais intenso lhes tolhe os movimentos. Quais autômatos, avançam uns passos e movidos, sem saber porque, espontânea e simultaneamente, voltam-se para a direita.
Sobre a copa duma pequena azinheira uma aparição celeste barra-lhes o horizonte. No auge da surpresa, continuam imóveis, envoltos na luz que a visão irradia.
Era uma Senhora vestida de branco — assim no-la descreve a Lúcia —mais brilhante que o sol, espargindo luz mais clara e intensa que um copo de cristal cheio de água cristalina, atravessado pelos raios mais ardentes do sol.

Surpreendidos pela Aparição, os pequenos fixam os olhos extasiados na doce Senhora que com voz suavíssima, toda maternal, os tranquiliza:
— Não tenhais medo, Eu não vos faço mal.
E sorri-lhes tristemente, como que a censurar-lhes esta falta de confiança nela, a dulcíssima Mãe do Céu. Lúcia, então, anima-se a perguntar-lhe:
— Donde é Vocemecê?
— Sou do Céu.
E a bela Senhora ergue a mão a indicar o firmamento azul, por detrás do qual se escondia a sua morada de luz.
— E que é que Vocemecê me quer? — continua Lúcia, mais afoita.
— Vim para vos pedir que venhais aqui, seis meses seguidos, no dia 13, a esta mesma hora. Depois direi quem sou e o que quero. E voltarei aqui ainda uma sétima vez.
Uma Senhora que vinha do Céu — pensa a Lúcia. O Céu!… Como devia ser lindo o Céu!
— E eu também vou para o Céu ?
A voz agora treme-lhe levemente.
— Sim,  vais — assegura-lhe  a   Senhora.
— Que  bom! — diz  consigo a Lúcia.
Mas mesmo assim, não quer ir sozinha para o Céu. E pensa, em primeiro lugar, nos primitos.
— E a Jacinta?
— Também.
O coração da Lúcia dilata-se a ponto de parecer estalar-lhe.
— E o Francisco?
— Também irá, mas terá de rezar muitos terços.
Desta vez os olhos puríssimos daquela visão resplandecente poisam sobre o zagalete, numa magoada censura de qualquer coisa que a nós não é dado conhecer. Falta desconhecida?… Habituados a ver as coisas com os nossos olhos carnais que só veem as grandes manchas, não sabemos que os olhos de Deus, também no Oceano de luz que é o sol, encontram sombras.
Embora atingido pela mesma claridade que envolvia a Lúcia e a Jacinta,, Francisco ainda não via a divina Aparição. Ouvia, sim, a Lúcia falar, mas nada da voz da Senhora.
O pensamento do Céu é o que mais absorve a Lúcia. O Céu!… Ela estava já segura de lá chegar um dia, e os primitos também… Que bom! Mas logo uma dúvida a atormenta. Recentemente tinham falecido duas raparigas de Aljustrel que frequentavam a sua casa para aprender com as irmãs a coser e a tecer.
— E a Maria do Rosário do José das Neves está no Céu? —pergunta .ansiosa.
— Sim — respondeu a Senhora.
— E a Amélia?
— Ainda está no Purgatório.
Que tristeza! E os olhos da Lúcia enchiam-se de lágrimas. É então que .a Senhora, qual mãe amargurada, pede aos pequenos:
— Quereis oferecer-Vos a Deus para suportar todos os sofri¬mentos que Ele quiser mandar-vos, em acto de reparação pelos pecados  com  que  é  ofendido  e  de  súplica  pela  conversão  dos pecadores?
Por todos, respondeu a Lúcia com decidida singeleza:
— Sim, queremos!
Desde aquele momento os três pastorinhos começaram a ser heróis.
— Ides pois ter muito que sofrer, mas — promete a Senhora — a graça de Deus será o vosso conforto.
Ao pronunciar estas palavras —comenta a Lúcia — abriu as mãos comunicando-nos uma luz muito intensa — como um reflexo que delas expedia penetrando-nos no peito e no mais íntimo da alma e fazendo-nos ver a nós mesmos em Deus, que era essa luz, mais claramente do que nos vemos num espelho. Então, por um impulso íntimo também comunicado, caímos de joelhos e repetimos intimamente:
Ó Santíssima Trindade, eu Vos adoro. Meu Deus, meu Deus, eu Vos amo no Santíssimo Sacramento.
Ficaram assim instantes naquele mar de luz em que a Virgem os tinha mergulhado.
— Rezai o terço todos os dias — acrescenta a branca Senhora. — para alcançar a paz para o mundo e o fim da guerra.
O que é a guerra?… o que é a paz?… Os pequenos talvez não o saibam: mas a Virgem lê de novo nos seus coraçõezinhos e nos olhos inocentes, deslumbrados, o consentimento.
E assim terminou o primeiro colóquio da bondosa Rainha do Céu com os três serranitos portugueses.
Começou então — continua a Lúcia — a elevar-se serenamente, subindo em direcção do Nascente, até desaparecer na imensidade do espaço, circundada duma vivida luz que ia como que abrindo caminho no cerrado dos astros.

Os pequenos permaneceram ainda algum tempo encantados, de olhar cravado no Céu, no ponto em que se sumira a Celeste Visão.

Quando voltaram a si e olharam em volta, em procura do gado, qual não foi a sua alegria, observando que as ovelhas, tran¬quilamente, iam roçando à sombra das azinheiras as ervinhas cres¬cidas entre o tojo.
Sem mais receio de trovões, passaram a tarde naquela Cova abençoada, relembrando e saboreando os mínimos particulares do extraordinário acontecimento.

Uma exuberante alegria enchia a alma e transbordava do coração da Jacinta; uma alegria mesclada de tristeza fazia de vez em quando calar pensativa a Lúcia.

Livro "Era uma Senhora mais brilhante que o sol", de Pe. João M. de Marchi, I.M.C. – Edição do Seminário de Missões de Nossa Senhora de Fátima – Cova da Iria – Portugal

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